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Na Inglaterra, está aberta a temporada de caça à Raposa

O mundo inteiro fala do Leicester, o clube que nunca foi campeão e, nas mãos de um treinador italiano e com baixo orçamento, lidera a Premier League quando só faltam disputar sete rodadas. Um hit!

Por que o pequeno Leicester (conhecido como ‘Foxes’ devido ao fato de sua cidade ser famosa por abrigar o duvidoso esporte de perseguição às raposas) é o time a ser caçado na Barclays Premier League 2015/2016? Não há uma razão, são várias, e iremos a seguir desvendá-las uma a uma.

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No dia 6 de fevereiro passado, jogaram, no Etihad Stadium, o líder contra o quarto colocado da Barclays Premier League, o mandante Manchester City contra o Leicester. Em temporadas ‘normais’, a frase anterior estaria correta, mas na presente os fatos a tornam errada. Porque, diferentemente do que a realidade mostrava naquela ocasião, não era um jogo do líder City contra o quarto colocado Leicester (posição que já seria uma surpresa e tanto para o modesto time da 13ª cidade do Reino Unido), e sim o contrário. Dentro do moderno estádio da equipe mancuniana (gentilício do habitante de Manchester), também se via a inversão de valores dentro da atual Premier League. Jogando como time grande que nunca foi, o Leicester dominou totalmente a partida e aplicou um ‘chocolate’ no time do Kun Agüero. Só não venceu por 3 a 0 porque o atacante argentino diminuiu o prejuízo a três minutos do final da partida.

Mesmo que não consiga conquistar o título (a disputa está acirradíssima contra o próprio City, o Arsenal e o Tottenham), será quase impossível os ‘Foxes’ não beliscarem ao menos uma copa europeia. Até a 31ª rodada, estão a 16 pontos do primeiro time fora da zona de classificação para a Champions League, o West Ham (66 x 50 pontos), que naquela altura do campeonato conseguiriauma vaga para a Europa League.

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A distância para a zona de rebaixamento (lugar que costumeiramente frequentava nas temporadas anteriores, quando na divisão de elite) é quilométrica: 40 pontos de diferença parao Sunderland (66 x 26 pontos), na primeira vaga da zona da degola. Isso tudo a sete rodadas do final da temporada, com 21 pontos a disputar: quatro em casa, onde só perdeu uma vez, e três fora, como visitante.

O Leicester causa surpresa em todos que acompanham o futebol inglês de perto. Afinal, a Premier League não é famosa pela alta rotatividade de campeões. Em 24 anos de história, apenas cinco clubes a venceram: Chelsea, Arsenal, Manchester United, Manchester City e Blackburn. A conquista deste último, o time que tem como mais ilustre torcedora a rainha Elizabeth, em 1994/95, foi a única aberração nessas duas décadas e meia de campeonato. É nesse seleto grupo de clubes que o Leicesterestá prestes a entrar. Um petit comité do qual não fazem parte clubes com muito mais tradição e títulos – de antes da existência da Premier –, como o Liverpool (18 do chamado Campeonato Inglês que acabou na temporada 91/92), Everton (9) e Aston Villa (7, que na atual temporada briga desesperadamente para não cair para a Championship, a segundona local). Além disso, o clube está há apenas duas temporadas na Premier League (foi campeão da Championship em 2013/2014), e na estreia, 2014/2015, acabou em um modesto 14° lugar. Um fato é certo: esta será a melhor campanha da história do Leicester – até então o melhor resultado dos ‘Foxes’ na Premier League foi um oitavo lugar em 1999/2000.

As surpresas vão se diluindo à medida que as informações vão aparecendo. O 14° lugar na Premier passada pode realmente parecer uma colocação intermediária, mas o modo como foi conquistada revela alguns indícios do que estaria por vir. Após um começo medíocre, o Leicester conseguiu piorar ainda mais seu rendimento entre as 22ª e 30ª rodadas, quando obteve apenas 2 pontos – permaneceu durante o chamado Boxing Day (aquelas rodadas disputadas antes e depois do Natal) na lanterna, e foi apenas o terceiro time a conseguir se safar do rebaixamento no final da temporada da Premier League nessa condição.

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O que veio a seguir foi uma reação fulminante do time, que nas nove rodadas finais não só conseguiu permanecer na divisão de elite como assegurou um honroso 14° lugar, com 7 vitórias, um empate e apenas uma derrota, para o campeão Chelsea.

E a força da reação estendeu-se para a temporada corrente. Na sequência dos nove últimos jogos da temporada passada mais os três primeiros de 2015/2016, os ‘Foxes’ conseguiram 29 pontos em 36 possíveis, com 9 vitórias, 2 empates e apenas uma derrota. A pontuação é melhor que as do campeão e vice da última temporada (Chelsea e Manchester City, ambos com 27 pontos), e de dois dos mais fortes concorrentes da atual (Tottenham, 16, e Arsenal, 22).

O sucesso dos ‘Foxes’ na atual temporada pode ser atribuído em parte aos resultados dos investimentos no clube feitos pelo seu proprietário, o milionário tailandês Vichai Srivaddhanaprabh (fundador do King Power Duty Free, que opera milhares de free-shops em aeroportos de todo o mundo). Vichai, nona fortuna de seu país, que adquiriu o Leicester em 2011, gastou 34,9 milhões de libras em contratações que vieram, quase todas, para entrar no time titular, como o atacante japonês Shinji Okazaki (7 milhões de libras), e o meia francês N’Golo Kanté (5,6 milhões de libras). Na verdade, poucos levaram a sério o dono do King Power International Group, uma das mais poderosas empresas do ramo turístico da Ásia, quando ele afirmou, em 2014, durante o anúncio do investimento de 183 milhões de libras (R$ 800 milhões) no clube – NdR: não no futebol – de que em três anos “o Leicester estará entre os cinco primeiros da Premier League”. Foi modesto. Um ano antes do previsto deverá estar entre os cinco primeiros. E poderá chegar muito mais longe que isso ao final das 38 rodadas do torneio. Naquele momento, a principal ambição do empresário era fazer o Leicester retornar às competições europeias, das quais não participa desde 2000/2001, quando disputou a extinta Copa da Uefa por ter sido campeão da Copa da Liga Inglesa (não é a FA Cup). Os milhões investidos no futebol, que soam muita coisa em nossa empobrecida economia, lá são nada quando comparados com os big five ingleses (ver quadro separado, abaixo).

O empresário tailandês também decidiu alterar o nome do estádio do Leicester (Walkers Stadium) para a denominação de sua empresa. O campo de jogo da ‘Raposa’ pomposamente chama-se hoje King Power Stadium.

Outro responsável pela chamativa subida de patamar dos ‘Foxes’ é o agora esquecido ex-técnico Nigel Graham Pearson, que esteve no Leicester desde a temporada 2011/2012, chegando ao clube praticamente junto com o milionário tailandês – na verdade um retorno, porque já passou por lá entre 2008 e 2010. Foi ele quem após o Boxing Day da temporada passada deu uma injeção de ânimo ao elenco, que contava como principal nome o meia argentino ‘Cuchu’ Cambiasso. Nigel só não permaneceu para o campeonato atual porque brigou com toda a diretoria em junho passado e ficou sem condições morais para continuar.

Para o seu lugar, foi escolhido um nome conhecido no mundo da bola, dentro das ambições atuais do Leicester: o italiano Claudio Ranieri. O novo treinador chegou em um ótimo momento. Embalado pelo exuberante final da temporada anterior e contando com bons reforços, montou o time com a sua cara. Ranieri é o treinador italiano que atuou mais temporadas em clubes fora de seu país (oito), mas não tem um currículo excepcional. Seu título internacional mais expressivo foi a Supercopa da Europa em 2004, conquistada no comando do Valência hispano, contra o Porto. Nos últimos anos, conseguiu seus melhores resultados no Mônaco, subindo o time francês para a Liga 1 em 2013/2014 e sendo vice-campeão da elite francesa na temporada seguinte.

Ao chegar a Leicester (159 km a noroeste de Londres), em julho passado, Ranieri encontrou uma equipe crescente, mas já sem o seu líder, Cambiasso, que foi jogar no Olimpiacos grego. Os dois principais nomes que iriam fazer furor na atual temporada, entretanto, já estavam lá: o impiedoso atacante Jamie Vardy, pinçado da Non-League Football (a grosso modo pode ser comparada à Segunda Divisão dos campeonatos estaduais no Brasil, um estágio intermediário entre o bom amadorismo e o pior profissionalismo) e o meia francoargelino Riyad Mahrez, que alimenta o matador nos mortais contra-ataques dos ‘Foxes’. A dupla fez, até a 31ª rodada, 35 gols pela Premier League. Mais do que os times completos de Aston Villa (22), Newcastle (29), West Bromwich (30), Watford (30), Swansea City (31), Crystal Palace (32), Norwich City (32) e Stoke City (34). Vardy é o vice artilheiro da Premier League, com 19 gols, e Mahez o quarto, com 16.

O atacante, em 2014/2015, fez 5 dos 49 gols do Leicester, que, entretanto, tinha uma equipe menos azeitada. Outros remanescentes da campanha passada são o ótimo goleiro dinamarquês Kasper Schmeichel, filho do lendário goleiro Peter Schmeichel (o ‘Grande Danês’), assim como seu reserva Mark Schwarzer, australiano titular do gol de seu país nas Copas do Mundo da Alemanha, em 2006, e da África do Sul, em 2010. Aqui, um parênteses: ter grandes goleiros é uma tradição no Leicester. O mítico Gordon Banks, um dos melhores goleiros da história do futebol, jogava no clube quando foi campeão mundial pela Inglaterra, em 1966, na polêmica final ante a Alemanha.

O grande mérito de Ranieri foi acertar a defesa, ponto crítico da equipe tanto na temporada passada como no início da atual. Nas nove primeiras rodadas de 2015/2016, o Leicester levou 18 gols, exatos dois por jogo. Na décima rodada, o treinador italiano substituiu os laterais Ritchie de Laet e Jeff Schlupp por Danny Simpson e pelo reforço austríaco Christian Fuchs, ex-Schalke 04. Depois da mudança, a zaga se fortaleceu. Nos jogos seguintes, tomou apenas 9 tentos, média de 0,56 por jogo. Protegidos por dois laterais marcadores, a dupla de zaga, formada por Robert Huth e Wes Morgan, especialistas no jogo aéreo, pôde mostrar melhor sua competência.

Outro ponto fundamental para a transformação do Leicester ocorreu no meio de campo. Não que Cambiasso pudesse ser responsabilizado pela eventual fragilidade do setor – afinal, foi com ele em campo que os ‘Foxes’ conseguiram aquela fantástica reação no final da temporada passada. Mas a vinda do japonês, Shinji Okazaki, um atacante que retrocede, deu mais consistência ao meio de campo, que foi ainda mais reforçado para a temporada com a chegada do francês N’Golo Kanté. O volante Danny Drinkwater, que costumava não ter grandes parceiros de qualidade para ajudá-lo a ‘carregar o piano’, com certeza agradeceu. O outro volante, Inler, o suíço agora titular, também.

O esquema tático de Cláudio Ranieri é um 4-4-2 bem organizado e dinâmico. Quando estão com a bola, os meias avançados Albrighton e Mahrez avançam, procurando o extrema Okazaki ou Vardy, dependendo da situação. Todos são velozes e finalizam bem. Vardy costuma desvencilhar-se facilmente da marcação. Vários gols ele conseguiu em jogadas em que recuava ao meio de campo e se virava rapidamente para receber e arrancar em direção à meta adversária.

Movimentação e intensidade são as palavras-chave. Sem a bola, a equipe forma-se em duas linhas de quatro, com apenas Mahrez (ou Okazaki) e Vardy ficando mais à frente. A sequência do campeonato é mais favorável ao Leicester do que aos rivais Já enfrentou todos seus principais concorrentes ao título (Arsenal, Tottenham e Manchester City, ida e volta) e, até o final, joga contra apenas dois clubes tradicionais (Chelsea e Manchester United, ambos fora de qualquer pretensão à taça). Também é o único concorrente ao título que poderá se dar ao luxo de concentrar todas as atenções à Premier League. Nesse aspecto, quem está mais complicado é o Manchester City, que joga Champions League; O Arsenal disputava a Champions League e a FA Cup. Já o Tottenham tem pela frente a Europa League.

Tudo conspira para o Leicester conseguir o melhor resultado de sua história na Premier League. Com grandes chances de levantar a taça em um local emblemático: Stamford Bridge, contra o último campeão, o Chelsea, na rodada final.

BOA CONDUTA

Uma das razões pelas quais o Leicester realiza esta campanha que surpreende o mundo do futebol é sua disciplina. O time não toma muitos cartões amarelos, apesar de ser dirigido por um treinador italiano e, em 31 rodadas, sofreu uma única expulsão, a que registra a imagem quando o zagueiro Danny Simpson – ex-Everton – recebeu seu segundo cartão amarelo contra o Arsenal.

Ah, isso foi na rodada 26… O juiz Martin Atkinson não foi unanimidade nesse jogo que o Leicester perdeu contra um dos gigantes londrinos.

RIYAD MAHREZ

O meia ofensivo nascido em 1991 em Sarcelles, França, mas de nacionalidade argelina, é o jogador ‘diferente’. Aos 25 anos, este canhoto que joga pela direita está em seu melhor momento. Já atuou pela Argélia na Copa do Mundo do Brasil, mas é agora, neste momento, que consegue expressar todo seu talento.

Arma, passa – com 11 assistências é o segundo no torneio neste quesito, atrás apenas do alemão Ozil, do Arsenal – e faz gols (anotou 16, os mesmos do Kun Agüero do Manchester City). Com 21 partidas na seleção de seu país, 11 deles como titular e quatro gols, já se fala que não ficará na ‘Raposa’ para o próximo campeonato. Chegou na temporada 2013/14 proveniente do francês Le Havre, em que, duas temporadas antes, estreou profissionalmente.

ESTRANGEIROS E EXPERIENTES

‘FOXES’ SEMPRE JUNTOS DO TIME

As ‘Raposas’ mantém a fidelidade à equipe, independentemente de seus êxitos ou fracassos. Desde que o clube mudou-se para seu novo estádio em 2002, após a saída de Filbert Street, jamais registrou menos de 20.000 ‘supports’, em nenhum jogo, mesmo quando o time de camiseta cor ‘azul real e branco puro’ foi rebaixado para a Liga 1, em 2008, o que acontecia pela primeira vez na longeva história do clube…

As estatísticas registram que, desde 2010, a maior ‘invasão’ da torcida alviceleste ocorreu no City Ground em 2012 no jogo da prestigiosa FA Cup contra o arquirrival regional, o Nottingham Forest. 8.000 fãs assistiram ao vivo o zero a zero final.

Muitos lembram que a torcida ultrapassou as fronteiras do Reino Unido nas únicas duas vezes em que participou da UEFA Cup: quando foi eliminado pelo Atlético de Madri na primeira ocasião (1997-98), e pelo Estrela Vermelha de Belgrado, na Sérvia (2000-01), na segunda.

Sua outra aventura internacional foi em 1961-62, no torneio de Ganhadores de Copas: ganhou do Glenavon de Gales na primeira fase e, na seguinte, perdeu para o Atlético Madri. Em todos os casos sempre houve uma turma de ‘Foxes’ alentando o time… Isso orgulha eles e os torna ‘únicos’ – ao menos segundo sua autoavaliação.

ONDE O CLUBE ESTÁ SEDIADO?

NA FA CUP TIME NÃO FOI BEM…

Pela terceira rodada, enfrentou um dos grandes ingleses, o Tottenham Hotspur, empatando em Londres, em 10 de janeiro, por dois a dois (primeiro período também empatado, um a um) e caiu em casa, em 20 de janeiro, por dois a zero, tomando um gol em cada tempo. Eliminado.

A ARTE DE VENDER E COMPRAR BEM

Na janela do verão passado, o Leicester se desfez de nove jogadores: os ingleses Liam Moore e Ben Hamer (Bristol City), David Nugent (Middlesbrough FC ), Paul Konchesky (Queens Park Rangers) e Nick Powell (Manchester United), o galês Tom Lawrence (Blackburn Rovers), o argentino Esteban Cambiasso (Olympiacos, da Grécia), o francês Anthony Knockaert (Standard Liège da Bélgica) e o neozelandês Chris Wood (Leeds United). Já com a Premier em marcha, negociou em setembro passado outros cinco: os britânicos Dean Hammond (Sheffield United) e Joseph Dodoo (Bury FC), o belga Ritchie De Laet (Middlesbrough FC), o croata Andrej Kramarić (Hoffenheim da Alemanha) eo caribeño de São Cristóvão e Nevis Harry Panayiotou (Raith Rovers). Catorze ao todo. Um time completo e mais três.

Para o início de temporada, trouxe em julho e agosto último, para o meio de campo o suíço Gökhan Inler, do Nápoli, e o francês N’Golo Kanté do Caen; para a defesa o austríaco Christian Fuchs, do Schalke 04, e o atacante japonês Shinji Okazaki, que estava no Mainz 05 da Alemanha. Quase todos eles titulares indiscutíveis hoje. Em setembro conseguiu o inglês Nathan Dyer, meia do Swansea City e antes que terminasse o ano ‘repatriou’ Joseph Dodoo. Agora, em janeiro, já com o vento em popa, se reforçou com o jovem goleiro dinamarquês Daniel Iversen, do Esbjerg fB, o ganês Daniel Amartey, que militava no FC København, da Dinamarca, e os ingleses Liam Moore, zagueiro do Bristol City, e Demarai Gray, atacante do Birmingham City. Com este elenco, o técnico italiano acredita que dará a volta olímpica.

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SEM RIVAIS

O Leicester só não pode, nesta temporada com o Arsenal, único time que o venceu as duas vezes. O Liverpool de Firmino o derrotou no jogo de ida, mas sucumbiu na volta. O Chelsea de Diogo Costa perdeu na ida – farão o último jogo do campeonato – e o City de Fernandinho empatou um e caiu no outro.

NOVA BABEL

Apesar da ‘Raposa’ ser uma nova Babel, não tem brasileiros. No time titular só há três ingleses, o defensor Simpson, o meia Albrighton e o artilheiro Vardy. Todos os demais são estrangeiros: goleiro dinamarquês, defensores de Alemanha, Jamaica e Áustria;meias de Argélia, Suíça e Gales; e o segundo atacante, japonês. Do Brasil ninguém, nem no banco de reservas.

UM STADIUM COM HISTÓRIA

O Leicester City foi fundado em 1884 por um grupo de alunos da escola Wyggeston. Seu primeiro nome foi Leicester Fosse, pelo fato de jogar em um campo nas proximidades da Fosse Road. Até a entrada na Football Association, em 1890, o time mandou seus jogos semiprofissionais em três estádios diferentes até a mudança para Filbert Street, tradicional local que recebeu as partidas do Leicester até o ano de 2002. Naquele ano deste novo século, o moderno Filbert Way terminou de ser construído. Hoje, o estádio leva o nome da patrocinadora do clube: King Power Stadium. 

Com capacidade para 32.500 pessoas, recebe até mesmo jogos da seleção inglesa. Neste ano, a grande singularidade é que não houve um único jogo em que as autoridades do clube não tiveram que colocar o cartaz com os dizeres ‘sold out’ (tudo vendido). Um momento incrível!

CINCO NA EURO 2016

Os ‘Foxes’ contam com cinco jogadores que defenderão quatro países na fase final da próxima Euro 2016, que começa em 10 de junho. São eles: Jamie Vardy (Inglaterra), Andy King e Tom Lawrence (País de Gales), Gokhan Inler (Suíça) e Christian Fuchs (Áustria) – sem contar Andrej Kramaric (Croácia) que deixou o clube recentemente. Igual, o técnico inglês Roy Hodgson (foto) segue o time – em família – e de perto.

POUCOS TREINOS E DUROS

“Meus garotos treinam muito, mas não muitas vezes. Na Inglaterra os jogos são de alta intensidade e eles necessitam mais tempo para recuperar-se que em outros países. Se jogamos em um sábado, o domingo é livre. Já na segunda nos reapresentamos com leveza, como se faz na Itália. Terça é dia de treino duro, quarta de repouso, quinta outra vez treino duro, sexta preparamos o jogo e sábado atuamos. Sempre busco que descansem dois dias na semana. É o pacto que fiz com os jogadores: eu acredito em vocês, mas vocês têm que correr muito”, revelou Ranieri à Gazzeta dello Sport.

KASPER, O FILHO DE PETER

Schmeichel não é um simples sobrenome. Ainda mais quando se trata de futebol e, principalmente, se a posição da qual se fala é a de goleiro. Peter Schmeichel, para muitos – entre eles alguns de nós – foi o maior goleiro europeu de todos os tempos e possivelmente do mundo. Claro, sempre defendeu o gol da Dinamarca, que nunca foi campeã do mundo e, portanto, para a galera que não vive este esporte tão de perto, não é um nome conhecido – fora a dificuldade que a pronúncia de seu nome gera. Mas, sem dúvida, ele entra em qualquer top-ten. 

Kasper Schmeichel, seu filho, não é tão excepcional quanto ele, mas é muito bom. Na temporada retrasada, aos 27 anos, anotou um gol, na Championship a caminho da Premier, contra o Yeovil Town; foi o primeiro. Seu pai marcou 13 gols. Essa distância não mostra a que realmente há entre um e outro, até porque o pai, que foi lenda no gol do Manchester United, não teve a chance de ser lenda num clube pequeno como o Leicester onde, parece, é mais difícil brilhar que junto a outros grandes nomes do firmamento mundial. 

No United o pai comemorou cinco títulos e encerrou sua carreira do outro lado da ponte de Manchester, no City. Curioso, pois foi nesse clube que o jovem Kasper iniciou a sua. E – dizem – pode continuar em breve nos ‘Diabos vermelhos’. O certo é que desde 2011 Kasper Schmeichel é peça fundamental dos ‘Foxes’ e da seleção dinamarquesa, cujo gol já defendeu em 18 oportunidades, fora as 11 em que atuou na equipe Sub-21. O pai, 8 cm mais alto que o filho, foi internacional 129 vezes e anotou um tento…

O PRÊMIO ERA PARA NÃO CAIR…

O experiente técnico Claudio Ranieri já passou por vários clubes europeus, como Inter e Juve da Itália, Valencia na Espanha e Chelsea, na Inglaterra. Conquistou algumas taças, mas nenhuma liga nacional. É a aposta do presidente Vichai Srivaddhanaprabha para chegar a uma boa posição na Premier League.

Na ocasião da assinatura do contrato, o dono do Leicester nem ambicionava chegar a um lugar tão alto na tabela: ofereceu um bônus ao treinador de 100 mil libras para cada posição que o clube chegasse acima da zona de rebaixamento, ao final da temporada. Isso hoje significa mais de R$ 10 milhões… O felizardo Ranieri diz que o segredo está na solidariedade que o time exibe. Mas, apesar de manter sua ideia de que “as equipes devem se montar de acordo com as características do elenco”, mudou coisas que podem ter dado efeito positivo; por exemplo, como os craques treinam mais do que ele pede e sempre estão com fome, lhes permite comer o que desejam…

“Não sei se seremos campeões, mas nos perguntar isso já é mais do que imaginávamos”, diz sorridente.

O ARROZ E FEIJÃO DA ‘RAPOSA’

POR HÉLIO NOZAKI – Especialista em táticas e estratégias (que diz que nenhum time brasileiro joga como o Leicester)

Desde 1996, o título de campeão inglês fica entre quatro equipes: Chelsea, Manchester City, Manchester United e Arsenal. O Blackburn Rovers, em 1995, foi o último clube a superar a hegemonia dos gigantes ingleses.

Já estamos no último terço da Premier League 2015/2016, para muitos, como nós, a mais competitiva do mundo atualmente, e uma equipe de 131 anos de existência pode novamente quebrar a sequência de títulos em quase 20 anos: o Leicester City.

Como explicar uma equipe que há duas temporadas estava na segunda divisão e que na temporada passada terminou no modesto 14º lugar estar liderando a temporada atual?

A resposta não é tão simples. Há uma conjunção de fatores que pode ajudar a explicar o sucesso do Leicester.

– Contratações: os principais jogadores desta temporada foram estudados minuciosamente pela área de inteligência do clube. Isso inclui, além dos óbvios fatores técnicos e físicos, valor de mercado, salários, adequação ao modelo de jogo e um extenso acompanhamento estatístico. 

Mahrez, Vardy, Albrighton e Cambiasso (que deixou a equipe ano passado depois de uma passagem importante pelo time) são exemplos recentes e bem-sucedidos de contratações envolvendo valores muito abaixo do usual para o nível do campeonato. Em casos, inclusive, contratados sem custo algum.

– Modelo de jogo: sem grandes craques, aposta no jogo simples e colaborativo. Todos correm por todos. Curto e grosso, arroz com feijão. Não costumam ter o domínio da posse de bola (a média 41,5% está entre as 4 piores do campeonato), trocam poucos passes (tem o segundo pior desempenho entre os 20 clubes da Premier League).

Em contrapartida, tem a melhor transição ofensiva da liga inglesa e possuem o vice-artilheiro (Jamie Vardy, 19 gols) e o segundomelhor ataque do campeonato.

– Sistema tático: 4-4-2 clássico da escola italiana do técnico Claudio Ranieri, que já treinou grandes equipes de seu país. É isso.

ABRINDO OS SEGREDOS DO SUCESSO

Como o Leicester atua em conjunto, é difícil desmanchar o time e encontrar o valor individual de cada peça sem perceber que ela funciona bem sempre que esteja relacionada com alguma outra. Por isso não há uma equipe equivalente a este inglês no futebol brasileiro. Mas, fazendo um esforço de observação, podem se resgatar quatro jogadores-chave e encontrar seus equivalentes no futebol tupiniquim.

Mahrez, Vardy, Okazaki e Kanté são eles. Dois africanos, um oriundo e um asiático (talvez a efetividade do Leicester e sua velocidade de transição para passar da defesa ao ataque esteja no fato de não ter nenhum sul-americano enrolando no meio do campo).

Esses quatro são as ferramentas fundamentais. Mas com que craques daqui eles se parecem?

Luan, do Grêmio, às vezes se parece com Vardy. Ricardo Oliveira quase sempre é Vardy. Lucas Lima do Santos tem coisas de Mahrez. Arrascaeta também. Willian, do Cruzeiro, é a copia de Okazaki. E Rafael Carioca, do Atlético Mineiro, se assemelha a Kanté, assim como seu colega Williams.

Roubada de bola e transição ofensiva muito rápida (tem o maior número de interceptações da liga). A pergunta é: isso é possível com jogadores sul-americanos que gostam de transportar a bola?

Inteligência do meia-atacante Mahrez, que tem 14 gols e 8 assistências no campeonato. O jogador é canhoto, mas atua pela direita, posição que o italiano Claudio Ranieri potencializou com sua chegada ao time.

Rapidez de seu centroavante Vardy. Grande parte de seus gols foram de contra-ataque, conduzindo a bola contra seus adversários. Também finaliza bem de cabeça embora tenha apenas 1,78 m de altura.

Quando o franco-argelino Riyad Mahrez foi contratado pelo Leicester em janeiro de 2014, seu passe estava avaliado em 1,250 milhão de euros. Hoje, seu valor é de 11 milhões de euros. O título, se chegar, o aumentará.

Jamie Vardy tem situação semelhante a Mahrez, chegou em julho de 2012 valendo 1 milhão de euros e hoje, aos 29 anos, vale 6 milhões. Claudio Ranieri já se pagou sozinho com estas valorizações.

O ATUAL ORÇAMENTO DO LEICESTER É COISA DE ‘CLUBE POBRE’… (LÁ!)

Um ano atrás, nesta mesma altura da Premier, o Leicester tinha 17 pontos. Hoje, 53. Estava em 20º, hoje é 1º. Sua dupla goleadora tinha feito 9 gols, hoje, 35. Claro, é fácil pensar que houve uma enorme injeção de dinheiro de lá para cá. Não. Se recebeu, foi o mesmo investimento da temporada anterior. Não é o orçamento o que mudou. A mudança foi geral e isso é o importante. O dinheiro do milionário tailandês continua sendo pouco se comparado com o dos ‘big five’ ou ‘six’ da Premier League, uma das duas mais ricas do planeta. O Manchester City investiu exatamente quatro vezes mais; o orçamento do Leicester é quase 25% do que possui o Chelsea. Não chega nem a ser um terço do que tem em caixa o Arsenal e é três vezes menos que o do Manchester United. O do Leicester é o 12º orçamento entre 20 times.

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