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O novo Pacaembu: veja como estão as obras e como ficará o estádio

Estádio que já foi a casa dos clássicos paulistanos passa por reformas com a promessa de voltar mais sustentável e versátil. Mas e o futebol?

Matéria publicada na PLACAR impressa 1492, de outubro de 2022

Para os saudosistas, passear pelo Pacaembu atualmente pode ser de cortar o coração. O gramado que já foi palco de tantos clássicos do futebol paulista deu lugar a um monte de entulho e lama, com alguns caminhos estreitos para a locomoção de trabalhadores e maquinário de obra; o tobogã, como era chamada a arquibancada sul, virou apenas um buraco no chão; e um pedaço asfaltado do campo agora abriga um pavilhão que recebe shows de música. Mas em meio às reformas tocadas pela concessionária Allegra Pacaembu, que venceu em 2019 a licitação para gerir o complexo municipal pelos próximos 35 anos, existe a promessa de um futuro para o estádio que, antes, caminhava a passos largos rumo ao ostracismo.

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Foram anos de uma decadência lenta, com fatores como o baixo investimento público e o crescente interesse dos clubes em jogarem em arenas próprias, que contribuíram para que a situação do Pacaembu chegasse ao descaso dos últimos anos. Em 2018, houve apagões de luz em vários jogos; no ano seguinte, chegou até a faltar água quente nos vestiários em um treino da seleção brasileira. Com um gasto anual na casa dos 9 milhões de reais na manutenção – alto, mas longe de ser suficiente para revitalizar o estádio fundado em 1940 -, a prefeitura decidiu, na gestão do então prefeito João Doria, que ceder a administração à iniciativa privada era o melhor caminho.

Quem assumiu a tarefa foi a Allegra, consórcio formado pelas empresas Progen (Projetos Gerenciamento e Engenharia S.A.) e Savona Fundo de Investimento e Participações. Apesar de assumir um negócio que dava prejuízo e calcular um investimento de 400 milhões de reais, contando o valor já gasto para vencer o processo licitatório e o custo das reformas, a concessionária confia que pode transformar o Pacaembu em um negócio sustentável e devolver à população um complexo esportivo modernizado.

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“A ideia é transformar o Pacaembu de um local de passagem para um local de permanência das pessoas”, diz Eduardo Barella, CEO da Allegra. “Se um time faz 30 jogos em casa por ano, os outros 335 dias do ano estão ociosos. Precisamos trazer vida para um lugar tão emblemático”. As obras estão dentro do prazo, e a reinauguração está prevista para 25 de janeiro de 2024 – a data da final da Copa São Paulo, o principal torneio de base do Brasil, cuja partida decisiva tradicionalmente é jogada no Pacaembu.

A aposta da Allegra é que o humor da opinião pública vai mudar mais a partir do ano que vem, quando acaba a fase da “obra suja” – ou seja, as demolições e o quebra-quebra – e começam de fato as renovações e construções. Como o complexo é tombado, nenhuma estrutura dentro dele pode ser descaracterizada: a piscina olímpica tem que continuar sendo uma piscina, o campo deve seguir sendo um campo, e assim por diante. A única exceção é o edifício multiuso que será construído no lugar do tobogã, já que a arquibancada não fazia parte do projeto arquitetônico original e foi construída em 1970, na época de Paulo Maluf, no lugar da antiga Concha Acústica.

Esse prédio será a alteração mais radical na paisagem do Pacaembu. A expectativa da Allegra é que ele receba um fluxo de 7 500 pesosas por dia, ou 3 milhões de visitantes por ano. Integrado ao clube poliesportivo, abrigará atrações como uma esplanada de convenções e eventos, estacionamentos, um centro de medicina esportiva, hotel e galeria de arte. É ali que está a garantia maior do lucro da concessionária. “O aluguel desses espaços geram para a gente um colchão de receita recorrente. Você faz contratos longos, que dão uma estabilidade muito grande. E São Paulo é muito carente de espaços de eventos. Os existentes são obsoletos e localizados nas pontas da cidade”, explica Barella.

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Mas e o futebol? A concessionária promete que o esporte não vai ficar em segundo plano, apesar de admitir que deve encontrar dificuldades iniciais para atrair grandes partidas em uma realidade onde os principais times lucram milhões de reais a cada jogo em seus estádios. A aposta mais realista, pelo menos em um primeiro momento, é em alternativas como o futebol feminino, as categorias de base e eventos como a Taça das Favelas. Mas o sonho é que o torcedor consiga viver no novo Pacaembu experiências que vão além de apenas ver o time do coração.

“Por que a gente acredita, por exemplo, que o Flamengo possa vir jogar aqui uma ou duas vezes por ano? Por que vai ter uma experiência diferente”, diz o CEO. “O torcedor vai se hospedar no hotel, vai andar por dentro do estádio e sair já na cadeira dele. Vai acabar o jogo, o patrocinador vai poder fazer uma ativação no centro de convenções, um ‘meet and greet’ com ex-jogadores. Você tem isso lá fora, quando vai em uma Copa do Mundo. É um pouco do que o americano faz na NBA, na NFL”.

Já precavido contra acusações de elitização – ele admite que se surpreendeu inicialmente com a intensidade das discussões que o tema Pacaembu desperta e com o espaço do assunto na imprensa -, o empresário também assegura ser possível manter boa parte do estádio com ingressos mais populares, apesar de lembrar que a precificação é feita sempre pelo time mandante, e não pela concessionária. Outra promessa é que nenhum acesso ou serviço que era gratuito antes da privatização passará a ser cobrado. “A gente podia cobrar, mas não dá. Tem que ser o que era antes, porque é a essência do lugar. Vamos encontrar outra forma de monetizar”.

Uma dessas formas é o Pavilhão Pacaembu, como foi chamada a tenda erguida neste ano em um canto asfaltado do gramado, com capacidade para 9 mil pessoas, que já abrigou shows de artistas como Gal Costa e Padre Fábio de Melo. A justificativa da Allegra foi que era necessário ter algum tipo de receita com o complexo durante as obras, especialmente depois do impacto econômico da pandemia de Covid-19.

A previsão é que a estrutura seja desmontada e o estádio volte a ter o gramado em outubro do ano que vem. Como se vê, é um caminho que não tem mais volta, apesar de o tombamento proteger quase todo o complexo de mudanças mais bruscas – nem mesmo em caso de venda de naming rights, por exemplo, o nome “Estádio Paulo Machado de Carvalho – Pacaembu” pode sair da fachada em frente à Praça Charles Miller. Para o bem ou para o mal, o velho Paca deixará de existir, mas seguirá vivo.

Imagem projetada de como ficará o Pacaembu após a reinauguração em 2024 -
Imagem projetada de como ficará o Pacaembu após a reinauguração em 2024 –

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