Amanhã será um novo dia, torcedor!
Vendo a força do Palmeiras em 2022, cronista vai ao primeiro rebaixamento dar ‘spoilers’ sobre altos e baixos de times, Parmalat e na política nacional
Desde criança percebo em meu corpo uma sensação única, nítida liberação de alguma substância, que ocorre sempre em lances de gol contra o meu time, no exato instante em que a bola entra. Tão curioso que chego a sentir um certo ‘sabor’ – azedo! Ou será amargo? – desta química interna, que me acomete em momentos tristes da história do meu clube. Com ou sem algum metabolismo particular, ontem foi dia dos torcedores do Palmeiras sofrerem uma dor e tanto: o temido e vexatório rebaixamento para a Série B do Campeonato Brasileiro. Vai ter é ‘zoação’ hoje dos rivais, em especial dos corintianos, esses ‘pela-sacos’ – os palmeirenses devem estar pensando. Quero dizer a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 2002, que uma das boas coisas de ser um ‘viajante do tempo’ – sou do futuro, creiam-me, vim de 2022! – é ter mais clareza ao testemunhar provas cabais de que “a vida dá voltas”, de que “quem espera sempre alcança” e de que todas as outras baboseiras clichês que ouvimos sobre isso têm fundamento. Em 2022 estaremos, não apenas eu, mas acho que todos no Brasil e no mundo, sentindo com frequência, no peito, um certo ‘sabor de tristeza’. Mas lutando sempre para renovar nossa fé de que Amanhã um novo dia virá. Pro Palmeiras, posso garantir, ele vai chegar!
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Deixei 2022 após mais uma vitória do ‘Verdão’, consolidando sua liderança no Campeonato Brasileiro, com dez pontos de diferença para o segundo colocado e faltando cindo rodadas pro fim. Não é só essa a Boa Nova do futuro palmeirense. Poucos meses antes, em 2021, o clube viverá uma temporada sem igual, sendo inclusive, acreditem, duas vezes campeão da Libertadores da América no mesmo ano, por conta das estripulias do calendário. Anotem aí, e podem me cobrar: o título de 2022, prestes a ser matematicamente confirmado, talvez com antecedência recorde de quatro rodadas, será a 11ª conquista palmeirense (maior vencedor) no principal torneio nacional, pois de hoje até lá, nos próximos 20 anos, serão outros dois Brasileiros, em 2016 e 2018. E ainda mais três Copas do Brasil – em 2012, 2015 e 2020 – somadas à de 2008, três Paulistões – 2008, 2020 e 2022 –, perfazendo 24 triunfos e entrando de vez na caça aos 30 títulos estaduais dos inomináveis, pra eles, e alvinegros rivais. Levante, portanto, a cabeça, meu caro irmão palmeirense! No futuro tudo só vai melhorar! Só não me pergunte sobre a política brasileira. Nada em nossa História se compara com o lixo em que em 2022 ela vai se chafurdar…
‘Ética’ e ‘Verdade’ serão conceitos em baixa daqui a 20 anos, seja qual for a posição do grupo político, à direita ou esquerda. O espetáculo de ‘vale-tudo’ numa disputa polarizada pela Presidência trará a sensação de que teremos chegado ao fundo do poço, e exatamente por isso vim aqui testemunhar a humilhação palmeirense, nesta derrota (4 x 3) para o Vitória (BA) que sacramentou a queda para a Segundona. Assumindo aqui um discurso de autoajuda, a vida nos reserva essas ‘bagaças,’ mas o tempo sempre vem pra nos reerguer. Saibam vocês, queridos leitores e leitoras, que nos 20 anos que se avizinham o Palestra viverá um segundo rebaixamento, daqui a 10 anos, e será este novo susto, ou melhor, trauma que vai detonar o processo de reconstrução, baseado em momentos de lucidez, competência, transparência e honestidade… Exatamente os mesmo ingredientes do sucesso e para o progresso que, em 2022, todos os candidatos garantirão ter … Só que não!
Serão os “acertos de gestão” – assim chamaremos – que vão levar o Palmeiras aos dias de glória daqui a duas décadas. No banco, podem anotar, vai estar brilhando um comandante estrangeiro, um inteligente, e meio ‘nervozinho’, treinador português, que tornará risíveis as xenófobas e degastadas piadas sobre nossos eternos irmãos. Já no Brasil, sinto informar, estaremos muito mal de ‘comandantes’, e também de postulantes ao cargo maior. Daí ter sido revigorante assistir ontem a este Vitória x Palmeiras, valendo pela penúltima rodada do Brasileiro, que, atenção, a partir do ano que vem abandona o atual formato misto, de primeira fase em pontos corridos e a etapa final em mata-matas. Aprende-se muito vendo a festa dos palmeirenses em 2022 e, viajando 20 anos pra trás, as lágrimas de ontem, logo após a confirmação do descenso, inédito na história do clube. A propósito, outra informação confortante que trago dos Anos 20 deste século é que a queda para a ‘Segundona’ não será mais tão humilhante assim, pela frequência com que se verificará entre os chamados “grandes” times do país. Aguardem…
Cruzeiro, Vasco, Corinthians e Grêmio são algumas potências que amargarão, mais de uma temporada, no segundo patamar de nosso futebol. E seguindo na praia de usar o futebol para extrair ensinamentos da autoajuda, é ilusão pensar que a primeira recuperação, após a primeira ‘queda’, é definitiva. Vejam o próprio exemplo do Palmeiras que, como já disse, voltará a cair em 2013 antes de emergir para novos anos de glória. A ‘gangorra’ é contínua, podem acreditar! Basta rever os últimos 10 anos, desde a chegada da hoje estremecida Parmalat, quando teve início uma década de glórias, entre elas a Libertadores de 1999 e o bicampeonato nos Brasileiros de 1993 e 1994 – o primeiro deles, inclusive, conquistado após o time bater o mesmo Vitória, algoz de ontem. A vida é assim!
Tal qual a ex-patrocinadora do clube, do ramo leiteiro, que conquistara o mundo, tombou, vai até se reerguer mas, em 2022, quase que só sobreviverá na memória afetiva dos consumidores, pelo comercial dos pequeninos mamíferos. Outras marcas, produtos e personas, físicas ou jurídicas, também terão seus altos e baixos. Sem falar que alguns ícones deste início de Século 21, como a Nokia, o iPod, a câmera digital, o laptop da Xuxa e os Tribalistas, em 2022 serão só saudade. Já o meia Nenê e o atacante Vágner Love, do elenco rebaixado ontem, em 2022 ainda estarão na ativa e em alta, mesmo que novamente disputando a Série B – um no Vasco; outro no Sport. Repito: a vida é assim! E pobres daqueles palmeirenses do futuro que não entendam que, algum dia, voltará o clube a ter dias difíceis. “A regra é clara”, Galvão!
Bem mais turva será a visão do que estaremos, em 2022, vivendo no País, inclusive no esporte. Uma estranha encruzilhada entre um futebol brasileiro com forças concentradas em três ou quatro times ou a adoção de medidas razoáveis que equilibrem melhor o poderio entre os principais clubes do País. Falei grego, né? Enfim, que fique registrado aqui: a elitização é um perigo que não verificaremos apenas entre as quatro linhas. E para a qual precisaremos voltar nossa atenção. Sim, estou reflexivo hoje… Deve ser influência do Amanhã, por ter deixado o futuro às vésperas de uma explosiva e significativa eleição presidencial. Haverá muito em jogo a se decidir…
Mas já o ‘Verdão’, como já disse, daqui a 20 anos será unanimemente considerado o maior campeão do País, alcançando inclusive a liderança no mais importante ranking de estatísticas de futebol do mundo. E é curioso pensar que foi justamente após uma confraternização entre dois grupos de conselheiros palmeirenses, nos anos 60, que surgiu na mídia a expressão tão usada na política nacional: “E tudo acabou em pizza!”. Espero, sinceramente, que não. O que posso assinar embaixo é: ao menos até 2022, será o Palestra o vencedor-mor entre os clubes brasileiros. E estou falando desse mesmo time que ontem perdeu do Vitória e disse “presente” na chamada para a Série B de 2003. Voltarei, então, ao meu Tempo com renovada crença de que o Brasil também pode dar a volta por cima. Quem viver, vai amar!
PRA VER OS MELHORES MOMENTOS DO JOGO
FICHA TÉCNICA
VITÓRIA 4 x 3 PALMEIRAS
Competição: Campeonato Brasileiro de 2002
Data: 17 de novembro de 2002
Local: Estádio do Barradão, em Salvador, Bahia
Público: 2.210 pagantes
Renda: R$ 19.995 pagantes
Árbitro: Wilson de Souza Mendonça (PE)
VITÓRIA: Jean; Ramalho, Emerson, Elói e Leílton; E. Alcides, Dudu, Elson e Allan Delon (André); Zé Roberto (Marcelo Heleno) e Aristizábal (Nádson). Técnico: Joel Santanna
PALMEIRAS: Sérgio; Arce, Alexandre, César e Rubens Cardoso (Leonardo Moura); Paulo Assunção, Flávio (Nenê), Juninho e Zinho; Muñoz e Itamar (Lopes). Técnico: Levir Culpi
Gols: Primeiro Tempo: Allan Delon, aos 4’; Flávio, aos 5’, e Aristizábal, aos 27’; Segundo Tempo: Nenê, aos 3’; Zé Roberto, aos 31’; André, aos 41’; e Arce, aos 43’
Cartões amarelos: Emerson e Marcelo Heleno (Vitória); Arce, Alexandre, Leonardo Moura, Flávio e Juninho (Palmeiras)
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