Pelé: os altos e baixos de uma família real
Da gratidão aos pais às polêmicas envolvendo os filhos Edinho e Sandra, a vida pessoal de Pelé foi uma novela seguida bem de perto pelos brasileiros
Mais até do que o talento inigualável e sobrenatural com a bola nos pés, Pelé sempre fez questão de creditar seu sucesso à sólida estrutura familiar recebida pelo cidadão Edson Arantes do Nascimento. Méritos, portanto, da mãe Celeste Arantes do Nascimento, que segue viva, aos 100 anos, e o pai, João Ramos do Nascimento, o Dondinho, morto em 1996. De origem simples, o casal venceu a batalha cotidiana para criar três filhos nas cidades de Três Corações (MG) e Bauru (SP): Edson, Maria Lúcia e Jair, o Zoca. Ela dona-de-casa, ele jogador de futebol de carreira pouco brilhante, dono de ao menos uma grande façanha não repetida pelo filho ilustre: marcar cinco gols de cabeça em uma só partida.
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O craque bem que tentou replicar a estabilidade doméstica aprendida com os pais, mas sua vida como chefe de família acabaria sendo bem mais agitada. Do casamento com Rosemary Cholby, entre as décadas de 1960 e 1970, nasceram Edinho, Kelly Cristina e Jennifer; a união com Assíria Lemos, nos anos 1990, gerou os gêmeos Celeste e Joshua. Em 2016, o ex-jogador se casou pela terceira vez, com a empresária Márcia Aoki, 25 anos mais jovem, que esteve a seu lado até seus últimos dias.
O Rei teve ainda duas filhas fora dos matrimônios: Sandra Regina Machado, nascida em 1964, e Flávia Kurtz, nascida em 1968. Flávia foi reconhecida oficialmente pelo Rei de forma espontânea. Sandra apenas conseguiu o reconhecimento da paternidade na Justiça – um longo caso que deixou, para muitos, uma mácula indelével na imagem de Pelé, e que ele mesmo dizia ter levado com sofrimento nos últimos anos de vida.
O processo começou em 1991, mas apenas em 1996, depois dos exames de DNA, é que Sandra ganhou o direito de usar o sobrenome do Rei. Ainda assim, Pelé manteve-se distante da filha. No ano 2000, usando como bandeira a instituição do teste gratuito de DNA para pacientes da rede pública – plataforma que depois viraria lei federal –, Sandra Regina foi eleita vereadora em Santos, alcançando a reeleição em 2004. Dois anos depois, porém, morreu de falência múltipla de órgãos, em decorrência de um câncer de mama.
Pelé viveu outro drama judicial também com o filho Edinho, ex-goleiro com passagem marcante pelo Santos, onde também foi membro da comissão técnica, condenado por lavagem de dinheiro e envolvimento com tráfico de drogas e preso pelo menos em três diferentes ocasiões.
Pelé morreu nesta quinta-feira, 29. Tinha 82 anos e estava internado desde o último dia 29 de novembro no hospital Albert Einstein, em São Paulo, para tratamento de um quadro de infecção respiratória e reavaliação da terapia quimioterápica – que, assim como os medicamentos, já não respondia mais para interromper o crescimento de metástases.