PLACAR conversou com meia brasileiro que atua na liga de futebol em um dos únicos países do mundo que ainda apoia eventos com aglomeração de pessoas
A pandemia de coronavírus praticamente parou o futebol mundial, mas Nicarágua, Turcomenistão e Bielorrússia são os únicos países de exceção, mantendo a disputa de seus campeonatos nacionais e ignorando a gravidade da Covid-19 e as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). No país da América Central, eventos como missas, festivais e partidas esportivas foram liberados pelo presidente Daniel Ortega.
Os líderes dos três países, ao lado do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, formam o que o jornal Financial Times chamou de “a aliança dos avestruzes”: a postura negacionista do grupo diante do problema causado pela Covid se assemelha ao comportamento da ave que, segundo a lenda urbana, enterra a cabeça na areia quando precisam enfrentar um perigo.
Além do “Bielorrussão”, o campeonato de futebol da Nicarágua foi o único a não ter sofrido interrupções devido à pandemia (a liga turcomena ficou paralisada por um breve período). O torneio conta com poucos brasileiros, mas o meia Christiano Fernandes, do Managuá FC, é um dos estrangeiros que já fincou raízes no país: o jogador de 34 anos já disputa há quatro a competição. Apesar dos perigos que a manutenção do campeonato traz, Christiano garante que não está preocupado com o coronavírus.
“A vida está tranquila por aqui, sem preocupações. No time, igual. Meus familiares no Brasil estão bem, graças a Deus. Não me preocupo com eles”, contou o jogador do Managuá, equipe da capital nicaraguense, que está garantida na semifinal da competição.
A falta de preocupação está alinhada com os esparsos discursos do presidente Ortega, que após 34 dias sem dar notícia deu o ar da graça na última quinta, pouco falando sobre o vírus ou medidas de prevenção. Segundo ele, não há maneiras que podem bloquear o avanço do coronavírus e declarar quarentena é um ato extremista.
A vice-presidente Rosario Murillo, casada com Ortega, apoia um programa de incentivo à missas, aglomerações e visitas a casas. Além disso, ela criou uma marcha política chamada “O amor nos tempos da Covid-19”.
A Nicarágua tem oficialmente apenas 10 casos de infecção por coronavírus confirmados e dois óbitos em seu território, mas os dados divulgados pela imprensa local mostraram que o país pode estar diante de cerca de 32 000 casos da doença. Segundo o jornal Confidencial, de Managuá, o governo trata a gestão do coronavírus debaixo dos panos.