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Legião estrangeira: A aposta são-paulina

O São Paulo volta a apostar em craques de fora, especialmente do Rio de la Plata que tantos sorrisos já lhe deram: Bauza, Lugano, Calleri, Centurión, Mena, Guisao, Lyanco… Aqui uma viagem por essa grande História

Em 2014 o Brasil abriu de vez as portas para jogadores estrangeiros, permitindo aos clubes a inscrição de cinco por partida nos torneios nacionais. Uma temporada antes a CBF só permitia a inscrição de três atletas de outro país por partida. Os grandes clubes brasileiros pressionaram a confederação para que este limite fosse aumentado e conseguiram seu intuito ao final de 2013. A determinação que muda a regra do número de estrangeiros por partida foi publicada no regulamento geral de competições em 2014.

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Grêmio, Internacional, Vitória e Cruzeiro foram os que mais comemoraram a ampliação na ocasião. Desde então cada vez mais clubes (principalmente da Serie A) se valem de jogadores estrangeiros (os da América do Sul são os favoritos) na montagem de seus elencos.

Nesta temporada o São Paulo é o clube que mais conta com estrangeiros em seu elenco entre jogadores e comissão técnica. No momento são sete: o técnico argentino Edgardo Bauza, Ricardo Centurión e Jonathan Callleri, conterrâneos do treinador, o colombiano Wilder Guisao, o chileno Mena, o uruguaio Diego Lugano e Lyanco que conta com dupla nacionalidade (brasileira/sérvia). Além deles a diretoria ainda estuda a chegada de pelo menos mais um estrangeiro.

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Com pouco dinheiro nos cofres, Gustavo Vieira, novo diretor de futebol remunerado, tenta fazer contratações cirúrgicas e a opção natural foi por jogadores com baixo custo como o lateral esquerdo Mena que veio do Cruzeiro por empréstimo de um ano sem pagamento nenhum, cabendo ao São Paulo cobrir seus vencimentos; também Kelvin, atacante vindo do Porto de Portugal nos mesmos moldes, além do atacante ‘porteño’ Calleri que apesar do pouco tempo de contrato – 6 meses – é candidato a ídolo pelo bom começo no clube. Diego Lugano, depois de muita pressão da torcida, conseguiu sua liberação do Cerro Porteño do Paraguai, cabendo ao São Paulo a realização de um amistoso (vencido pelo tricolor por 1 a 0 em 20 de janeiro) como compensação pela saída do jogador.

A chegada de tantos estrangeiros pode fazer parecer ao torcedor que só agora, com a crise financeira, a diretoria se interessou pelo mercado externo e resolveu montar sua Legião Estrangeira. Mas a coisa não é bem assim. O clube, desde sua fundação em 1930, recorre a jogadores de fora, o primeiro deles, exatamente naquele ano (campeão em 1931), foi o meia uruguaio Emilio Armiñana.

Desde então 70 jogadores e quatorze treinadores estrangeiros passaram pelo Tricolor. Talvez o primeiro a causar grande impacto na torcida e no futebol Paulista tenha sido o atacante argentino Antonio ‘Cuila’ Sastre.

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Considerado um dos principais jogadores das Américas nas décadas de 1930 e 1940, Sastre, então com 31 anos, veiopara o ‘Tricolor’ contratado do Independiente de Avellaneda, da Argentina, e assinou contrato em 18/04/1943 ficandono clube até 1946 quando se aposentou. O atacante fez jus à fama e sagrou-se campeão Paulista três vezes: em 1943/45/46.

Muito antes de Rogério Ceni se tornar um dos principais ídolos da História do clube, um goleiro ganhou a idolatria são-paulina por algumas gerações, o também argentino, José Poy.

Vindo do Rosário Central, Poy chegou em 1948 e só deixou o gol em 1962, conquistando no período quatro campeonatos Paulistas: os de 1948/49/53/57. A história de Poy no clube continuou depois de sua aposentadoria, tornando-se treinador em várias passagens entre 1964 e 1983 conquistando o Paulistão de 1975.

Embora a História dos argentinos no São Paulo seja recheada de ótimos jogadores (é a nacionalidade que mais se fezpresente ao longo dos anos com 23 craques, superando os uruguaios com 16 jogadores) quem roubou o coração e a empatia da torcida a partir da década de 1970 até hoje, foram os representantes da ‘Banda Oriental’, os uruguaios.

Depois de 13 anos em jejum de títulos (1957/1970) época da construção do Estádio do Morumbi, o São Paulo montou um time forte para a disputa do Campeonato Paulista de 1970, contratando dentre outros os uruguaios Pablo Forlan e Pedro Virgilio Rocha. 

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Forlan veio do Peñarol, era um lateral direito de pouca técnica, mas de muita voluntariedade, transbordando a chamada raça uruguaia que tanto agradava a torcida (e que no futuro seria um dos principais motivos para a volta de um conterrâneo para o clube do Morumbi). Quem o viu jogar, fala que com Forlan em campo não existiam tornozelos e canelas felizes.

Ao contrário de Forlan, Pedro Rocha chegou ao São Paulo com o status de principal estrela do futebol uruguaio. O meio campista ganhou na década de 1960 quase tudo que disputou pelo Peñarol e era conhecido em seu país como ‘El Verdugo’ (o carrasco). Ao saber que Pedro Rocha viria para o São Paulo, Pelé o elogiou e disse que era um dos cinco maiores jogadores do futebol Mundial na época. Ao lado de Gerson, o ‘canhotinha de Ouro’, Pedro Rocha conquistouos campeonatos Paulistas de 1970 e 1971. Antes de deixar o São Paulo em 1978, ‘El Verdugo’ ainda conquistou o campeonato Paulista de 1975 e o inédito Campeonato Brasileiro em 1977 (terminado em Março de 1978), entrando definitivamente para a galeria de ídolos Tricolores.

No final de 1977 o São Paulo resolveu apostar em outro meia – este defensivo -uruguaio, o jovem Dario Pereyra, então com 21 anos, principal jogador do Nacional de seu país. Dario Pereyra conquistou logo de cara o Campeonato Brasileiro, ainda jogando como meia, posição que fez sucesso no Nacional e na Seleção ‘Celeste’. Mas as contusões, a difícil adaptação ao país e o futebol irregular o fizeram alterar entre a titularidade e o banco de reservas. A situação durou até Julho de 1980, quando o então técnico da equipe, Carlos Alberto Silva, resolveu apostar de vez em Dario Pereyra na quarta zaga, e logo contra o arquirrival Corinthians! O São Paulo ganhou o jogo (realizado em 13/07/1980) disputado no Morumbi por 1 a 0 gol de Serginho Chulapa, mais do que a vitória, ganhou um dos maiores quarto zagueiros de sua história! Ao lado de Oscar (que chegou do Cosmos de Nova Iorque logo depois) formou dupla de zaga memorável e conquistou pelo tricolor os Campeonatos Brasileiros de 1977/86 e os Campeonatos Paulistas de 1980/81/85/87. Dario Pereyra saiu do São Paulo em 1988, mas deixou sua marca para sempre no clube.

O último Uruguaio a conquistar a idolatria dos são-paulinos, chegou ao clube quase anônimo em abril de 2003. O jovem e desconhecido Diego Alfredo Lugano Moreno foi contratado por 200 mil dólares pelo presidente Marcelo Portugal Gouvêa. O São Paulo estava a procura de um zagueiro e o então presidente resolveu apostar na sugestão do empresário Juan Figer que oferecera a ele um jovem promissor, reserva no Nacional do Uruguai. O técnico Osvaldo deOliveira não gostou da contratação por não ter sido consultado e não escondeu, inclusive da imprensa, sua insatisfação. Por conta deste episódio, Lugano ficou conhecido pejorativamente como ‘o zagueiro do presidente’. Como era esperado, Osvaldo não utilizou o jogador que só começou a ter chances com a dupla Roberto Rojas-Milton Cruz que substituiu o antigo treinador demitido no começo de maio daquele ano. Lugano foi se impondo, seu futebol não era técnico, mas a exemplo de Pablo Forlan, esbanjava garra e determinação. Passou pelas mãos dos técnicos Cuca e Emerson Leão, mas se firmou mesmo com Paulo Autuori. Seu ano de ouro no São Paulo e na carreira foi em 2005 conquistando o Paulista, Libertadores e Mundial de clubes. Antes de sair do clube em 2006 ajudou o São Paulo a conquistar o Brasileiro daquele ano já sob o comando de Muricy Ramalho.

O zagueiro jogou na Turquia, França, Espanha, Inglaterra, Suécia e por último no Paraguai. Apesar dos pedidos da torcida, os dirigentes não estavam dispostos a traze-lo de volta para encerrar a carreira no Clube. Mas, ao final da temporada passada, a pressão se fez insustentável e no jogo de despedida de Rogerio Ceni, diante de 60 mil pessoasno Morumbi pedindo em coro sua volta, os cartolas cederam.

No dia 11 de janeiro, Lugano foi recepcionado por mais de mil torcedores no aeroporto de Guarulhos, deixando claro que para os tricolores ele já está na galeria dos imortais tricolores. A Legião estrangeira Tricolor de 2016 é em sua maioria argentina, Bauza, Callleri, Centurión, todos têm como objetivo conquistar títulos e entrar na seleta galeria de ídolos ao lado dos conterrâneos Sastre e José Poy, dos uruguaios, Forlan, Pedro Rocha, Dario Pereyra, Lugano e tantos brasileiros e estrangeiros que deixaram sua marca no São Paulo Futebol Clube ao longo de oito décadas e meia.

Conseguirão? Só o tempo irá dizer.

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