Vitão, do drama na Ucrânia à consolidação no Inter: ‘Quero mais títulos’
Zagueiro chegou ao Colorado após invasão das tropas russas a Kiev, assumiu posição e consolidou defesa em fim da fila

Há uma semana, o empate em 1 a 1 no GreNal confirmou o título gaúcho do Internacional, botando fim em uma fila de oito anos sem troféu. A conquista confirmou um estadual dominante e invicto, de uma equipe que, além de ofensivamente, foi segura no setor defensivo, comandado por Vitão.
O zagueiro de 25 anos, consolidado no elenco, é um dos pilares da campanha. No entanto, o dono da faixa de capitão em algumas partidas do Gaúcho, Vitão não quer parar nesse título, como revelou em entrevista exclusiva à PLACAR.
“Eu quero mais títulos aqui. Quero Libertadores, Brasileiro, Copa do Brasil… e a gente tem esses campeonatos pela frente este ano. Vamos continuar com os pés no chão, são campeonatos difíceis, mas nós somos o Internacional“, disse.
Os planos para o jogador chegam em momento de alta. E para ele, a realização ocorre anos depois de vivenciar o drama do início da guerra entre Ucrânia e Rússia enquanto atuava pelo Shakhtar Donetsk.
Os conflitos começaram em 24 de fevereiro de 2022, quando forças russas invadiram o território ucraniano. Os embates resultaram em milhares de mortes, destruição de cidades e um êxodo de refugiados, impactando também o futebol do país.
Com Miguel, um de seus filhos, recém-nascido, Vitão viu o início dos conflitos e relatou o temor: “Fiquei com muito medo, foi muito rápido. A gente estava em pré-temporada, na Turquia, e no Brasil já estava chegando notícias. Procurei saber com a diretoria e eles falaram que exageravam nas notícias, tanto que voltamos para Kiev. Mas depois de exatamente dois dias, estourou.“

E o defensor continua, contando detalhes e como se deu o processo de saída do país: “Estava dormindo e começou a passar jato voando baixo e explodir barulho de bomba, sabe? A Camila, minha esposa, me acordou, assustada, e nisso o Dodô, que hoje está na Fiorentina, já me ligou. Ele morava no meu prédio, estava sozinho e subiu para meu apartamento. E aí, no hotel que a gente concentrava no Shakhtar tinha um bunker, então eles falaram para nos reunirmos e lá ficamos, mas começou a acabar a água, comida e a fralda do meu filho… isso até conseguirmos a volta para o Brasil.”
Chegada ao Inter e bom momento
A guerra ocasionou em uma medida da Fifa, que permitia que os atletas de clubes de Rússia e Ucrânia negociassem contratos com outras equipes. Assim, Vitão foi contactado pelo Inter e não demorou a confirmar a vontade de atuar pelo clube.
“Assim que eu cheguei no Brasil eles falaram comigo, mas eu não estava com cabeça. Só que eu dei minha palavra: ‘se eu ficar no Brasil, vou optar para jogar no Internacional’. É um clube gigante, que eu tinha vontade de conhecer mais de perto. Eles entenderam meu tempo e logo depois voltamos a conversar. Nisso eu já tinha falado com a minha família e acertamos inicialmente o empréstimo”, confidenciou o atleta.
Anunciado em abril de 2022 como reforço, tão logo renovou o empréstimo por mais um ano – e posteriormente a contratação definitiva. Logo na primeira temporada, assumiu a posição de titular.
Porém, em meio a uma fila, Vitão confirmou que houve certa desconfiança da torcida no início. Contudo, logo superou essa fase: “Nos primeiros meses, acho que eu precisava provar. E, querendo ou não, quando postam alguma coisa de você, às vezes você vai olhar. Então, o meu desafio maior foi me provar, mostrar quem eu sou. Cheguei em uma fase não muito boa aqui do Inter, mas comecei a jogar muito rápido, o time começou a engrenar, e deu certo.”
Desde 2024 com o treinador Roger Machado, o zagueiro passou a se destacar ainda mais junto à grande fase coletiva. Nessa linha, passou a ter seu nome ventilado quando o assunto é seleção brasileira.

Todavia, para ele, o sonho de vestir a Amarelinha deve ser uma consequência do sucesso no Colorado. “Sempre tem comentário do tipo: ‘Ah, é Dorival veio assistir um jogo e deve estar olhando o Vitão’. E eu? Particularmente, não fico com a minha cabeça nisso, fico 100% no Internacional. Até porque, para eu ter uma oportunidade, o time tem que estar bem. Claro, tenho esse sonho, sim, mas, por exemplo, prefiro ganhar todos os grenais“, falou em tom bem humorado.
Vitão, dessa forma, se colocou entre os melhores do país em sua posição. Em números, terminou o Brasileirão de 2024 com média de 8,4 ações defensivas por partida e sem nenhum erro que levou a finalização adversária, segundo o Sofascore.
As estatísticas favoráveis se estendem também para o Gaúchão. Em 10 jogos, foram 31 cortes realizados, além de 80 bolas recuperadas e cinco partidas sem sofrer gol.