Rebeca Andrade termina em quinto no solo; americana Jade Carey é ouro
Ginasta brasileira de 22 anos encerra sua histórica participação nos Jogos de Tóquio com mais uma bela apresentação na Arena Ariake
Rebeca Andrade já havia alcançado a melhor campanha de um atleta brasileiro, entre homens e mulheres, numa mesma edição olímpica ao conquistar a medalha de ouro na prova de salto e a prata no individual geral dos Jogos de Tóquio. Ela queria mais, e, por pouco, não conseguiu. Em uma final de altíssimo nível na manhã desta segunda-feira, 2, a ginasta de 22 anos terminou na quinta colocação na prova de solo, na Arena Ariake, na capital japonesa.
A medalha de ouro ficou com a americana Jade Carey, com a nota de 14.366, seguida pela italiana Vanessa Ferrari, com 14.2000. A russa Angelina Melnikova e japonesa Murakami Mai empataram com a nota de 14.166, e subiram juntas ao pódio para receber a medalha de bronze.
Novamente ao som de uma versão instrumental de Baile de Favela, funk de McJoão, a jovem nascida em Guarulhos (SP) fez uma belíssima apresentação, mas foi punida ao colocar um pé para fora do tablado, e terminou com a nota de 14.033 no quinto lugar.
Rebeca encerrou, assim, uma participação histórica para o esporte brasileiro. “Estou muito feliz com todas as apresentações que fiz desde o primeiro dia, é uma alegria que vem de dentro para fora mesmo. Conquistei duas medalhas inéditas com muito esforço e muito suor de muita gente”, afirmou Rebeca à Rede Globo logo após a prova.
A ausência de Simone Biles, maior estrela dos Jogos de Tóquio, foi novamente sentida. A atleta americana perdeu as últimas provas, em razão de um problema de saúde mental. A maior estrela da ginástica mundial, porém, anunciou que disputará a prova de trave na próxima terça, 3.
Rebeca Andrade se consolidou como uma nova estrela do esporte nacional. Filha da empregada doméstica Rose Andrade e de pai ausente, ela cresceu em condições humildes na periferia de Guarulhos (SP). Começou a treinar ginástica com apenas quatro anos em um projeto social da prefeitura da cidade e logo ganhou o apelido de “Daianinha de Guarulhos”, por sua semelhança com Daiane dos Santos, estrela da ginástica nacional na época. Com apenas nove anos, Rebeca se mudou para o Rio de Janeiro para defender o Flamengo e a seleção brasileira e logo confirmou as altas expectativas.
Rebeca venceu seis etapas de Mundial a partir de 2017, mas sofreu para chegar a Tóquio. Em meados de 2019, ela rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho pela terceira vez em quatro anos. Os problemas físicos, somados aos adiamentos causados pela pandemia da Covid-19, atrapalharam sua preparação e a tiraram de três dos quatro campeonatos mundiais deste ciclo.
Para chegar à redenção em Tóquio, Rebeca participou do programa Missão Europa, organizado pelo Comitê Olímpico do Brasil para driblar as restrições impostas pela pandemia no Brasil, e após um intenso período de treinos em Portugal, garantiu sua passagem individual para Tóquio apenas no mês passado ao vencer o Campeonato Pan-Americano de ginástica.
Recorde histórico
Antes de Rebeca Andrade, apenas outros cinco brasileiros haviam conquistado duas medalhas numa mesma edição. Os mais recentes foram Isaquias Queiroz, da canoagem, com um bronze e uma prata na Rio-2016 e os nadadores César Cielo com um e uma prata em Pequim-2008, e Gustavo Borges, prata e bronze em Atlanta-1996.
Há mais de um século, na primeira participação do país, nos Jogos Olímpicos de 1920 na Antuérpia, na Bélgica, dois representantes do tiro chegaram ao pódio duas vezes. Guilherme Paraense conquistou o primeiro ouro do país, além de um bronze por equipe, junto de Afrânio da Costa, que também retornou ao país com uma prata.
Rebeca também se juntou a Maurren Maggi, do atletismo, e às judocas Sarah Menezes e Rafaela Silva como únicas mulheres brasileiras a conquistar o ouro em uma modalidade individual. Agora, voltará a Guarulhos para os braços da mãe Rose, com o habitual sorriso no rosto, na condição de lenda do esporte nacional.