Mercado Livre adquire naming rights do Pacaembu
Acordo de mais de 1 bilhão de reais pode chegar a 30 anos; tradicional casa do futebol paulista passará a se chamar Mercado Livre Arena Pacaembu
Ainda sem data para sua reabertura, do Pacaembu, em São Paulo, terá um novo nome. O Mercado Livre anunciou nesta quarta-feira, 31, que adquiriu os naming rights do estádio, em acordo que pode chegar a 30 anos.
O reformado complexo da tradicional casa do futebol paulista passará a se chamar Mercado Livre Arena Pacaembu. Segundo Fernando Yunes, vice-presidente sênior e líder do Mercado Livre no Brasil, o investimento da marca supera 1 bilhão de reais.
“Não é só no estádio propriamente dito, nós também estaremos presentes em todo o complexo: ginásio, piscina olímpica, centro de tênis e camarotes. É o maior contrato de naming rights da história do Brasil”, afirmou Fernando Yunes, em entrevista coletiva. “São cinco anos renováveis sempre por mais cinco, mas com intenção de fazer o contrato chegar aos 30 anos”, completou.
Eduardo Barella, CEO da Allegra Pacaembu, concessionária responsável pela privatização do estádio, também participou do evento e disse que “quanto mais longeva a parceria, melhor”. “O contrato tem condições gerais para atuar por todo o período [30 ano]. Não vamos ter que renegociar preço, condições, por isso dizemos que o prazo pode chegar a 30 anos”, afirmou Barella.
A grande restauração do Pacaembu teve início em junho de 2021 e a previsão era de que o estádio recebesse a final da última Copa São Paulo de Futebol Júnior, o que não foi possível diante do atraso nas obras.
A concessionária não revelou uma data para a reinauguração completa do complexo do Pacaembu, que deverá receber uma série de shows e eventos, além das partidas de futebol. O Santos, rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro pela primeira vez, cogita mandar alguns de seus jogos no Pacaembu, revelou o novo presidente Marcelo Teixeira.
Grama sintética, shows mais: como será o novo Pacaembu
As reformas na tradicional casa do futebol paulista são tocadas pela concessionária Allegra Pacaembu, que venceu em 2019 a licitação para gerir o complexo municipal pelos próximos 35 anos, com a promessa de modernizar o campo que, antes, caminhava a passos largos rumo ao ostracismo. Em outubro de 2022, PLACAR visitou as obras e conversou com gestores sobre o planejamento.
Foram anos de uma decadência lenta, com fatores como o baixo investimento público e o crescente interesse dos clubes em jogarem em arenas próprias, que contribuíram para que a situação do Pacaembu chegasse ao descaso dos últimos anos. Em 2018, houve apagões de luz em vários jogos; no ano seguinte, chegou até a faltar água quente nos vestiários em um treino da seleção brasileira. Com um gasto anual na casa dos 9 milhões de reais na manutenção – alto, mas longe de ser suficiente para revitalizar o estádio fundado em 1940 -, a prefeitura decidiu, na gestão do então prefeito João Doria, que ceder a administração à iniciativa privada era o melhor caminho.
Quem assumiu a tarefa foi a Allegra, consórcio formado pelas empresas Progen (Projetos Gerenciamento e Engenharia S.A.) e Savona Fundo de Investimento e Participações. Apesar de assumir um negócio que dava prejuízo e calcular um investimento de 400 milhões de reais, contando o valor já gasto para vencer o processo licitatório e o custo das reformas, a concessionária confia que pode transformar o Pacaembu em um negócio sustentável e devolver à população um complexo esportivo modernizado.
“A ideia é transformar o Pacaembu de um local de passagem para um local de permanência das pessoas”, contou Eduardo Barella, CEO da Allegra. “Se um time faz 30 jogos em casa por ano, os outros 335 dias do ano estão ociosos. Precisamos trazer vida para um lugar tão emblemático”.
Como o complexo é tombado, nenhuma estrutura dentro dele pode ser descaracterizada, e nem mesmo em caso de venda de naming rights, o nome “Estádio Paulo Machado de Carvalho – Pacaembu” pode sair da fachada em frente à Praça Charles Miller. A piscina olímpica tem que continuar sendo uma piscina, o campo deve seguir sendo um campo, e assim por diante. A única exceção é o edifício multiuso que será construído no lugar do tobogã, já que a arquibancada não fazia parte do projeto arquitetônico original e foi construída em 1970, na época de Paulo Maluf, no lugar da antiga Concha Acústica.
Esse prédio será a alteração mais radical na paisagem do Pacaembu. A expectativa da Allegra é que ele receba um fluxo de 7.500 pessoas por dia, ou 3 milhões de visitantes por ano. Integrado ao clube poliesportivo, abrigará atrações como uma esplanada de convenções e eventos, estacionamentos, um centro de medicina esportiva, hotel e galeria de arte. É ali que está a garantia maior do lucro da concessionária. “O aluguel desses espaços geram para a gente um colchão de receita recorrente. Você faz contratos longos, que dão uma estabilidade muito grande. E São Paulo é muito carente de espaços de eventos. Os existentes são obsoletos e localizados nas pontas da cidade”, explicou Barella.
Mas e o futebol? A concessionária promete que o esporte não vai ficar em segundo plano, apesar de admitir que deve encontrar dificuldades iniciais para atrair grandes partidas em uma realidade onde os principais times lucram milhões de reais a cada jogo em seus estádios. O gramado será artificial, seguindo exemplo dos campos de Athletico-PR, Palmeiras e Botafogo. A aposta mais realista, pelo menos em um primeiro momento, é em alternativas como o futebol feminino, as categorias de base e eventos como a Taça das Favelas. Mas o sonho é que o torcedor consiga viver no novo Pacaembu experiências que vão além de apenas ver o time do coração.
“Por que a gente acredita, por exemplo, que o Flamengo possa vir jogar aqui uma ou duas vezes por ano? Por que vai ter uma experiência diferente”, disse o CEO. “O torcedor vai se hospedar no hotel, vai andar por dentro do estádio e sair já na cadeira dele. Vai acabar o jogo, o patrocinador vai poder fazer uma ativação no centro de convenções, um ‘meet and greet’ com ex-jogadores. Você tem isso lá fora, quando vai em uma Copa do Mundo. É um pouco do que o americano faz na NBA, na NFL”.
Já precavido contra acusações de elitização – ele admite que se surpreendeu inicialmente com a intensidade das discussões que o tema Pacaembu desperta e com o espaço do assunto na imprensa -, o empresário também assegura ser possível manter boa parte do estádio com ingressos mais populares, apesar de lembrar que a precificação é feita sempre pelo time mandante, e não pela concessionária. Outra promessa é que nenhum acesso ou serviço que era gratuito antes da privatização passará a ser cobrado. “A gente podia cobrar, mas não dá. Tem que ser o que era antes, porque é a essência do lugar. Vamos encontrar outra forma de monetizar”.
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