E agora, como é que eu fico nas tardes de domingo sem Gildo?
O maior nome da história de um dos mais populares clubes do futebol brasileiro, o Ceará Sporting Club, Gildo foi muito mais que sinônimo de gols e conquistas. Ele sempre foi a alma do Vozão de Porangabussu
Nasceu em Recife no dia 12 de janeiro de 1940 Gildo Fernandes de Oliveira. Assim como tantos outros, o pequeno menino fez da bola a sua vida. Com pouco mais de 15 anos lá estava ele treinando no Santa Cruz. A habilidade com a bola nos pés era tamanha que não demorou muito para que o Vasco da Gama o levasse para fazer testes na, então, capital federal. Ainda uma criança, a solidão foi sua maior companheira, que o fez retornar para Recife.
O ano de 1960 era promissor. Acabara de subir dos juvenis para o time principal do Santa Cruz. A concorrência, no entanto, era grande. Somada a isso, seus problemas crônicos no joelho o fizeram mudar para a cidade de Fortaleza, onde vestiria a camisa do Ceará Sporting Club.
O menino, cujos joelhos teimavam em doer, foi emprestado, com o valor de seu passe estipulado bem abaixo da qualidade do seu futebol. O que Gildo fez, logo na primeira temporada com a camisa do ‘Vozão’ foi inesquecível. Contratado em definitivo, o ‘Pernambuquinho’ foi tricampeão cearense nos anos de 1961, artilheiro com 15 gols, 1962 e 1963, quando novamente foi o goleador maior com 16 gols.
Quanto ao estadual de 1962, se Gildo não foi artilheiro do campeonato, com 29 gols, teve um papel decisivo na final frente ao Fortaleza, do genial Mozart, em 14 de abril de 1963. Logo aos 2 minutos, o Ceará saiu na frente, depois de jogada espetacular do atacante alvinegro que driblou três adversários e tocou para o gol de Ivan Carioca. O Fortaleza chegou ao empate com um gol muito contestado pelos alvinegros. Logo na saída de bola, o ‘Vozão’ desempatou o placar em outro gol polêmico. A partida se tornou em uma verdadeira briga campal, após o craque tricolor, Mozart, ser expulso. Após o reinício, o jogador do Fortaleza, Haroldo, voltou a campo e agrediu o árbitro com socos e pontapés, sendo expulso. Quando o tricolor partiu para cima do alvinegro, em busca do empate, coube a Gildo, de cabeça, marcar o terceiro gol do ‘Vozão’, o tento que sacramentou o bicampeonato e desestabilizou de vez os rivais tricolores. Aos 30 minutos do segundo tempo, seus dirigentes decidiram retirar o time de campo.
Habilidoso, oportunista, um matador nato que cheirava a gol, Gildo acabou sendo contratado pelo América de São José do Rio Preto. Após ótimas atuações, foi sondado para defender as cores de outro alvinegro, o Corinthians. Coube ao seu joelho direito impedir sua ida ao Timão. Ainda assim permaneceu no interior paulista até 1969, quando voltou ao time pelo qual era apaixonado, o Ceará.
Foi o grande líder da equipe alvinegra que conquistou seu maior título até então, a Copa Norte-Nordeste de 1969. Nas finais frente à equipe paraense do Remo, Gildo fez história. Após perder a primeira partida, disputada em 17 de dezembro em Belém, por 2 a 1, o Ceará precisava vencer o segundo jogo, no dia 19, para levar a decisão para outra partida. O jogo estava próximo do seu final e o placar indicava empate em 2 a 2, quando aos 43 minutos do segundo tempo Gildo, de cabeça, marcou o gol da vitória. O ‘Vozão’ ficaria com o título ao golear o Remo na terceira partida por 3 a 0.
Em 1971, na primeira partida das finais do campeonato cearense, no dia 28 de julho, fez um gol antológico, ao devolver, de cabeça, quase da intermediária, a cobrança de tiro de meta feita pelo goleiro Cícero, do Fortaleza. Após um empate sem gols no segundo jogo, coube a Gildo voltar a ser decisivo, na terceira partida em 3 de agosto. Aos 44 minutos do segundo tempo, o tricolor vencia por 2 a 1, quando o atacante alvinegro sofreu uma falta na entrada da área, quase um pênalti para Victor, que empatou a partida e deu o título ao ‘Vozão’. Campeão, aos 31 anos, acabou não tendo seu contrato renovado, uma tristeza com a qual passou a viver desde então. Encerrou sua história como jogador do Ceará com 261 gols marcados em 441 partidas disputadas, de acordo com números levantados pela dupla Eugênio Fernandes e Emanoel Cardoso. Uma incrível marca que faz dele o maior artilheiro da história do clube.
Ainda defendeu, por duas temporadas, o pequeno Calouros do Ar, onde encerrou a carreira. Antes disso, no entanto, em partida contra o seu querido alvinegro, foi aplaudido de pé pelos torcedores do então rival, ao entrar em campo e logo após marcar o gol no ‘Vozão’, na única vez na história em que os alvinegros comemoraram um gol sofrido. Gildo estava acima de tudo – aliás, sempre esteve.
Como bem afirmou o historiador do clube, Pedro Mapurunga: “O Gildo está para o Ceará como o Pelé está para o Santos. Ele é o maior ídolo, o maior artilheiro, o homem das partidas decisivas. Foi o jogador do Ceará que mais fez gols no Fortaleza. Não existe nenhum jogador que chegue perto do que ele representa para o clube”.
Gildo foi chamado para o andar de cima em 9 de março de 2016. O ‘Vozão’ ficou menor sem ele.