Ketlen quer passar Neymar e entrar em top-10 de artilheiros do Santos
Atacante, que já tem 110 gols anotados pelo clube, almeja novas marcas e admite que no futuro vai dar uma pausa na carreira pelo sonho de ser mãe
Depois de se tornar a primeira mulher a chegar aos 100 gols pelo Santos e integrar uma seleta lista com pouco mais de 20 nomes, entre os quais Pelé, Pepe, Coutinho e Neymar fazem parte, a atacante Ketlen, 29 anos, já pensa nos passos futuros. O principal deles, estar entre os 10 maiores artilheiros, contabilizando homens e mulheres, de todos os tempos do clube centenário.
A ideia, que antes parecia distante para a jogadora natural de Rio Fortuna, pequena cidade de quatro mil habitantes em Santa Catarina, pode se tornar realidade em um futuro próximo. Atualmente com 110 gols somados desde a chegada, a atleta das Sereias da Vila, que marcou um tento pelo clube pela primeira vez aos 15 anos, 4 meses e 20 dias, já mira os próximos passos.
“Fui à casa do meu sogro e ele perguntou qual será o meu próximo recorde. O meu próximo objetivo é superar o Robinho, que tem 111 gols e depois já pensar no Neymar, que fez 136. Quero estar entre os 10 maiores artilheiros da história do Santos”, diz a jogadora, em entrevista exclusiva a PLACAR.
O décimo jogador da lista da artilharia santista é Tite, ex-ponta esquerda que fez história nas décadas de 1950 e 1960, com 151 gols anotados.
Mais do que fazer história dentro das quatro linhas, Ketlen quer seguir quebrando barreiras e preconceitos enquanto atua no futebol feminino. Pelo sonho de ser mãe, ela admite que pensa em dar um tempo na carreira no futuro e espera a compreensão das pessoas.
“Tenho outros sonhos, como o de ser mãe e, para isso, eu terei que deixar a carreira por um tempo. Pensei com o meu noivo, ele me pediu para continuar jogando, estou bem e em uma boa fase”, comenta a atleta que tem como referências a jogadora Érika, atualmente no Corinthians, e Kaká, ex-meia de São Paulo, Milan e seleção brasileira.
“Mas essa é uma questão bem delicada. A mulher é diferente do homem. Os jogadores não precisam parar para ter filhos, mas a gente tem que parar em algum momento. Sei que vou ter que parar, mas vai ser no momento certo. Teve um ano que pensei em dar um tempo e as pessoas me cobraram em acertar com o Santos. Espero que as pessoas possam entender o meu sonho de ser mãe”, completa a artilheira do time da Baixada.
Ketlen acompanhou praticamente a criação do time feminino do Santos em 2007, viveu o seu auge ao lado de nomes como Marta, Cristiane e Aline Pellegrino entre 2009 e 2011, e, de longe, viu a modalidade encerrar as atividades no clube em 2012, antes do retorno em 2015, este, inclusive, ano que marcou a volta da atleta à Vila.
“Vi dois Santos. Cheguei em 2007, na época que ainda era prefeitura que administrava. Não era nem o Santos. Então roí bem o osso, não recebia nada. Meus pais que me sustentavam. Fui receber meu salário dois anos depois, quando virou o Santos mesmo, em 2009, e vivi grandes momentos. Hoje o clube dá tudo o que precisamos, por isso é referência”, destaca a jogadora.
Apesar disso, a jogadora já viveu muitas inseguranças na modalidade e cogitou parar. Entre a primeira e a segunda passagem na Vila, ela atuou pelo Bangu, Vitória-PE, Vittsjo, da Suécia, Centro Olímpico-SP e Boston Breakers, dos Estados Unidos.
“Chegava fim de ano, não sabia se teria contrato. Eu pensei em parar de jogar futebol. Em alguns momentos pareciam que as portas estavam se fechando. A minha maior luta foi não saber se ia ter clube para jogar”, diz.
Com o rosto estampado no CT Rei Pelé, em Santos, a jogadora ressalta a importância do clube em sua vida e não guarda mágoas pelas poucas oportunidades na Seleção Brasileira principal, pela qual disputou os jogos Pan-Americanos de 2011 e, na base, os Mundiais e Sul-Americanos nas categorias sub-17 e sub-20.
“Sou muito feliz por tudo o que conquistei e pela linda carreira que construí no Santos. Não sinto tanta falta assim da seleção, mas se um dia eu for, vou ficar feliz. Estou feliz pela forma como foi na Seleção, talvez tenha sido mais do que eu esperava. Trabalho diariamente para voltar, mas não que esse seja o meu sonho. Não trocaria nunca um pelo outro, seleção é momento”, comenta Ketlen.
Sobre a modalidade em si, ela destaca o crescimento e espera que cada vez mais meninas tenham oportunidades.
“Peguei a parte ruim, roí o osso e agora vejo as coisas boas. Que essa nova geração possa se espelhar na gente, esse é o nosso maior legado, lutamos pelo futebol feminino”, diz.
Apesar de descartar a aposentadoria tão cedo, Ketlen faz projeções para o futuro e já iniciou os estudos para seguir no futebol.
“Eu me formei em educação em 2018, pela Unimes (Universidade Metropolitana de Santos). Eu tenho estudado e feito cursos para ver o que gosto. Fiz curso de funcional para trabalhar como personal e quero entrar em cursos da FPF (Federação Paulista de Futebol). Talvez entrar na parte de coordenação do Santos, trabalhar com crianças que é uma área que gosto. Inclusive, nos EUA, eu dava aulas de futebol na escolinha do time que jogava”, conclui.