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Há 40 anos: como PLACAR narrou o Flamengo campeão da América no Uruguai

Primeira Libertadores rubro-negra veio diante do Cobreloa, justamente no Estádio Centenário, em Montevidéu, onde o time buscará o tri neste sábado

Estádio Centenário, Montevidéu, Uruguai, 23 de novembro de 1981. Há exatos 40 anos, no mesmo local em que disputará a final da Copa Libertadores no próximo sábado 27 diante do Palmeiras, o Flamengo conquistou a América pela primeira vez, ao bater o Cobreloa, do Chile, por 2 a 0, com dois de Zico, em um confronto histórico, violento e repleto de boas histórias naturalmente, narradas por PLACAR.

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O Flamengo deu, literalmente, o sangue pela conquista da Libertadores de 1981. Na primeira fase, o time superou os paraguaios Olimpia e Cerro Porteño e o Atlético-MG, em duelos marcantes e controversos. Em seguida, o time eliminou o boliviano Jorge Wilstermann e o colombiano Deportivo Cali. Na decisão diante do Cobreloa, o Rubro-Negro teve como maior adversário a truculência rival. Venceu no Maracanã por 2 a 1 e perdeu por 1 a 0 em Santiago, forçando o terceiro jogo em campo neutro, na capital uruguaia. Além dos gols de Zico, o título veio com uma doce vingança sobre o capitão chileno Mario Soto.

Em uma era pré-internet, a data da partida não facilitou o fechamento de PLACAR, que em sua edição de 27 de novembro fez um relato mais curto do título, assinado pelo enviado especial Marcelo Rezende (1951-2017), e prometeu maiores detalhes na semana seguinte. Assim abriu Rezende seu texto, que já vislumbrava a conquista do Mundial, semanas depois, diante do Liverpool, no Japão:

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A cruel batalha de Santiago deixou marcas para sempre nos rostos de Adílio e Lico, covardemente agredidos pelo afinado anel do zagueiro chileno Mario Soto. Mas, como se fossem dois Libertadores da América, o sangue dos heróis não foi derramado em vão. Na mesma noite de sexta-feira, em que o Flamengo perdeu para o Cobreloa por 1 a 0, Zico – acompanhado de Raul e Júnior – foi visitar os companheiros que gemiam de dor, e em nome do elenco fez um juramento solene, emocionado:

— Firmamos um pacto de empenhar todas as nossas forças para vingar cada gota desse sangue. Nossa desforra será vitória.

Em Montevidéu, no Estádio Centenário, Zico não precisou de muito tempo para cumprir sua vingança — que era vingança do Brasil inteiro. Aos 17 minutos, ao receber um passe adocicado de Andrade, ele bateu de virada e fez 1 a 0. Bem antes disso, já era possível notar um Flamengo bem diferente daquele time medroso e retrancado que tentara empatar no Chile e por isso mesmo, sem se falar da violência do adversário, perdeu. Segunda-feira, não. O Mengão resolver jogar tudo o que sabe: atacou sempre, encurralou o inimigo e, quando preciso deu pontapé de igual para igual. E poderia ter sido mais.

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Nos trechos finais, Rezende exaltou a vingança rubro-negra, com direito a confusão e expulsões.

Assim que a partida terminou, Zico disparou, correndo correndo em direção ao alegre banco do Flamengo, gritando realizado e feliz.

— Não falei? Não falei que a vitória seria nossa vingança? Se o Andrade não é expulso, metemos cinco nesses gringos! Agora ninguém segura mais o Flamengo, ganhamos a Libertadores e seremos campeões do mundo!

Reportagem de Marcelo Rezende destacou o
Reportagem de Marcelo Rezende destacou o “feitiço” rubro-negro

Na edição seguinte, de 4 de dezembro de 1981, Marcelo Renzende assinou uma reportagem mais completa sobre aquela decisão, com deliciosos detalhes de bastidores, intitulada “Esse feitiço chamado Flamengo”:

Na manhã seguinte à derrota em Santiago, o arrogante motorista de táxi que nos servia, um universitário torcedor do Cobreloa, tentava explicar o massacre da véspera.

— Vocês são descendentes de portugueses, um povo colonizador. Nós temos sangue de espanhóis, uma nação de conquistadores, só conhecemos grandes feitos através de espetaculares conquistas. Veja o que diz o emblema do Chile: “Por la razón o la fuerza’ — e empertigou-se em ar triunfal.

Coitado, o Cobreloa desconhecia o fundamental: esse feitiço chamado Flamengo. Quisera eu tê-lo a meu lado ao desembarcar no Aeroporto do Galeão, na já histórica terça-feira, dia 24 de novembro de 1981. Ali, ele passaria a entender que aquelas milhares e milhares de mãos a agitar-se no ar em direção ao corpo do herói Zico eram mãos de operários, ricos, desempregados, doutores e marginais. Irmãos de uma só fé — a democracia rubro-negra. 

No fim da reportagem, que pode ser lida na íntegra aqui, Rezende narra bastidores daquela violenta final, com destaque para uma frase do eterno camisa 10 da Gávea. “Seremos heróis do futebol, não da guerra”, achava Zico. Errou. Foram os dois.

Bastidores da conquista do Flamengo em Montevidéu
Bastidores da conquista do Flamengo em Montevidéu
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