Obcecado por títulos, Mourinho ‘ressuscita’ na Roma por conquista inédita
Grande atração da final da Conference League nesta quarta, diante do Feyenoord, treinador português disse ter abandonado versão 'Special One'
José Mourinho em nada lembrava o Special One (O Especial, em tradução do inglês) — apelido que deu a si próprio ao chegar ao Chelsea após conquistar sua primeira Liga dos Campeões com o Porto —, quando foi dispensado pelo Tottenham em 19 de abril de 2021, a seis dias da final da Copa da Liga Inglesa. A demissão foi vista como um descenso na carreira do polêmico e vencedor treinador português. Agora, há quase um ano à frente da Roma, Mourinho parece reconquistar os holofotes do cenário europeu em busca de um título inédito, a Conference League, nesta quarta-feira, 24, às 16h (de Brasília) diante do Feyenoord, no Air Albania Stadium, em Tirana, na Albânia.
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O treinador de 59 anos assinou vínculo com a Roma em julho passado. Desde então, são 54 jogos, 28 vitórias e um saldo equilibrado de 51,85% de aproveitamento. A equipe terminou o Campeonato Italiano na 6ª posição e com vaga na próxima edição da Liga Europa.
A campanha até a final da Conference League nesta quarta-feira,25, diante do Feyenoord pode selar, em caso de vitória, o fim de um jejum duplo: da equipe italiana há 14 anos sem conquistar uma taça também de “Mou”, que não conquista um caneco desde 2016/17.
"When you work in Rome, you live in Rome, you breathe Rome and you breathe this club. I felt from the day I signed that they were a huge club."
🗣️ José Mourinho, Roma coach 🐺@ASRomaEN | #UECLfinal pic.twitter.com/h8Rr5AJnCT
— UEFA Conference League (@europacnfleague) May 23, 2022
A sanha por levantar títulos é um dos traços mais característicos do técnico que acumulou passagens de sucesso por Porto, Real Madrid, Chelsea e Inter de Milão durante a primeira década dos anos 2000. São 25 troféus no total, o que faz dele um dos maiores de todos os tempos.
Na biografia Mourinho Rockstar, publicada em 2015 pela editora Grande Área, o treinador nascido em Setúbal admitiu sua obsessão: “O meu modo de afirmação é só um: ganhar. E eu ganhei sempre” e em outro trecho, destacou: “Se não ganhasse, não teria nada de especial”.
Ex-meio campista sem grande destaque, Mourinho trabalhou como auxiliar e “tradutor” no Barcelona no fim da década de 90 e começou a ganhar projeção internacional como treinador nas duas temporadas que esteve à frente do Porto. No supertime que contava com Deco, Carlos Alberto, entre outros, foi bicampeão Português e da Taça de Portugal, campeão da Uefa-Cup (hoje Liga Europa), em 2002/03 e da Liga dos Campeões (2003/04).
Entre 2004 e 2007 assumiu o Chelsea, em sua primeira passagem. Os anos dourados renderam à José Mourinho o apelido de ‘Special One’. Além disso, se até hoje o português é conhecido por montar times taticamente mais defensivos, os Blues campeões da Premier League de 2004/05 foram o modelo perfeito. O time de Mourinho detém até os dias atuais o recorde de menos gols sofridos na história da competição (naquele ano levaram apenas 15 gols em 38 rodadas).
Mourinho é, ao lado de Carlo Ancelotti, o único técnico a conquistar as três principais ligas europeias (inglesa, com Chelsea; espanhola, com Real Madrid; e italiana, com Inter). Em outra passagem da biografia ‘Mourinho Rockstar’, o ídolo holandês Johan Cruyff (1947-2016), uma lenda do futebol como jogador e técnico, chegou a criticar Mourinho dizendo que não era um técnico de futebol, mas de títulos.
Ele respondeu: “Há dias alguém disse que sou um técnico de títulos e não de futebol. Obrigado. Gosto de ser um técnico de títulos”, ao vencer o Barcelona do Guardiola na final da Copa do Rei de 2011.
Seus trabalhos mais recentes antes de assumir a Roma foram no Manchester United e Tottenham. De um lado, a figura vitoriosa e do outro a frustração de não conseguia entregar resultados. Quando foi demitido do Tottenham, após uma sequência ruim de derrotas, foi a primeira vez que o técnico terminou uma passagem sem conquistar ao menos um título.
Afinal, sua maior ‘especialidade’ é chegar em decisões europeias: foram sete finais com quatro títulos — Copa da Uefa e Champions (com Porto, em 2002/03 e 2003/04), Champions (com Inter de Milão, em 2009/10) e Liga Europa (com o Manchester United, em 2016/17 — e três vice-campeonatos. Com a final de logo mais, pode se tornar o único a conquistar as três principais ligas europeias em vigor.
Hoje, aos 59 anos, o português diz se preocupar mais em enaltecer o coletivo, um lado oposto ao ‘antigo’, que sempre assumiu o protagonismo. “A história do Special One é velha. Eu estava no começo da minha carreira. Quando você ganha mais maturidade e estabilidade, pensa mais nas pessoas e menos em si mesmo. É uma história velha. Eu não acredito em mágica. Quando você chega a uma final após uma temporada de trabalho, o trabalho está feito. É o momento do time, não é o momento de um indivíduo”, disse o treinador em entrevista coletiva antes da finalíssima da Conference.