Com poucas opções de negócio (por culpa da Copa), times brigam para entrar na lista dos patrocinados por banco estatal. E pressões políticas podem ajudar
“O Santos entregou uma proposta para a Caixa Econômica e temos feito todo o esforço para que ela possa nos escolher. Ela tem tido uma tendência de escolher times do Norte e do Nordeste. Mas estamos fazendo bastante pressão”, disse o presidente do clube paulista
Para os clubes, a contagem regressiva para a Copa do Mundo no país foi acompanhada por um fenômeno indesejável: a escassez de empresas dispostas a acertar contratos de patrocínio com as equipes das séries A e B do Campeonato Brasileiro. De acordo com os especialistas em marketing esportivo, quase todos os investimentos no futebol foram direcionados para o Mundial – as grandes empresas preferiram fechar acordos com a própria Fifa ou com a CBF, ou ainda promover ações que tentam pegar carona no evento, mesmo que sem um patrocínio oficial. A alternativa que sobrou aos clubes foi a Caixa Econômica Federal, que em 2013 multiplicou seus contratos de patrocínio com as equipes e entrou em 2014 gastando cerca de 100 milhões de reais por temporada com esses acordos. Com sua marca na camisa de três das cinco equipes mais populares do país (Flamengo, Corinthians e Vasco), o banco estatal deverá fechar com mais um integrante desse pelotão de elite, o Palmeiras. Assim, apenas o São Paulo, patrocinado pela Semp Toshiba (empresa que já falou em romper o acordo, já que enfrenta problemas financeiros), ficaria de fora da gastança do banco estatal.
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Sem patrocínio master fixo desde abril do ano passado, o Palmeiras espera obter Certidões Negativas de Débito, que garantem que o clube não tem dívida fiscal ativa, para conseguir assinar com a Caixa. O contrato é estimado em 25 milhões de reais por uma temporada (renovável por mais um ano). Nos bastidores do clube, comenta-se que o negócio foi viabilizado por causa da preferência de dois auxiliares poderosos da presidente Dilma Rousseff. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, são palmeirenses fanáticos e teriam ajudado a encaminhar a negociação. A Caixa nega influência política no fechamento dos patrocínios, dizendo que os acordos obedecem apenas a interesses comerciais. São frequentes, porém, os relatos de pedidos de políticos e autoridades em favor de seus clubes. A começar pelo próprio presidente do banco, Jorge Hereda, que é torcedor do Bahia – o próprio site do clube noticiou que ele negociava um acordo para 2014. Já o ASA de Arapiraca conseguiu fechar com a Caixa depois que o senador Fernando Collor de Mello intermediou o negócio. O próprio Collor confirma seu papel no acerto, que valeu 1 milhão de reais à modesta equipe alagoana.
Outro ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, é sempre citado quando se comenta sobre o contrato obtido pelo Corinthians pouco antes do Mundial de Clubes, depois de a equipe passar mais de um semestre inteiro sem patrocínio. A equipe paulista tem o maior contrato entre todos os clubes que fecharam com a Caixa: 30 milhões de reais por ano para estampar a marca do banco no peito e nas costas. Tanto Lula como a Caixa garantem que não houve nenhuma influência do petista no fechamento do acordo. A impressão que fica para os demais clubes, no entanto, é de que existe, de fato, um peso político nas escolhas do banco – o que leva quem está sem patrocínio a fazer um lobby agressivo para conseguir fechar com a Caixa. Nesta semana, em reunião do Conselho Deliberativo do clube paulista, o presidente em exercício Odílio Rodrigues falou abertamente em fazer pressão para arrancar um contrato com o banco estatal. “O Santos entregou uma proposta para a Caixa Econômica e temos feito todo o esforço para que ela possa nos escolher. Ela tem tido uma tendência de escolher times do Norte e do Nordeste, por preços menores. Mas estamos fazendo bastante pressão.”