De bandana vermelha na cabeça e sorriso no rosto, o capitão Neymar era o retrato da “nova” seleção brasileira: alegre e vencedora. O clima na Arena Corinthians era de total euforia após o fim do jogo. A vitória por 3 a 0 sobre o Paraguai, que classificou a equipe à Copa do Mundo da Rússia em 2018 com quatro rodadas de antecedência, foi celebrada com entusiasmo por atletas e torcedores. Na zona mista – percurso obrigatório de atletas depois de deixarem o vestiário, onde fica a imprensa após o jogo -, sobraram piadas e simpatia com os jornalistas, algo impensável nos tempos pré-Tite.
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Neymar foi um dos primeiros a passar. Estava com pressa, queria logo encontrar a namorada Bruna Marquezine num show de Jorge e Mateus e de Thiaguinho em uma tenda montada dentro do estádio. Ao contrário do que fez nos últimos meses, Neymar parou e atendeu os jornalistas. E brincou dizendo que suas dores causadas pela truculência paraguaia seriam curadas por Bruna.
Enquanto Tite dava uma concorrida entrevista coletiva, ex-jogadores do Corinthians falavam sobre a experiência de jogar “em casa”. O meia Willian, que entrou na segunda etapa, passou rápido e saudou os presentes com entusiasmados gritos de “Vai, Corinthians!”.
Renato Augusto, que costuma ser o mais solícito com a imprensa, não foi visto desta vez, “escapou” por uma saída lateral, segundo os assessores da CBF. Talvez para não ser perguntado por que jogou de chuteira verde em Itaquera, algo que era proibido nos tempos de Corinthians, por causa da rivalidade com o Palmeiras.
O lateral Marcelo parecia aliviado com o golaço que marcou. Primeiro, foi perguntado sobre o fato de já ter marcado um gol contra no estádio (a favor da Croácia, na abertura da Copa de 2014) e depois sobre as perspectivas para a Copa da Rússia. Ao ser questionado sobre a partida, celebrou. “Poxa, até que enfim alguém resolveu falar sobre o jogo aqui”, divertiu-se.
O meia Philippe Coutinho, autor de outro golaço, também deixou a timidez de lado. Perguntado pela imprensa espanhola sobre um possível interesse do Barcelona, despistou. “Desculpa, mas para falar a verdade nem estava sabendo dessas notícias”, disse, sem disfarçar o sorriso. E depois satisfez a vontade de dois australianos enviados a São Paulo apenas para colher dele um recado. “Hello, Melbourne, see you soon” (Olá, Melbourne, nos vemos em breve, em inglês), disse, para promover uma visita do Liverpool à Austrália.
Quem mais deu entrevista foi justamente o menos exigido em campo: o goleiro Alisson, aliás, o único a “reclamar” da solidez da defesa brasileira. “Goleiro não gosta de ficar o jogo todo sem tocar na bola, eu queria ter trabalhado mais.” Um radialista ainda fez piada com o goleiro-galã. “Além de bonito, o Alisson é muito cheiroso, viu…”
Paulinho, sempre sério e com tom de voz baixo, preferiu o discurso padrão: “Estamos felizes porque fizemos mais um grande jogo…” O volante Casemiro, em grande fase no Real Madrid e na seleção, mostrava alguma dificuldade para driblar o sotaque espanhol, e foi direto ao dizer como fugir do clima de “já ganhou” a quase 500 dias da Copa da Rússia. “Seguir trabalhando firme e com humildade.”
Quando todos foram embora, Tite, o dono da festa, ainda terminava sua entrevista coletiva. Ao saber que o Brasil estava matematicamente classificado, o treinador apontou para cima e agradeceu. Foi aplaudido e disse que o “visto” para a Rússia merecia uma celebração especial. “Vou tomar uma caipora deste tamanho.” Por sinal, Tite toma suas caipirinhas com vodca, e não cachaça.