O vai-não-vai de Blatter
Auditor da Fifa cobra definição do presidente sobre sua saída do cargo
“Pare de flertar com o poder”. Foi com esta frase que o suíço Domenico Scala, auditor da Fifa encarregado de conduzir o processo eleitoral na entidade, veio a público cobrar um posicionamento do presidente Joseph Blatter. Enredado no escândalo que trouxe aos holofotes a corrupção na instituição máxima do futebol, Blatter se viu forçado a anunicar a convocação de novas eleições para o seu próprio cargo apenas quatro dias depois de conquistar o quinto mandato. Na ocasião, ele não usou a palavra renúncia, mas enfatizou que não seria candidato. Nos bastidores, porém, vem deixado ambiguidade no ar — justamente o que incomodou Scala. “Peço a todos os interessados, incluindo o senhor Blatter, que endossem o interesse inequívoco nas mudanças anunciadas, mudando o comando do topo da Fifa”, disse Scala, em comunicado emitido neste domingo.
O temor de Scala não é infundado. Na noite da última quinta-feira, Blatter conversou com um grupo de dirigentes e lembrou que não renunciou. “Eu me coloquei e coloquei meu gabinete nas mãos do Congresso da Fifa”, explicou. Pessoas próximas a ele fizeram ventilar que o cartola estaria repensando sua decisão. Blatter tenta selar alianças principalmente na África e na Ásia, dizem. Circula ainda a história de que aliados estariam dispostos a apresentar seu nome como o único que poderia angariar apoio de mais de 50% dos membros da Fifa.
Neste sábado, Blatter deu entrevista a um jornal suíço, o Walliser Bote, garantindo que não continua no comando do futebol mundial e que, sim, novas eleições estão previstas para o início de 2016. Segundo o homem que ficou dezessete anos à frente da Fifa, sua decisão de sair foi “libertadora”. “Essa era a única forma de tirar a pressão da Fifa e de meus empregados, inclusive a pressão de patrocinadores”, explicou. Mas, quando o jornal pediu que declarasse, pousando a mão sobre o coração, suas verdadeiras intenções para o futuro, e se confirmaria a especulação sobre seus planos de ficar, Blatter manteve o suspense: “Não sou candidato. Mas sou o presidente eleito. Quero entregar a Fifa em boas condições.”
(com Estadão Conteúdo)