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Real Sociedad x Athletic Bilbao: 7 curiosidades sobre o Dérbi Basco

Rivais, não inimigos. Clubes de San Sebastián e Bilbao costumam se estranhar em campo, mas lutam por um objetivo comum: representar bem o País Basco 

San Sebastián – O País Basco amanheceu em festa, com bandeiras azuis e vermelhas pelas janelas e sorrisos orgulhosos pelas ruas. Real Sociedad e Athletic Bilbao, os dois clubes mais importantes da região ao norte da Espanha, chegaram à semifinal da Copa do Rei nesta quinta-feira 6 ao eliminar nada menos que os gigantes Real Madrid e Barcelona, respectivamente. No próximo domingo 9, um deles poderá fechar uma semana perfeita, pois se enfrentam no estádio de Anoeta, pela Liga Espanhola, no chamado Dérbi Basco.

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O clássico da região pode não ser tão conhecido mundialmente como os da Catalunha ou da capital, nem tão intenso como o andaluz, Sevilla x Betis, mas é um dos mais simbólicos do futebol espanhol, com uma história centenária e até língua própria, o euskera, incompreensível idioma cujas origens são desconhecidas e pesquisadas até hoje. Os rivais estão próximos na classificação: o Athletic é o sexto, com 36 pontos, dois a mais que a Real Sociedad, oitava.

PLACAR está em Euskadi (País Basco, em euskera) para conhecer a cultura do futebol local (confira bastidores das passagem por Bilbao, Eibar, Vitoria e San Sebastián nos stories no Instagram da revista) e acompanhará o jogo de domingo. Saiba mais sobre o Dérbi Basco:

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Clubes tradicionais e campeões

Apesar de terem recentemente remodelado seus estádios, os imponentes San Mamés e Anoeta, e de desfrutarem de certa saúde financeira, os clubes bascos têm investimentos infinitamente inferiores a Barcelona, Real Madrid e Atlético. Por isso, nas últimas décadas de futebol incrivelmente globalizado não vêm conseguindo repetir as façanhas do passado. A Real Sociedad tem dois títulos, conquistados em 1981 e 1982. O Athletic venceu as duas temporadas seguintes, chegando a oito taças. O time de Bilbao é famoso por ser “copeiro”: tem 23 troféus da Copa do Rei, atrás apenas do Barcelona (30). Desde o primeiro encontro em 1909, o Athletic leva vantagem no confronto direto: ganhou 75, perdeu 55 e empatou 47, em jogos válidos por todas os torneios oficiais.

Perfis distintos

Separados por cerca de 100 quilômetros (pouco mais de uma hora de carro pelas impecáveis estradas bascas), os clubes de Donosti e Bilbo (San Sebastián e Bilbao em euskera) têm origens quase opostas. O Athletic foi fundado primeiro, em 1898, onze anos antes do rival. Ironicamente, o time de Bilbao, que há mais de um século adota a política de não contratar estrangeiros, foi fundado por trabalhadores ingleses que buscavam aço nas minas locais. Por isso, o lado vermelho da região tem origens operárias, rebeldes, enquanto a Real Sociedad carrega um perfil mais cosmopolita e elitizado. O Rei Alberto III era um turista assíduo do cenário paradisíaco de San Sebastián e, por isso, conferiu ao clube da cidade, então chamado de San Sebastian Foot-Ball Club, o título de “Real”, um ano após sua fundação. O Athletic é o clube mais popular da região e nas pesquisas costuma brigar com Valencia e Sevilla pelo posto de quarto clube com mais torcedores na Espanha, atrás de Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madri.

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Ikurriña: um símbolo em comum

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Em passeios por Bilbao, Eibar, a capital Vitória e San Sebastián, nenhuma bandeira espanhola foi avistada. Já a Ikurriña, a bandeira vermelha, verde e branca do País Basco, estava por toda a parte. O item já foi protagonista de um dérbi histórico, no qual os capitães dos times se uniram em um ato político. Durante a ditadura franquista (1939 a 1975), a Ikurriña, o euskera e qualquer traço da cultura basca eram vetados no território espanhol, pois eram associados a movimentos separatistas e terroristas. Neste contexto, em 5 de dezembro de 1976, pouco depois da morte de Francisco Franco e quando a bandeira de Euskadi ainda estava proibida, Jose António Uranga, um meia da Real Sociedad e fervoroso independentista, entrou no estádio de Atotxa, antiga casa do time, com uma bandeira escondida. Falou com os adversários e, para delírio geral, os capitães do time decidiram entrar em campo com ao item na mão. Pouco mais de um mês depois, a Ikurriña foi liberada, e, atualmente, está estampada na camisa dos dois rivais bascos. Os movimentos independentistas no País Basco arrefeceram depois do cessar-fogo permanente proclamado pelo grupo terrorista ETA em 2011. 

Celeiro de talentos

Os dois clubes de Euskadi têm como principal característica a valorização de suas categorias de base. Tal qual o Barcelona, que se orgulha de ter forjado craques como Messi, Xavi e Iniesta em La Masia, o Athletic e a Real Sociedad têm nos centros de Lezama e Zubieta, respectivamente, seus maiores tesouros e fontes de renda. A equipe de Bilbao depende ainda mais da captação de talentos, já que desde 1919 só admite atletas nascidos ou desenvolvidos no País Basco. A Real Sociedad se abriu para o mercado estrangeiro há três décadas, mas segue valorizando a produção caseira. “Atualmente, quase 60% do nosso elenco é formado por jogadores da nossa base e esperamos que esse número cresça”, garante o diretor de comunicação Luis Arconada, que é filho e homônimo do lendário goleiro do clube na década de 80. Nos últimos anos, a Sociedad revelou jogadores como Xabi Alonso, Illaramendi e o francês Antoine Griezmann, enquanto o Athletic, que tem mais de 150 escolinhas conveniadas no País Basco e costuma “roubar” talentos dos vizinhos, faturou com as vendas do goleiro Kepa, do zagueiro Aymeric Laporte e dos meias Javi Martínez e Ander Herrera.

Jogo apenas para bascos até 1989

A presença de estrangeiros em campo é motivo de debate desde os primórdios do Dérbi Basco. O Athletic decidiu abrir mão de seus atletas ingleses já no início do século passado após protestos do rival de San Sebastián, que o viam como maus exemplos e denunciavam irregularidades em suas inscrições. A Real Sociedad também evitou estrangeiros até uma nova polêmica, já em 1989. Abalado pelas vendas de Bakero, Beguiristain e López Rekarte ao Barcelona e pela ida do zagueiro Loren justamente para o rival Athletic, o time de Donostia, então dirigido pelo galês John Toshack (técnicos estrangeiros são permitidos pelos dois clubes) decidiu contratar o atacante irlandês John Aldridge, estrela do Liverpool. Desde então, mandou a campo diversos forasteiros, com destaque para o goleiro chileno Claudio Bravo e o atacantes Nihat (Turquia), Kovacevic (Sérvia) e Carlos Vela (México). A abertura aumentou a animosidade entre os clubes: em Bilbao, os rivais foram acusados de vendidos, enquanto San Sebastián passou a acusar os vizinhos de sempre tentarem “roubar” seus jovens talentos.

Raros brasileiros em campo

Justamente pela política dos clubes de proibir ou limitar a contratação de estrangeiros, poucos brasileiros participaram do dérbi. Um deles teve a honra de defender os dois clubes, mas só jogou o dérbi pelo lado de Bilbao: o ex-goleiro Vicente Biurrun, hoje com 60 anos, nasceu em São Paulo, mas ainda criança viajou para a terra dos pais. Outros seis brasileiros passaram pela Real Sociedad: Luiz Alberto, Júlio César, Sávio, Rossato, Jonathas e o atual atacante do time, Willian José, que vive momento conturbado depois de se negar a jogar pelo clube enquanto negociava, sem sucesso, com o Tottenham.

Willian José
O atacante brasileiro Willian José está na reserva após polêmica Robert Atanasovski/AFP

Clima amistoso

O dérbi é apenas no domingo, mas todos em Euskadi fazem questão de garantir: haverá uma linda festa conjunta, com torcedores rivais juntos no entorno e nas arquibancadas do Anoeta. Diferentemente do que acontece na maioria dos clássicos no mundo, os fãs de Real Sociedad e Athletic mantêm ótima relação e costumam receber os visitantes com carinho (e, claro, muitas bandeiras bascas). “É uma atmosfera muito boa, uma rivalidade sadia. Há mais animosidade contra Barcelona e, sobretudo, Real Madrid. Nós até torcemos muitas vezes pela Real Sociedad contra os times grandes”, explica Tomás Ondarra, diretor do Athletic. Os bastidores do dérbi estarão disponíveis nas redes sociais de PLACAR.

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