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LaLiga e Real se manifestam sobre racismo; as últimas do caso Vini Jr.

Brasileiro foi chamado de 'macaco' na partida entre Real Madrid e Valência, denunciou o caso e foi expulso; Ancelotti e jogador se pronunciaram mais tarde

O Campeonato Espanhol viveu mais um episódio lamentável neste domingo, 21, na partida entre Real Madrid e Valência, no Mestalla. A partida foi interrompida no segundo tempo após Vinicius Jr ser vítima (outra vez) de racismo. Parte da torcida adversária chamou o brasileiro de “macaco” e o atacante denunciou o caso para a arbitragem. Após confusão dentro de campo, Vini Jr ainda foi expulso. O Valência venceu por 1 a 0 e o Real perdeu a vice-liderança de LaLiga.

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O caso de racismo

O Valência já vencia por 1 a 0, com gol marcado por Diego López, quando a partida perdeu importância esportiva e ganhou relevância social. Aos 24 minutos do segundo tempo, o brasileiro Vinicius Jr foi alvo de racismo por parte da torcida adversária, que chamou o atacante de “macaco”.

Vinicius denunciou o caso para a arbitragem, que acabou interrompendo a partida. O sistema de som do estádio Mestalla informou a situação aos torcedores e pediu o encerramento dos cânticos e xingamentos. Após oito minutos, a partida foi reiniciada.

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Já na reta final da partida, o brasileiro se envolveu em uma confusão com o goleiro Mamardashvili, do Valência. No meio da situação, Vinicius Jr ainda foi puxado pelo pescoço pelo atacante adversário. O árbitro Burgos Bengoetxea foi chamado pelo VAR e optou por expulsar apenas o brasileiro.

Revoltas e manifestações

Após todo o episódio, com a cabeça fria, Vinicius Jr se manifestou nas redes sociais e reafirmou o caso de racismo. O brasileiro destacou que “não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira” e criticou de maneira enfática os organizadores da competição: “O racismo é o normal na LaLiga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas”.

O atacante do Real Madrid concluiu lamentando a situação e deixando em aberto a possibilidade de deixar a Espanha por conta dos episódios: “Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”.

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[box]”O prêmio que os racistas ganharam foi a minha expulsão. Não é futebol, é LaLiga”, escreveu Vini após o jogo.[/box]

Mais de 10 casos de racismo contra Vinicius Jr foram registrados desde que o brasileiro virou titular do Real Madrid. A liga espanhola criou uma comissão em fevereiro deste ano para analisar cada situação. Após a partida contra o Valência, o técnico Carlo Ancelotti também se pronunciou sobre o novo episódio e foi firme:

“Não quero falar de futebol. Vocês querem falar de futebol? Foi mais que uma derrota. Eu sou muito calmo, mas aconteceu algo que não pode acontecer. O estádio todo gritando “macaco” para Vinicius Jr. Algo está muito errado nesta liga e nada acontece. Houve neste ano uma dezena de denúncias pelos insultos ao Vinicius. E daí? O que aconteceu? Nada de nada”.

“Ele não queria continuar. Disse que não parecia justo, que não era sua culpa. Ele seguiu jogando, e além disso tomou um cartão sem sentido. Vinicius é um dos melhores do mundo. Esses episódios de racismo não podem passar. Foi todo o estádio, não foi só uma pessoa, como em outras ocasiões”, completou o italiano.

Javier Tebas, presidente de La Liga, manteve a postura crítica a Vinicius, relativizando os atos de racismo. Inicialmente, o dirigente publicou: “Já que aqueles que  deveriam explicar para você o que é e o que pode fazer La Liga em casos de racismo, tentamos explicar para você, mas você não apareceu em nenhuma das duas datas combinadas que você mesmo solicitou . Antes de criticar e insultar La Liga, é preciso que você se informe bem, Vini Jr. Não se deixe manipular e certifique-se de compreender plenamente as competências de cada um e o trabalho que temos feito juntos.”

A publicação prontamente foi rebatida publicamente por Vinicius, que pediu ações e punições. “Mais uma vez, em vez de criticar racistas, o presidente da LaLiga aparece nas redes sociais para me atacar. Por mais que você fale e finja não ler, a imagem do seu campeonato está abalada. Veja as respostas do seus posts e tenha uma surpresa… Omitir-se só faz com que você se iguale a racistas. Não sou seu amigo para conversar sobre racismo. Quero ações e punições. Hashtag não me comove”, escreveu o brasileiro.

Defendendo que o racismo é algo pontual na Espanha e na liga, Tebas voltou a responder e atacar o jogador do Real Madrid. “Nem Espanha, nem La Liga são racistas. É muito injusto dizer isto. Como La Liga denunciamos e combatemos o racismo com toda rigidez dentro das nossas competências. Esta temporada foram feitas 9 casos de insultos racistas (8 delas por insultos contra Vini Jr.). Sempre identificamos os infratores e levamos a denúncia aos órgãos legisladores. Não importa que sejam poucos, eles são implacáveis. Não podemos permitir que se manche a imagem de uma competição que é sobre o símbolo de união de povos, onde mais de 200 jogadores são de origem negra em 42 clubes que recebem em cada rodada o respeito e o carinho da torcida, sendo o racismo um caso extremamente pontual (9 denúncias) que vamos eliminar.”

Institucionalmente, o Real Madrid também se pronunciou. Em comunicado oficial, repudiou o caso e afirmou que tomará medidas legais. Confira:

O Real Madrid mostra a sua mais enérgica repulsa e condena os fatos ocorridos ontem contra o nosso jogador Vinícius Junior.

Estes fatos constituem um ataque directo ao modelo de convivência do nosso Estado social e democrático de direito.

O Real Madrid considera que tais ataques constituem também um crime de ódio, pelo que apresentou a correspondente queixa à Procuradoria Geral do Estado, especificamente à Procuradoria contra os crimes de ódio e discriminação, para que os fatos sejam investigados e as responsabilidades sejam depuradas.

Na linha da revolta, o estafe de Vinicius foi combativo. Em nota, comparou o ataque de Hugo Duro, que segurou o brasileiro pelo pescoço, ao assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, em 2020.

Durante a partida de hoje entre o Valência e o Real Madrid, assistimos a cenas de racismo generalizado, intencional e já institucionalizado, que são das mais repugnantes da história do futebol.

Três anos após o mundo se chocar com as gravações que mostravam George Floyd a ser imobilizado de forma brutal, hoje, vimos ao vivo a transmissão de um evento no qual Vini Júnior foi contido durante uma discussão de forma covarde, violenta e inaceitável.

Este é só mais um reflexo do que se viu durante toda a temporada da La Liga, na qual ficou claro para o mundo que não aceitam que o seu mais decisivo e relevante atleta seja um jovem negro. Que não aceitam o seu protagonismo.

A velada anuência dos organizadores da competição a toda essa discriminação, foi por meses um recado para todos os espanhóis, de que não querem ter os melhores se esses forem negros, encontrando entre milhões, a simpatia de milhares de intolerantes e racistas.

Os negros, são aceitos na La Liga apenas como coadjuvantes, e isso, o Vini Júnior jamais será. Nem nos gramados, nem fora deles.

Na manhã desta segunda-feira, Luis Rubiales, presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), convocou entrevista coletiva. Admitindo um problema, disse admirar o Brasil e mandou duro recado a Javier Tebas, presidente de La Liga, pedindo para que suas ações “irresponsáveis” fossem ignoradas.

Gianni Infantino, presidente da Fifa, divulgou mensagem de apoio a Vini e repúdio ao ocorrido. O suíço pediu medidas duras e o seguimento da regra imposta pela entidade, que prevê até punição com vitória para o adversário em casos de racismo.

“Toda nossa solidariedade ao Vinicius. Não há lugar para racismo no futebol ou na sociedade, e a FIFA apoia todos os jogadores que o sofreram em primeira mão. Os eventos ocorridos durante a partida entre Valência e Real Madrid demonstra o quão crucial é esta luta. É por isso que o processo de três etapas existe nas competições da FIFA e é recomendado para uso em todos os níveis do futebol. Primeiro, o jogo é interrompido e anunciado. Em segundo lugar, os jogadores saem do campo de jogo e o locutor diz que se os ataques continuarem, o jogo será abandonado. A partida recomeça e, em terceiro lugar, se os ataques continuarem, a partida será interrompida e os três pontos irão para o adversário. Estas são as regras que devem ser aplicadas em todos os países e em todas as ligas. É claro que é mais fácil falar do que fazer, mas temos que fazer e temos que apoiar por meio da educação”, manifestou.

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