Oito momentos em que política e esporte entraram em campo juntos
Apresentador Tiago Leifert criticou manifestações em eventos esportivos e levantou debate. Ao longo da história, diversos atletas se posicionaram
O apresentador Tiago Leifert causou muita discussão nesta segunda-feira ao publicar um texto em sua coluna no site da revista GQ, da Editora Globo, no qual defende que “evento esportivo não é lugar para manifestação política“. O jornalista e apresentador da Rede Globo citou o caso de Colin Kaepernick, jogador de futebol americano, que iniciou grande protesto nos Estados Unidos ao ajoelhar-se no momento do hino americano, em defesa dos negros. Para Leifert, Kaepernick está sem emprego no momento, pois os times não querem um troublemaker (causador de problemas) no elenco, e o esporte deve ser um “desligamento da realidade”, um momento de relaxamento e não de mais tensão. Nas redes sociais, muitos internautas criticaram seu posicionamento e citaram alguns casos históricos em que esporte e política se misturaram. Relembre alguns deles:
Jesse Owens frustra Hitler
O Comitê Olímpico Internacional (COI) defende a neutralidade política e religiosa e seu regulamento proíbe manifestações durante os Jogos Olímpicos. No entanto, a política sempre rondou a competição. Um dos casos mais célebres aconteceu nos Jogos de Berlim, em 1936. Adolph Hitler pretendia usar a Olimpíada como propaganda do Regime Nazista, mas um atleta afro-americano tratou de desafiar a tese da superioridade ariana. O velocista Jesse Owens conquistou quatro medalhas de ouro, incluindo a da prova dos 100 metros rasos. No pódio, Owens se negou a olhar para a tribuna do Führer, que já havia deixado o Estádio Olímpico.
Panteras Negras em 1968
Nos Jogos da Cidade do México, em 1968, os americanos Tommie Smith, medalha de ouro, e John Carlos, de bronze, entraram para a história com um protesto silencioso e muito significativo.
Os dois subiram ao pódio descalços, com a cabeça baixa, e ergueram o punho fechado com uma luva preta, uma saudação consagrada pelos Panteras Negras, um grupo de combate à discriminação nos EUA. Pelo protesto, os dois foram expulsos da Vila Olímpica.
EUA x URSS: boicote olímpico
No auge da Guerra Fria, os Jogos Olímpicos perderam duas de suas maiores potências por conflitos políticos. Pouco antes dos Jogos de Moscou-1980, os Estados Unidos anunciaram que não participariam da competição, em represália a uma intervenção soviética no Afeganistão, um ano antes. A resposta veio quatro anos depois, quando a URSS anunciou o boicote aos Jogos de Los Angeles-1984, alegando que seus atletas não estariam protegidos de possíveis protestos e ataques americanos.
De Clay a Ali
Um dos maiores nomes do esporte em todos os tempos foi também um grande ativista político. Em 1967, logo após conquistar o cinturão dos pesos-pesados, o pugilista americano Cassius Clay mudou seu nome para Muhammad Ali e se converteu ao islamismo, influenciado pelo ativista negro Malcolm X. O pugilista já era um símbolo da luta contra o preconceito racial. Após ser convocado para defender os EUA, seu país natal, na Guerra do Vietnã, se recusou por motivos religiosos e perdeu o cinturão, foi multado em 10.000 dólares e foi punido com cinco anos de prisão. Apelou aos tribunais e foi absolvido pela Suprema Corte, para depois se tornar a maior lenda do boxe.
Mussolini e a Copa de 1934
Pouco antes da II Guerra Mundial, a Itália foi sede da Copa de 1934. Benito Mussolini, ditador que comandava o país, usou a popularidade do torneio para difundir as ideias fascistas. Com o título da Itália, ele pode “exaltar a supremacia fascista italiana” com uma seleção com diversos “Oriundi”, jogadores com ascendência italiana, mas nascidos em outros países. Antes dos jogos, os atletas italianos faziam o símbolo fascista para o líder, que via os jogos nas arquibancadas. As cobranças do ‘Duce’ duraram até o Mundial de 1938, com as pressões da mensagem “vencer ou morrer”, dada pelo chefe.
Mandela no Mundial de Rúgbi em 1995
Em história contada no livro Invictus, que depois virou filme, Nelson Mandela usou o Mundial de Rúgbi de 1995, disputado na África do Sul, para unir o povo local. Mandela foi o primeiro presidente negro eleito após o fim do Apartheid, regime de segregação racial adotado no país entre 1948 e 1994, que cerceava os direitos da maioria de habitantes negros do país. Mandela chegou ao poder no fim de 1994 e usou o Mundial do Rúgbi, esporte preferido pela minoria branca, para unir os povos. A campanha vitoriosa do time sul-africano fez com que os negros, que torciam contra a seleção, apoiassem o time, enquanto os brancos, que eram contra a mudança pela qual o país passava, aceitassem melhor a nova fase, com novo hino, bandeira e presidente.
Democracia Corinthiana
O Brasil ainda vivia sob a Ditadura Militar quando um movimento de atletas politizados de um dos clubes mais populares do país ganhou destaque. A partir de 1981, quando uma nova diretoria assumiu o Corinthians, os atletas reivindicaram maior poder em decisões importantes, como contratações, idas à concentração, premiações, etc. Sócrates era um dos líderes do carismático movimento, assim como Wladimir e o jovem Casagrande, numa época de sucesso do time também dentro de campo. O movimento ideológico foi crescendo e o Corinthians passou a ser um símbolo da luta em favor da democracia no país.
Coreias unidas
Recentemente, a Olimpíada de Inverno de PyeongChang celebrou a tolerância, com a aproximação das Coreias do Norte e do Sul. Uma delegação unificada, sob uma única bandeira, desfilou lado a lado no Estádio Olímpico de PyeongChang. Uma das ações usadas para promover a presença da Coreia do Norte nos jogos foi a criação de uma equipe unificada feminina de hóquei no gelo, com atletas dos dois países. O time perdeu os cinco jogos que disputou, marcou apenas dois gols e sofreu 28. Mas a ideia foi tão elogiada que uma integrante do conselho executivo do COI (Comitê Olímpico Internacional), Angela Ruggiero, disse que vai indicar a equipe ao Prêmio Nobel da Paz.