Tite: O começo da saga como treinador
Chegada do técnico ao Flamengo leva cronista à final do Gauchão de 2000, quando título inédito do Caxias revelou o futuro comandante do Brasil em duas Copas
Não é novidade dizer que há fatos na vida que, quando ocorrem, não nos damos conta do quanto terão impacto no Futuro. O que pode parecer, a princípio, um acontecimento corriqueiro, pouco significante, revela-se anos depois um marco, um divisor de águas, que, sem sabermos à época, determinou importantes desmembramentos na nossa existência. Não é filosofia barata, basta olhar pro retrovisor… Garanto a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 2000, que mais um exemplo disso deu-se ontem, no Sul do País, onde o Caxias do Sul quebrou uma hegemonia secular de da dupla Grêmio e Internacional, que se alternavam no triunfo, e conquistou a Campeonato Gaúcho, em empate (0 x 0) – após vitória (3 x 0) no primeiro jogo – com o adversário na final, a equipe gremista. E sob o comando de um jovem (39 anos) que, saibam, iniciou assim uma carreira singular como treinador de futebol: Tite. Adianto a todos que nos próximos 23 anos ele vai estar à frente de grandes equipes, como a dupla gaúcha, Atlético-MG e Palmeiras, além de ser campeão da Libertadores e do Mundo pelo Corinthians (em 2012) e liderar a seleção brasileira em duas Copas do Mundo, infelizmente sem nenhum título. Como eu sei disso? Sou um Comentarista do Futuro, vindo de 2023, e deixei o Meu Tempo em meio à largada de novo capítulo na carreira do treinador, que assumirá o Flamengo em 9 de outubro, 10 meses após deixar a seleção. Se isso será bom ou não para o clube e a maior torcida do país? Só o Tempo dirá…
Pouquíssima gente vai se lembrar, mas Tite, o treinador que ontem deu o primeiro título estadual ao Caxias, já foi jogador de futebol, inclusive na equipe grená, a mais forte da região onde nasceu, em 1961, batizado como Adenor Leonardo Bacchi. Seu maior momento dentro das quatro linhas foi no Guarani, como volante, alcançando o vice-campeonato nos Campeonatos Paulistas de 1986 e 1988, e também na Copa União de 1987. Dois anos depois, aos 28 anos, abandonou precocemente a bola, cansado que já estava dos seguidos problemas e das constantes intervenções no joelho combalido. Como não queria se afastar do futebol, encarou a carreira de técnico, perambulando na última década por clubes pouco expressivos do cone-sul brasileiro. Até ter esta segunda oportunidade no Caxias e surpreender o país com o triunfo inédito. Ano que vem, adianto a todos, já estará no Grêmio, e vai levantar uma segunda taça, de caráter nacional, a Copa do Brasil. Em 2008, anotem,
então comandando o rival Inter, vai ‘ticar’ mais um desafio alcançado: uma conquista continental, a Copa Sul-Americana. O maior momento, como já pincelei, será com no Corinthians. Sucesso planetário que o levará ao escrete brasileiro – e ainda três Brasileiros (2011 e 2015) e uma Recopa Sul-Americana (2013). Na Seleção, em que conquistará apenas uma Copa América (2019), desenvolverá então uma verve tecnocrata bastante desconectada da massa torcedora do Brasil, mas sem nunca perder a capacidade de formar equipe fortes e quase Imbatíveis. Quase…
O Destino é mesmo um brincalhão. E nos leva a Amanhãs inesperados. O atacante Jajá, por exemplo, destaque na equipe campeã, terá uma lanchonete em Catanduva, no interior paulista; o outro atacante, Adão, abrirá uma empresa de filtros e purificadores de água; e assim por
diante, cada um dos lendários campeões cumprindo sua sina particular. A de Tite incluirá assumir o Flamengo num momento difícil, após perder seguidas finais no ano de 2023. Me resta voltar ao Futuro e aguardar as próximas surpresas que está por vir. Um dia eu volto ao início deste Século 21 e conto!
PARA VER LANCES E GOLS DO JOGO
FICHA TÉCNICA
CAXIAS DO SUL 0 X 0 GRÊMIO
Competição: Final Do Campeonato Gaúcho de 2000 (segunda partida)
Data: 21 de junho de 2000
Estádio: Olímpico
Local: Porto Alegre (RS)
Público: 24.326 pagantes)
Renda: Cr$ 193.174,00
Árbitro: Carlos Eugênio Simon
Assistentes: José Carlos Oliveira e André Veras
GRÊMIO: Sílvio; Ânderson Lima, Marinho, Alex Xavier e Roger; Ânderson Polga (Eduardo Costa), Itaqui (Beto), Zinho e Ronaldinho Gaúcho; Cláudio Pitbull e Amato
Técnico: Antônio Lopes
CAXIAS DO SUL: Gilmar; Jairo Santos, Émerson, Paulo Turra e Sandro Neves; Ivair, Titi (Cláudio), Gil Baiano e Márcio; Jajá (Delmer) e Adão (Luciano Araújo)
Técnico: Tite
Cartões amarelos: Ânderson Lima, Ronaldinho Gaúcho, Alex Xavier, Zinho, Marinho e Roger (G); Paulo Turra, Gilmar, Sandro Neves, Titi e Adão (C)