Eliminação do Botafogo fecha ano de vexames da CBF
Em 2024, calendário nacional prejudicou o campeão da Libertadores. Além disso, presidente Ednaldo enfrentou processo de impeachment e seleções de Dorival e Ramon fracassaram
O Botafogo foi eliminado da Copa Intercontinental, na última quarta-feira, 11, ao perder para o Pachuca, por 3 a 0. A derrota pesada passa inegavelmente pelo cansaço extremo do elenco, tendo em vista o calendário do futebol brasileiro, organizado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
O Glorioso, campeão da Copa Libertadores e do Campeonato Brasileiro, encerrou a temporada com 75 partidas disputadas. O número, já alto, ficou ainda mais intenso na reta final de 2024, o que obrigou o time a decidir o Brasileirão no domingo, 8, e enfrentar o Pachuca, três dias depois, no Catar.
Ao todo, foram 17 horas de viagem logo após a conquista do torneio nacional. Logo, o tempo de preparação e recuperação física foi curto, escancarando ainda a desorganização da CBF, que fecha o ano acumulando vexames em diversos setores e categorias.
Além de prejudicar o campeão da América no Intercontinental, a entidade esbanjou desorganização em diversas áreas. A seleção brasileira seguiu em amarga crise, o presidente Ednaldo Rodrigues foi alvo de processo de impeachment e a gestão – dentro e fora de campo – deu inúmeros motivos para críticas.
Ednaldo: Impeachment e ‘não’ de Ancelotti
O ano de 2024 começou com Ednaldo Rodrigues fora do cargo de presidente da CBF. Deposto no dia 7 de dezembro de 2023, por suspeita de irregularidades na eleição que o levou ao cargo (clique aqui e entenda o processo), o dirigente conseguiu retomar o posto no dia 4 de janeiro, por decisão do STF.
À época, a seleção brasileira de futebol masculino era comandada por Fernando Diniz, na condição de interino. Simultaneamente, o sonho de ter Carlo Ancelotti, alimentado pelo próprio mandatário da confederação nacional, já havia sido frustrado pela segunda vez com a renovação do italiano com o Real Madrid.
Assim, no dia seguinte ao que reassumiu o cargo, Ednaldo rompeu o contrato com Diniz e foi ao mercado. O então técnico do Fluminense ficou extremamente magoado, primeiro porque acreditava que seria efetivado no cargo e depois pela forma como se deu o desligamento (por telefone e com seu sucessor amplamente anunciado pela imprensa).
A escolha de Dorival Júnior, do São Paulo, teve um objetivo claro: tentar limpar a imagem de Ednaldo, escorando-se na boa reputação do veterano treinador. No entanto, a seleção não decolou, pelo contrário (leia mais abaixo), e o tiro saiu pela culatra.
Influente cartola do futebol baiano, Ednaldo chegou ao poder com a bênção dos atuais inimigos (Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira), em outro momento de turbulência. Ao tomar posse, deixou clara sua forma de liderar, com controle absoluto sobre todos os setores.
Conforme mostrou apuração de Leandro Quesada na PLACAR de fevereiro, não houve uma única canetada no prédio da entidade, na Barra da Tijuca, sem que Ednaldo lesse atentamente cada cláusula, o que atrasou uma série de processos.
Atuais e ex-funcionários da CBF garantem que sua intransigência minou o próprio caminho. “Ele não sabe fazer política da boa vizinhança, nem dentro da própria casa. Rompeu com antigos aliados, brigou com quem comandava competições, marketing, financeiro e jurídico. Fez a limpa em todas as áreas”, contou um colega.
Ednaldo empregou amigos de longa data, demitiu outros tantos e desagradou boa parte dos funcionários atuais da CBF. Diárias de viagens foram cortadas, setores ficaram descobertos e o investimento na estrutura dos campeonatos caiu drasticamente.
Apesar dos conflitos interinos e dos péssimos resultados das seleções, Ednaldo seguiu angariando capital político. Em novembro, o cartola convocou assembleia para que três mandatos seguidos no cargo sejam permitidos. Todos as 27 federações do Brasil (26 estados e uma do Distrito Federal) aprovaram a alteração no estatuto e Rodrigues pode vir a ocupar o maior cargo de gestão do futebol nacional até 2034.
Dias depois, a CBF, respaldada por todos os presidentes estaduais, divulgou o calendário de 2025 com os estaduais marcados para dia 12 de janeiro e o Brasileirão previsto para acabar em 21 de dezembro. Ou seja, o próximo ano, aquele que muitos acreditavam que marcariam uma nova era, com a criação de uma liga independente da CBF (o que ainda não ocorrerá), promete caos ainda maior.
Seleção adulta e sub-23 em crise
Desde o fim da Copa do Mundo de 2024, a seleção brasileira derrapa. Em 2023, Ramon Menezes, treinador das equipes sub-20 e sub-23, foi o escolhido para comandar o grupo principal nos primeiros meses. em uma clara e ingênua tentativa de repetir o sucesso do “interino” Lionel Scaloni, campeão do mundo pela Argentina.
Sem sucesso, mas ainda na mesma linha de raciocínio, deu espaço a Fernando Diniz, que dividia atenções com o Fluminense. Tudo isso, óbvio, com Ednaldo surfando e autoalimentando uma ilusão de Carlo Ancelotti.
O insucesso ficou claro com marcas negativas inéditas e Dorival Júnior, aposta para 2024, encontrou o Brasil na sexta posição das Eliminatórias para o Mundial de 2026. Hoje, após um ano de comando, o treinador deixou a pentacampeã do mundo na quinta posição, e com raríssimos momentos dignos de destaque.
Para além da pequena evolução nas Eliminatórias, a Copa América ruim pesa. Na competição, a seleção brasileira passou longe de brilhar e a campanha do time treinado por Dorival acabou nas quartas de final, com três empates e só uma vitória.
O rendimento, abaixo do esperado, no entanto, jamais foi analisado criticamente por parte da CBF. “Os resultados encobrem um pouco o trabalho. O time está encorpando acreditando… O trabalho vem melhorando a cada momento”, disse Dorival após empate com o Uruguai.
Tanto ele quanto Ednaldo insistiram em um discurso de reaproximação com a torcida. No entanto, o que se viu foram espaços vazios nas arquibancadas em razão dos caríssimos ingressos, evidenciado claramente no último compromisso deste ano, contra o Uruguai, em uma Arena Fonte Nova longe de ter a tradicional lotação do povo baiano em jogos do Brasil.
E o que dizer de Ramon Menezes, que incrivelmente segue na CBF? O treinador, que havia sido promovido recentemente ao cargo de interino da seleção principal, foi protagonista de um retumbante fracasso pelo time sub-23.
No Pré-Olímpico, escalando promessas como Endrick e John Kennedy, o Brasil decepcionou e ficou de fora da competição de futebol masculino nos Jogos de Paris, o que não ocorria desde Atenas-2004. Ainda assim, Ramon segue prestigiado no cargo.