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Ítalo-brasileiro Rômulo relembra amizade com lendas e quer ser técnico top

De saída do Cruzeiro, lateral de 35 anos prevê mais duas temporadas em campo antes de iniciar nova carreira. A PLACAR, ele recordou seus grandes momentos

Ele carrega o nome do fundador de Roma e construiu uma bela trajetória no futebol italiano. De volta ao país natal, o gaúcho Rômulo Caldeira vive os dias finais de sua passagem pelo Cruzeiro, enquanto projeta os últimos passos como atleta e os primeiros como treinador. Em entrevista a PLACAR, o lateral-direito de 35 anos recordou momentos marcantes de sua carreira, cujo ápice foi a convocação para a seleção italiana em 2014, contou boas histórias sobre seus amigos famosos, como Ronaldo, Andrea Pirlo e Mario Balotelli, e falou sobre sua paixão pelos estudos táticos, o que pode fazer dele o primeiro técnico brasileiro a brilhar na elite europeia.

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Natural de Pelotas (RS), Rômulo passou por Juventude, Metropolitano, Chapecoense, Santo André, Cruzeiro, Athletico-PR, Fiorentina, Hellas Verona, Juventus, Genoa, Lazio e Brescia antes de retornar à Raposa, onde celebrou a conquista da Série B deste ano. Seu contrato se encerra no fim do ano e não será renovado, por isso Rômulo busca nova equipe, de preferência no Brasil ou na Itália, para 2023. De Belo Horizonte, ele conversou com a reportagem em entrevista por vídeo.

Liderança em um novo Cruzeiro

Esta foi a segunda passagem de Rômulo pelo Cruzeiro. Ele despontou para o cenário nacional atuando pelo Santo André, pelo qual fez sua estreia na Série A e foi vice-campeão paulista, em 2010. No meio daquele ano, foi comprado pela Raposa, que tinha um dos elencos mais poderosos do país. Emprestado ao Athletico-PR, foi vendido em 2011 à Fiorentina, onde iniciou sua trajetória na terra de seus bisavôs.

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Rômulo retornou ao Cruzeiro em 2021 e admite ter se assustado com o que viu. “Na minha primeira passagem, o clube vivia uma condição diferente, de saúde financeira, com grandes jogadores. Eu recebi mais que um convite, era uma missão, de ajudar o clube a se reerguer. Mas quando cheguei a Belo Horizonte, encontrei um cenário caótico, com o clube à beira da falência, foi duro de acreditar”, diz.

O primeiro ano foi ruim, com mais uma tentativa frustrada de retorno à elite, até que em janeiro, quando Ronaldo anunciou a compra da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do clube, o cenário começou a mudar na Toca da Raposa.  “No futebol, as peças precisam se encaixar. Quando o Ronaldo chegou com a expertise que ele já tinha posto em prática no Valladolid e em suas empresas, as coisas ficaram mais fáceis. Desde o primeiro dia como patrão, ele zelou para que os salários estivessem em dia e disse que isso não é mérito, mas obrigação”, relembra.

A virada estrutural se viu refletida em campo, com o acesso conquistado com sete rodadas de antecedência. “Com todos remando para o mesmo lado e com o apoio da torcida do Cruzeiro, que é única, tudo fluiu muito bem”, diz. Rômulo, no entanto, jogou bem menos do que gostaria: foram apenas 10 jogos na Série B e mais 10 no Estadual, em 2022, por opção do técnico uruguaio Paulo Pezzolano.

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O veterano, porém, jamais reclamou de sua situação e é elogiado por colegas e torcedores por sua liderança positiva. “Uma das grandes virtudes de um homem é se colocar à disposição dos outros. Não importa a posição que estejamos, se de muito prestígio ou não, temos de servir os outros e dar o melhor. Ficou muito claro para todos que o grande protagonista é o grupo.”

Duelo inesquecível contra o Fenômeno

Rômulo e Ronaldo mantêm boa relação, a ponto de o chefe do Cruzeiro ter lhe oferecido um cargo na gestão do clube já em 2023. O lateral recusou, alegando que se sente bem fisicamente e pretende atuar por mais dois anos. “Fiquei honrado pelo convite, mas sinto que ainda tenho lenha para queimar.”

Rômulo recorda com entusiasmo da primeira vez que apertou a mão de Ronaldo. Foi em 2009, em uma partida do Brasileirão entre Corinthians e Santo André, em São Paulo. “Lembro muito bem. Já era um sonho jogar no Pacaembu e ainda mais contra o Ronaldo. Como estou saindo do Cruzeiro, não preciso puxar o saco, digo porque é verdade mesmo: ele sempre foi meu ídolo, o maior 9 da história.”

“Fiquei com muita vergonha de pedir a camisa, era muito novinho…mas só o fato de tê-lo enfrentado foi uma experiência única”, conta Rômulo, sobre aquela derrota por 2 a 0 para o Timão, com a marca do Fenômeno. “O Ronaldo fez um golaço, deu uma pedalada e chutou de esquerda no ângulo, foi um dos gols mais lindos da carreira dele.”

Ele diz, no entanto, que o atacante que mais lhe deu trabalho foi outro brasileiro, naquele mesmo período. “Sem dúvidas o Neymar foi o mais difícil de marcar, ele encheu meus olhos. Aquele Santos era um time dos sonhos praticamente, com ele, Ganso e Robinho”, disse, citando a final do Paulista de 2010.

“Terminou 5 a 5 no agregado e eles tinham melhor campanha. A gente já sabia que o Neymar seria um dos maiores da história. Dos que enfrentei, foi o mais forte disparado, pela ginga, a ousadia, o fato de usar as duas pernas da mesma forma. Em termos de habilidade, velocidade, acho que vai ser difícil surgir algum jogador parecido.”

Um choro genuinamente italiano

Faltavam poucas semanas para o início da Copa do Mundo no Brasil, quando Rômulo foi surpreendido pelo aviso de um funcionário do Hellas Verona, equipe pelo qual vinha se destacando no Calcio. “O segurança me disse que o Cesare Prandelli, técnico da Itália estava no estádio me procurando. Achei que era brincadeira, mas quando o vi, meu coração disparou, minha mão suou frio, porque eu saquei na hora, né, não teria outro motivo para ele me procurar”, relembra Rômulo, cujos bisavôs nasceram na região do Vêneto, antes de fugir da II Guerra rumo ao Rio Grande do Sul.

Apesar de ter dupla nacionalidade e de viver grande fase, Rômulo não esperava a convocação para a seleção italiana naquele momento. “Faltava muito pouco para a Copa. Prandelli só me fez uma pergunta: você encararia isso como um golpe de marketing, de autopromoção, ou vestiria a ‘Azzurra’ como a camisa do seu país, com muito orgulho? Eu disse que seria o maior orgulho da minha vida! Depois que ele saiu, eu desabei em choro como uma criança”, conta.

O sonho de disputar o Mundial foi interrompido por uma grave lesão no púbis, mas Rômulo guarda com carinho a experiência vivida em Coverciano, o CT italiano. “Foi a primeira vez que eu me senti um italiano de verdade. Fui superbem recebido pelos cozinheiros, jardineiros e pelos atletas. Fiquei mais feliz ainda. O Pirlo foi um dos primeiros a falar comigo e depois eu soube que tanto ele quanto o Buffon pediram a minha convocação e também a minha contratação para a Juventus. Foi muito marcante, porque eu sempre os admirei muito.”

‘Resenha’ com ídolos mundiais

Com a ‘benção’ de Gianluigi Buffon e Andrea Pirlo, Rômulo chegou em 2014 à Juventus e, logo em sua primeira temporada em Turim, conquistou o scudetto e a Copa Itália, além do vice da Champions League. O brasileiro se surpreendeu com a humildade de um elenco tão estrelado. “Na Juventus era inacreditável, você entra no vestiário e vê alguns dos melhores jogadores da história. Você pensa de início que os caras são intocáveis, mas depois vê como eles são normais, supersimples”, diz.

O goleiro Rubinho era seu único compatriota, enquanto os melhores amigos eram um francês e um argentino bastante conhecidos. “O Paul Pogba é com quem eu tinha mais afinidade, é um cara fantástico, que adora os brasileiros. Procurava sempre estar falando em português, umas palavras soltas, e um cara muito brincalhão. Também tive muita proximidade com o Carlitos Tevez, até tentei intermediar uma volta dele ao Corinthians, fizemos uns contatos, mas ele disse que não queria mais tanta pressão naquele momento, queria mais sossego, tanto que acabou indo pra China.”

Segundo Rômulo, Pirlo é “quem mais engana, pois passa uma imagem de ser culto, um líder nato, mas não fala absolutamente nada, chega, cumprimenta, troca de roupa e vai embora”, enquanto Buffon é a alegria do vestiário “Quase não ouvia a voz do Pirlo. Em contrapartida, o Buffon é o mais brincalhão, puxa resenha, brinca com todo mundo.”

Já em sua última passagem na Europa pelo Brescia, Rômulo coincidiu com outra excêntrica estrela da bola: o italiano Mario Balotelli, de quem guarda ótimas recordações. “Temos essa imagem de um cara rebelde, estrela, mas esse é um personagem que ele criou. Ele é o oposto da imagem que vende”, garante Rômulo. “Ele tem um coração muito bom, ajuda muita gente na África, sem externar. É muito prazeroso trabalhar com ele. Claro, às vezes ele é meio preguiçoso no treino, todos sabem, mas é um cara muito de grupo, não quer ser melhor do que ninguém.”

Rômulo revelou que mantém contato com Balotelli, que aos 32 anos atua pelo Sion, da Suíça, e que o astro italiano não descarta um dia jogar no Brasil, especialmente vestindo uma camisa rubro-negra. “Houve a possibilidade de ele vir para o Flamengo e quando isso surgiu ele ganhou 1 milhão de seguidores rapidinho, ele ficou espantado. Ele tem o desejo sim de jogar no Flamengo, se houver uma proposta séria, ele vem, especialmente pela proporção da torcida, ele gostaria muito.”

Futuro como técnico ‘top’ na Europa

Rômulo reafirma que não pretende se aposentar tão cedo, mas seus olhos brilham mesmo ao falar dos planos para o futuro. Em 2017, ele fez o curso de treinador da federação italiana, reconhecido pela Uefa, e desde então vem amadurecendo a possibilidade de se tornar treinador. “Eu estudo demais e acabo sugando muita informação dos meus treinadores, para pegar o melhor de cada um e também o que não fazer”, disse, citando mestres como Inzaghi, Montelli, Allegri e Prandelli.

Questionado sobre por que o Brasil não possuiu treinadores na elite europeia, Rômulo revela planos ambiciosos. “O que eu sei que eu vou ser um deles. Vou chegar na Europa, em alto nível, vou trabalhar muito para isso”, diz, com firmeza. “Qual ex-jogador brasileiro tem a licença Uefa? Isso é pré-requisito. Quem quer chegar nesse nível precisa se capacitar. O brasileiro não pode parar no tempo e sei que a CBF trabalha forte para que seus cursos sejam reconhecidos, como acontece na Argentina.”

Rômulo se descobriu um fissurado por tática ao desembarcar em Florença, em 2011. “Nem dava para fazer comparação, porque no Brasil não existia tática e lá só tinha tática (risos). Quando eu cheguei na Fiorentina como lateral, eu apoiava demais e logo o treinador me chamou para dizer que eu não podia passar tanto do meio-campo. Eu disse que jogava assim e ele me passou para ponta logo de cara”, brinca. “

“Aprendi muito, sobre a posição que meus pés deveriam ficar em relação à bola, como deixar os jogadores impedidos, sempre ter uma referência olhando primeiro bola, depois adversário e gol. São vários conceitos que trabalhávamos todo dia”, recorda, com entusiasmo. Ele garante, porém, que não será adepto do catenaccio, a famosa retranca italiana. “Tenho bem desenhado na cabeça, um estilo com muita posse de bola, pressionando bem alto o adversário, mas com movimentos bem sincronizados. Quem me inspira muito é o [Maurizio] Sarri, certamente fará parte do meu estilo de jogo.”

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