‘Saudosismo vai matar o Santos’, desabafa CEO do clube
Dirigente não deu pistas sobre quem será o substituto do técnico Pedro Caixinha e fez duras críticas ao atual momento do clube
Pedro Martins, CEO do Santos, concedeu uma impactante entrevista coletiva nesta terça-feira, 15, na Vila Belmiro, um dia depois da demissão do treinador Pedro Caixinha. O dirigente não anunciou o novo técnico e cobrou maior profissionalismo em todos os setores do clube. Segundo Martins, o apego ao passado tem sido prejudicial ao Peixe.
“O Santos é um clube que precisa ter muito orgulho do seu passado, muito mesmo, é o que está moldando a identidade desta instituição, mas precisa saber diferenciar orgulho do passado de saudosismo. O saudosismo vai matar o Santos“, cravou Pedro Martins, que está há 100 dias no cargo.
“O orgulho do passado precisa pavimentar o caminho para o futuro desta instituição. O caminho do futuro do Santos está na busca de um novo estádio, na reconstrução da sua infraestrutura, na formatação de uma categoria de base que seja protagonista no futebol brasileiro, nos esforços que precisam acontecer para que a equipe feminina volte a representar o valor histórico do Santos”, prosseguiu.
Pedro Martins se negou a falar sobre um possível substituto de Caixinha, e disse que a saída do treinador português foi “uma derrota para todos nós, da instituição”. “É um passo atrás com relação ao que a gente pensa de projeto desportivo para esta instituição. E, por isso, a gente vai tomar o tempo necessário para escolher o novo comandante.”
O CEO ainda destacou as dificuldades financeiras e a baixa arrecadação com bilheteria do clube em jogos na Vila Belmiro. “Com o que o Santos fatura, o Santos não está entre as principais equipes do futebol brasileiro. Muito pelo contrário. Está longe disso”, disse. “Perante os seus competidores, em estrutura de receita, a gente quase que abre mão de alguns pilares fundamentais. E o dia de jogo é um deles. Se a gente não lidar com os problemas crônicos desta instituição, a gente vai ficar olhando para os problemas agudos e reclamando deles.”
Martins avaliou que a indústria do futebol brasileiro evoluiu, enquanto o Santos “parou no tempo.” “Para que a gente consiga fazer o Santos campeão, a gente precisa entender o que fez com que o Santos caísse, por que o Santos caiu de divisão, o que aconteceu com a instituição. Um clube deste tamanho não cai de divisão à toa.”
Confira mais aspas da entrevista de Pedro Martins:
“Tem muito clube fazendo melhor, investindo mais, estando mais organizado. O primeiro ponto para a gente fazer diagnóstico e dar remédio correto para o paciente é a humildade. Somente assim a gente vai conseguir ser grande.
“Seria muito mais confortável vir aqui e falar que o Santos é um clube gigante e que a gente vai fazer o que for necessário para ganhar os próximos jogos. É o famoso ‘aqui sempre foi feito assim’. Este é o grande embate que a gente tem com a mudança de cultura. Mudar cultura de uma organização não é fácil, nem simples. Mas, se o Santos quiser ser competitivo perante os outros clubes, olhando o que os outros clubes estão fazendo, analisando não só a capacidade de investimento, mas a maneira com que eles trabalham, a gente precisa mudar a cultura.”
“Sei que é muito mais confortável, a gente vai ficar aqui falando de quem é o próximo treinador do Santos ou quem são os jogadores que o Santos vai contratar. Mas eu prefiro tratar do problema crônico, e não do agudo. O problema o crônico é o que nós vamos fazer para que o Santos seja um clube que forme equipes vencedoras todos os anos, e não o que a gente vai fazer para ter uma equipe vencedora somente este ano.”
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“O clube não pode normalizar processo de demissão de treinador. Se a gente achar que é normal toda hora que a gente tiver três insucessos a gente tem que trocar o treinador, tem alguma coisa muito errada dentro do clube, não pode ser normal. É um fracasso para todos do Santos.
“Este elenco do Santos, apesar de toda essa reestruturação, é competitivo. Este elenco tem toda a competência e a capacidade de fazer uma grande temporada. Existe uma diferença entre analisar os grandes problemas desta instituição, que precisam ser corrigidos, mas o ponto emergencial é fazer o elenco jogar da maneira que pode. Este time pode render muito mais, e os jogadores sabem disso. Eles precisam também assumir a responsabilidade deles.”
Quem é Pedro Martins, CEO do Santos
Contratado em janeiro pelo presidente Marcelo Teixeira, Pedro Martins foi diretor de futebol do Botafogo nas conquistas do último Brasileirão e da Copa Libertadores.
Antes, foi vice-presidente de competições da Federação Paulista de Futebol (FPF), e trabalhou na Ferroviária de Araraquara, no Athletico-PR, no Cruzeiro, no Olé Brasil, no Queen Park Rangers-ING e no Vasco.
