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Antes da 1ª Libertadores, Felipão lutava contra fama de ‘violento’

Em 1995, já bem perto de conquistar a América pelo Grêmio, Scolari ainda tentava se esquivar de pechas negativas e rebatia até mesmo Telê Santana

Aos 73 anos, Luiz Felipe Scolari tentará fazer história neste sábado, 29, na finalíssima da Libertadores diante do Flamengo, em Guayaquil. Apontado como velho demais para o futebol ao final de 2021, após breve e frustrada passagem pelo Grêmio, o técnico pode consolidar no Equador uma improvável volta por cima antes de anunciar a iminente aposentadoria na função à beira do gramado – já que deve virar executivo no próximo ano.

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Dono de um currículo invejável com uma Copa do Mundo, duas Libertadores, dois Brasileiros, quatro Copas do Brasil e mais de uma dezena de estaduais, o treinador já foi contestado por sua metodologia durante o vitorioso trabalho no clube gaúcho.

Na edição de PLACAR de setembro de 1995, em entrevista a Paulo Vinícius Coelho, Felipão tentava se esquivar de uma sombra: a fama de violento, de incentivar os seus jogadores a intimidar adversários com entradas duras.

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Nem mesmo os títulos do Gauchão, da Copa do Brasil e o fato de ter chegado às finais da Libertadores eram capazes de conter a polêmica sobre o estilo genuinamente gaúcho de jogador futebol.

Curiosamente, dias depois da edição, ele levantaria o título da competição após superar o Atlético Nacional, da Colômbia: 3 a 1 no primeiro jogo e 1 a 1 na decisão.

Na reportagem, Felipão ainda responde diretamente a Telê Santana, técnico mais respeitado do país à época, que disse que ele havia sido “um jogador medíocre e violento” e que “seus times são um espelho dos tempos como jogador.

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“Telê não olha o próprio rabo. Quando era do Grêmio, em 1977, ele contratou o zagueiro Oberdã só para dar porrada”, rebateu Scolari. Acompanhe a matéria na íntegra:

Tudo azul, Felipão

O técnico do Grêmio, Luiz Felipe, é um alquimista. Levou um time limitado às finais da Libertadores, da Copa do Brasil e, com uma equipe reserva, ficou com o Gauchão. Mas a fama de violento o persegue

Desde os tempos de zagueiro do Caxias, Juventude e Grêmio, Luiz Felipe Scolari provocava polêmica. Dividia opiniões entre os que o julgavam um zagueiro eficiente, de marcação dura, e quem só via violência em seu futebol. A mistura das duas correntes originou o apelido que persistiu até 1982, quando abandonou os gramados: Felipão.

Tudo azul, Felipão, título da edição de setembro de 1995 -
Tudo azul, Felipão, título da edição de setembro de 1995 –

O vigor dos tempos de jogador virou a marca registrada na carreira de técnico, iniciada há treze anos no CSA de Alagoas. A polêmica também continua a mesma. Não deixa de ser surpreendente um técnico que arrisca jogar todo o Campeonato Gaúcho com uma equipe reserva. Mesmo assim, o time ganhou o título estadual, recuperou o prestígio internacional com a boa campanha na Libertadores e levou Luiz Felipe ao melhor momento de sua carreira.

Virou unanimidade no Sul do país, com um estilo genuinamente gaúcho de jogar futebol. A opção preferencial pela virilidade fez alguns desafetos qualificarem Luiz Felipe como “regional demais para o futebol brasileiro”. Nessa entrevista, ele fala sobre tudo isso, mas deixa claro que mantém intacta sua principal característica: a polêmica.

Como você inicia uma preleção antes de uma partida decisiva? Abro dizendo o que o jogo representa para a carreira de cada um dos jogadores, tanto no plano imediato quanto para o futuro. Depois eu mostro quais as qualidades e os defeitos do adversário. Quais são seus pontos fortes e fracos. Onde podemos ganhar ou perder a partida.

Você é um técnico que dá broncas em público e não tem medo de criticar seu time nas entrevistas. A sinceridade é o seu segredo? Acho que sim. Para isso, é necessário que os jogadores entendam o treinador. Conquista-se isso fazendo também elogios em público. Os atletas precisam se sentir prestigiados. Eu cobro, participo e exijo muito. E preciso fechar os olhos para algumas coisas. Fingir que está sendo enganado. Essa é a fórmula para manter um bom relacionamento.

Quantos palavrões você fala em uma preleção? Nem sei dizer. Medir não dá, mas eu falo muitos mesmo. No jogo também. Principalmente em erros de jogadores meus. Um palavrão é uma explosão de raiva, serve para corrigir erros.

Alguma vez essa rispidez feriu algum jogador? Algumas vezes já percebi que exagerei. Lembro-me de um caso, quando eu trabalhava no Al Qadsia, do Kuwait. Expressei-me mal em inglês. Tentava falar para os jogadores sobre a necessidade de brigar em um jogo como em uma guerra. Se do outro lado estivesse um familiar, seria necessário superá-lo a qualquer custo. Isso feriu os princípios dos jogadores e por pouco não estraguei o ambiente.

Felipão: 'se sentirem que o adversário entrou por cima, mando pôr o pé ainda mais alto' -
Felipão: ‘se sentirem que o adversário entrou por cima, mando pôr o pé ainda mais alto’ –

Palavrões, rispidez, sinceridade. Esse é o perfil ideal para um treinador dar certo em um time gaúcho? Não necessariamente. Temos alguns gentlemen no Rio Grande do Sul. Um exemplo é o Otacílio Gonçalves, que dificilmente diz palavrão. Eu e o Cláudio Duarte, pelo contrário, temos um jeito mais explosivo. Além disso, no Sul somos obrigados a jogar embaixo de chuva, de neve, no meio do barro… Isso induz os treinadores a serem diferentes dos cariocas, por exemplo. No Rio, os técnicos são mais maleáveis. Lá os jogadores precisam de praia, do futevôlei…

Nos tempos de Caxias, você era chamado de Felipão, em alusão à sua virilidade. Você se considerava um jogador violento? Eu fui expulso quatro vezes na vida. Três vezes pelo mesmo juiz e por reclamação. A outra expulsão, sim, aconteceu por uma entrada violenta. Eu tinha artimanhas para não deixar os atacantes entrarem na área. Como era fraco tecnicamente, tinha que mostrar mais qualidades do que meu companheiro.

O Grêmio é na imagem do Luiz Felipe jogador? Enfim, o que você acha da fama de que seu time é violento? O Grêmio é um time que marca forte, porque não tem jogadores capazes de decidir uma partida em um lance. A fama de violência surgiu quando enfrentamos clubes de expressão. Mas não houve lances violentos. Contra o Palmeiras, o Dinho foi expulso por revidar um chute do Antônio Carlos no Arílson. Ele ficou com fama de violento e as pessoas devem pensar que o Antônio Carlos chamou o Arílson de “bonito”. Veio o jogo contra o Flamengo. O Dinho foi tentar pegar a bola e fez falta no Sávio. Acabou expulso. Tanto não foi uma falta violenta que o Sávio continuou correndo feito maluco e fez um gol. Contra o Corinthians deram de manchete: “O Grêmio fez 22 faltas no primeiro tempo”. Só que no final nós fizemos trinta e o Corinthians, 32. Aí, violentos somos nós.

No ano passado os repórteres do Rio diziam que você fazia sinais, batendo uma mão na outra em forma de tesoura, indicando a seus jogadores para darem pontapés no Sávio. É verdade? Não. Isso foi dito por um repórter. No lance que originou essa interpretação eu falei para o nosso lateral dar o campo para o Sávio e… (batendo forte com uma mão na outra) dar o carrinho, jogando a bola para lateral.

Você nunca mandou um jogador seu dar pontapés? Não. Eu digo para eles entrarem duro, marcarem forte. E, se sentirem que o adversário entrou por cima, mando pôr o pé ainda mais alto.

O Palmeiras se queixou da violência do Grêmio na derrota por 5 a 0 pela Libertadores. O que você tem a dizer sobre isso? Violento foi o Palmeiras, que veio preocupado com a fama de violento do Grêmio. Achavam que precisavam ser valentes. Rivaldo pensou que o Rivarola vinha com maldade e entrou com a perna por cima. Foi expulso, da mesma forma que o Dinho e o Válber tiveram expulsões normais. Anormal foi a briga entre os dois atrás do gol.

O que é melhor: ganhar jogando feio, como Brasil tetracampeão do mundo, ou perder jogando bonito? Eu prefiro ganhar jogando feio. Hoje o Zagallo está conseguindo dar um padrão bonito à seleção brasileira porque tem uma geração de jogadores jovens e muito bons. Na época da Copa o mérito do Parreira e do Zagalo foi o de conscientizar os jogadores de que com aquele esquema o Brasil seria campeão. Eu sou fã do Parreira.

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