“Já fui boa demais com ele”, diz Milena Bemfica sobre Jean
O permanente incômodo da dançarina agredida pelo goleiro e ex-marido
Quando conheci o Jean, há seis anos, eu era dançarina. A família dele não queria o nosso namoro por causa da minha profissão. Eu já tinha 18, mas ele era um ano mais novo. Éramos duas crianças. Devido a essa rejeição, ele se mudou para a casa da minha mãe. Acabei ficando grávida da nossa primeira filha e fomos morar sozinhos, para poder amadurecer como casal. Estive ao lado do Jean desde o início, quando não tínhamos nada, e ele começava a treinar no Bahia. Cheguei a ganhar mais do que ele. Era eu quem punha gasolina no carro para que ele pudesse ir treinar. Isso até engravidar. Não dava para ser mulher e mãe e continuar como dançarina. Éramos muito intensos, mas perdemos um pouco daquela chama do namoro por termos duas crianças pequenas.
Um mês antes da viagem de férias aos Estados Unidos, no ano passado, descobri que ele tinha uma amante. Ele negava. Dizia que estava perdido, que não sabia se queria continuar com o nosso casamento ou até se queria continuar jogando futebol. Estava depressivo. Disse que precisava de um tempo para pensar, então vim passar uma semana em Salvador. Foi quando ele começou a se relacionar com a menina. Quando voltei para São Paulo, ele estava diferente, decidido a ficar sozinho. Nós já estávamos separados, mas ele resolveu fazer a viagem a Orlando. Eu achava que era a chance de reatar o relacionamento, tanto que ficamos no mesmo quarto. Chegamos a ficar juntos lá, mas, a partir do terceiro dia, ele começou a ficar instável. No dia da agressão, o sétimo da viagem, a amante postou um vídeo com ele. Eu pedi ao Jean que dissesse a ela para apagar, mas não sei o que ela respondeu, porque ele deixou o quarto. Voltou depois, transtornado.
Bebeu uma caixa de cerveja sozinho e veio me procurar para fazer sexo às 3 da manhã. Ele parou no meio e disse que não iríamos voltar. Foi aí, então, que eu disse que contaria à menina tudo o que aconteceu durante a viagem. A briga começou porque ele queria tomar o tablet da minha mão para que eu não mandasse a mensagem.
Ele pode viver com quem quiser. Se o Jean a escolheu, que seja feliz. Não tenho nada contra ele e nunca agi com raiva por causa dela. A única coisa que quero é respeito. Tudo o que é dele é meu, porque começamos quando a gente não tinha nada. Construímos juntos. Podia tê-lo deixado preso nos Estados Unidos e ter acabado com a sua vida. Seria a maravilhosa se tivesse feito isso. Como não deixei, as pessoas começaram a julgar muito. Elas não estavam na minha pele, então não me arrependo. Espero, de coração, que ele nunca mais erre dessa forma, que não faça isso com outra pessoa. Quero que ele mostre o seu lado bom. Nos últimos anos, em São Paulo, ele só mostrou o lado ruim. Profissional e pessoalmente. Mas ele vem se revelando cada dia pior. Não o reconheço mais. Além de ter me traído, ele me espancou e agora mente descaradamente dizendo que não sabe que tem de pagar a pensão.
Esses homens acham que a mulher nunca vai fazer nada. Gritei na primeira oportunidade que tive. Quer dizer, na segunda. Nunca contei isso a ninguém, mas antes de eu descobrir a traição o Jean me deu um tapa no rosto durante uma discussão. E foi na frente dos meus compadres. A gente acha que a pessoa vai mudar. Os homens pensam que, por terem dinheiro, nós devemos aceitar tudo. Não pode ser assim. Se fosse eu que o traísse, que o agredisse, o que iria acontecer? Ele me mataria?
Não o denunciei em Orlando porque não queria que ele fosse impedido de ver as filhas. Elas são muito pequenas e sempre foram loucas por ele. Ausentar-se do dever dele é uma coisa (e ele vai pagar pelas consequências disso), mas não vou distanciar as meninas do pai. Só que, se ele continuar com essa loucura de não pagar a pensão, irei até o fim para que seja preso. Questão de amante já acabou, agressão também. Qualquer outra pessoa teria feito um acordo, mas ele não quis. Diante dessa atitude, não vou ficar quietinha, não. Já fui boa demais com ele.
Depoimento dado a Alexandre Senechal
Publicado em VEJA de 26 de fevereiro de 2020, edição nº 2675