O protesto no uniforme da Dinamarca que a Fifa não pôde coibir
Seleção escandinava entrou com escudo e logo da fornecedora "invisíveis" em protesto contra violações aos direitos humanos no país-sede
DOHA – A seleção da Dinamarca entrou em campo com um uniforme histórico nesta terça-feira, 22, diante da Tunísia, no Estádio Education City, em duelo válidpo pelo Grupo D da Copa do Mundo do Catar. O modelo fabricado é todo vermelho (todo mesmo, com exceção aos números). O escudo da fabricante Hummel e da federação dinamarquesa em tom monocromático fazem uma crítica às denúncias de violação aos direitos humanos no país sede.
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“Esta camisa leva consigo uma mensagem. Não queremos ser visíveis durante um torneio que custou a vida de milhares de pessoas. Apoiamos a seleção dinamarquesa o tempo todo, mas isso não é o mesmo que apoiar o Catar como nação anfitriã”, afirmou a fornecedora pelas redes sociais meses antes da Copa.
This shirt carries with it a message.
We don't wish to be visible during a tournament that has cost thousands of people their lives.
We support the Danish national team all the way, but that isn't the same as supporting Qatar as a host nation. pic.twitter.com/7bgMgK7WzS
— hummel (@hummel1923) September 28, 2022
Ao contrário do que ocorreu com as faixas de capitão com as cores do arco-íris em apoio à comunidade LGBTGIA+, que os atletas de diversas seleções desistiram de usar pois poderiam ser punidos com cartões amarelos por estampar “mensagens” políticas, desta vez a Fifa não pôde vetar a manifestação da Dinamarca. Pelas regras dos uniformes, os escudos e marcas podem ser estampados na cor decidida pela federação.
O boicote comercial imposto pela federação dinamarquesa é antigo, iniciou em novembro do último ano, quando a entidade anunciou que estamparia mensagens humanitárias no lugar de patrocínios. Na ocasião, em comunicado, a Federação fez longas críticas à organização do evento, bem como às infrações aos direitos humanos no país, e afirmou que usará sua participação no torneio para propor mudanças.
“Há muito tempo, a DBU critica fortemente a Copa do Mundo no Catar, mas agora estamos intensificando ainda mais nossos esforços e um diálogo crítico para aproveitarmos o fato de estarmos qualificados para trabalhar por mais mudanças no país. Além disso, há muito tempo chamamos a atenção para os desafios que a FIFA e o Catar enfrentam e continuaremos fazendo isso ”, disse Jakob Jensen, presidente da Federação dinamarquesa.
A decisão da Dinamarca é disputar a Copa do Catar somente com fins esportivos e não comerciais. Os patrocinadores da seleção cederam seus espaços nos uniformes em prol da manifestação. “É um sinal muito forte quando nossos parceiros também se engajam na luta por melhores condições no Catar. Os parceiros apoiam o futebol dinamarquês, a seleção masculina e a participação esportiva no Campeonato Europeu e na Copa do Mundo – não o anfitrião individual ”, explica o presidente.
Outras medidas foram adotadas pela Federação do país nórdico, que planeja limitar o número de funcionários que viajarão para a Copa do Mundo e conduzir continuamente a devida responsabilidade na escolha de hotel e outros serviços no Catar para garantir que os direitos trabalhistas aplicáveis sejam respeitados.
Desde que foi escolhido como país sede da Copa, em 2010, o Catar sofre com rejeição internacional devido ao histórico de infração aos direitos humanos, como o fato de a homossexualidade ser um crime previsto por lei. Outra série de denuncias aconteceram durante as obras para realização do evento. Em 2016, a Anistia Internacional (AI) divulgou um relatório acusando a Fifa, seus patrocinadores e as construtoras responsáveis pelas obras da Copa do Mundo do Catar, em 2022, de exploração massiva e indevida dos trabalhadores imigrantes que contribuem para a preparação do evento.