11 contra 11, mas…: Mariners, Horses e Pirates falam de Touchdown
O Brasil é um país de fenômenos, modas e contrastes, quando não locais, importados; A terra dos cngaceiros vive mais uma nova invasão estrangeira, desta vez esportiva; Chegou o tempo do futebol americano
Arena Pernambuco, Região Metropolitana do Recife. Mais de 7 mil pessoas compareceram. Não, não estamos falando do Clube Náutico Capibaribe, que atualmente manda os seus jogos por lá. A bola também não é aquela tradicional redonda. O formato desta é oval. Estamos falando do futebol americano, ou football, segundo os norte-americanos.
A multidão reforça que a nova paixão teve um crescimento considerável na região e, de modo particular, na capital pernambucana, fruto de muito esforço dos interessados neste esporte, que é o mais visto na TV americana. Isso porque, segundo a NBC, emissora responsável pela cobertura do Super Bowl XLIX (final do campeonato estadunidense), 114,4 milhões de pessoas assistiram à vitória do New England Patriots sobre o Seattle Seahawksem 2015.
O sucesso nas terras do Tio Sam é refletido por aqui através da criação de times locais próprios.
Pioneiro na cidade, o Mariners foi quem já conseguiu alçar voos mais altos dentre os três. O time esteve presente nas duas últimas finais da Superliga Nordeste – principal competição entre os clubes nordestinos que credencia o vencedor para disputar o título brasileiro da modalidade –, mas bateu na trave e ficou como vice-campeonato, perdendo o título para o João Pessoa Espectros, PB.
Fruto de uma parceria com o Clube Náutico Capibaribe, o Mariners treinou e mandou seus jogos nos ‘Aflitos’ durante os últimos dois anos – já que o tradicional estádio se encontrava sem uso, pois o clube mandava seus jogos de futebol-futebol na Arena Pernambuco.
Para este ano de 2016, outra equipe anunciou parceria com o Náutico. Desta vez, trata-se do Horses, que agora passa a ser chamado de Náutico Horses. Além de utilizar o estádio para jogos e treinos, a parceria traz uma novidade interessante e inesperada: a criação da primeira equipe feminina de flag football – umavariação mais leve do esporte com características similares às do rude futebol americano.
A relação com o lugar já é familiar para o Horses. A equipe, que surgiu em 2010, mas interrompeu suas atividades pouco mais de um ano após o seu surgimento, teve o ‘Estádio dos Aflitos’ como palco de sua retomada. Pois, diante de quase 4 mil torcedores no finalzinho de 2015 e tendo o Maceió Marechais-AL como adversário, o resultado positivo não veio. O placar final marcou a vitória do time alagoano por 24 x 08, mas para os integrantes do Horses o resultado do jogo foi o que menos importou. “Perdemos o jogo, mas adquirimos muitas lições. Até mesmo a questão de mídia. Nosso retorno foi enorme”, ressaltou o presidente do time, Felipe Gonçalves.
No verão, o Horses se preparou para disputar a Taça Pernambuco, competição criada neste ano com o objetivo de dar suporte aos times recém-formados no estado. Ao todo, três equipes participam da primeira edição do campeonato que acontece de março a maio. No segundo semestre, a equipe disputará, juntamente com oito times, a Liga Nordestina de Futebol Americano (Linefa), que funciona como uma divisão de acesso à Superliga Nordeste.
Já para o Pirates, a meta deste ano é o título da Superliga Nordeste. A equipe, que atualmente também manda seus jogos oficiais no ‘Estádio dos Aflitos’, conseguiu ficar entre os quatro melhores times do Nordeste e entre os oito do Brasil no ano passado. Mas o grupo almeja ainda mais em 2016. “Agora a gente quer estar nas finais da Superliga e vencer. Estamos incrementando a comissão técnica, que aumentou bastante. Agregamos preparador físico e também teremos um coordenador de times especiais,além de outros profissionais”, ressalta Luiz Felipe, integrante da equipe.
Como sempre, por trás do ‘boom’, há mais do que animação: há muita vontade e bastantes sacrifícios de pioneiros que traçaram metas para cumprir e horizontes a aproximar. Por exemplo, diferente dos clubes do futebol convencional, as equipes de futebol americano do Recife não recebem as famosas cotas para ajudar em seu equilíbrio financeiro. Diante disso, a solução encontrada pelas equipes foi optar pela contribuição dos próprios jogadores.“O Pirates é mantido através da mensalidade que todo atleta paga, que atualmente custa R$ 30. É um valor simbólico, apenas para a manutenção do time. Além da captação de patrocínio e da venda de produtos relativas à equipe”, contou o próprio Luiz Felipe.
No Horses, o sistema é bastante parecido. “O time se mantém com a ajuda de alguns apoiadores que dão suporte tanto financeiramente quanto na logística e na estrutura. A gente não chama de patrocinador porque, querendo ou não, tem aquele período fixo de estar investindo. Chamamos de apoiadores porque contamos com eles para determinadas situações; além da contribuição mensal de R$ 35, dos jogadores”, ressalta o presidente do time, Felipe Gonçalves.
Já no Mariners, a manutenção da equipe é um pouco diferente. No começo, funcionava graças ao dinheiro dos próprios associados, que contribuíam pagando todos os débitos advindos da atuação do time. Hoje, graças à boa média de torcedores que vai ao estádio, consegue equilibrar as contas. No entanto, como osoutros times, ele (ainda) esbarra no desconhecimento do esporte no Brasil. “Também temos patrocinadores, mas, infelizmente, o futebol americano não é tão conhecido e os investidores têm receio de colocar o seu dinheiro aqui. Isso sem contar com o fato de que o Brasil não atravessa uma boa fase econômica. No entanto, temos bons sponsors que nos ajudam, principalmente na manutenção dos jogadores americanos”, ressalta o presidente dos Mariners, Júlio Adeodato. Segundo ele, só os ‘gringos’ recebem salários na equipe. “Aqui funciona como um hobby [o fato de os únicos remunerados serem os americanos]. É uma prática muito comum no Brasil, principalmente na posição de quaterback, que é muito difícil de encontrar no país, mesmo com o esporte em franca evolução”, complementa Júlio……………………………………………………….Com mais ou menos esforços, como hobby ou não, com gringos ou sem eles, misturando profissionais e amadores, com patrocínios ou na procura deles, e cada vez com mais aficionados e menos improvisação, o certo é que o futebol americano, pelo menos no Nordeste brasileiro, veio para ficar. Que o diga Pernambuco. Recife é sua melhor amostra.
Como manda o figurino…
…com direito a ‘gringos’ e tudo. A grande explosão que o futebol americano teve proporcionou até a vinda de alguns jogadores dos Estados Unidos para fortalecer o esporte em Pernambuco, como TL Edwards dos Mariners, cujo nome foi especulado pela mídia americana para reforçar a equipe do Cleveland Browns, que faz parte da NFL, além do ‘quaterback’ Dominique White e do ‘linebacker’ Darrick Dillard, os dois últimos pertencentes ao Recife Pirates (contratações realizadas no ano passado).
Esses contratados de importação são o retrato vívido do esforço e da luta dos primeiros entusiastas para conseguir um lugar ao sol em meio ao império do futebol convencional e quase nenhum espaço para o futebol americano, que – não obstante – cresce na mesma proporção em que aumenta o número de adeptos, e até fanáticos, pelo esporte que conquistou a América e, agora, aos poucos, e desde o Nordeste quer conquistar o Brasil. Bem-vindos sejam, então, os Edwards, os White e os Dillard…
Ver para creer
Estudante Allan César é um exemplo de como o esporte pode prender a sua atenção. Depois de assistir ao Super Bowl XLV, realizado em 2011 e vencido pelo ‘Green Bay Packers’, ele afirma que “era só mais um brasileiro apaixonado pelo futebol da bola redonda. Mas o futebol americano é importante para mim porque não existe nenhum outro esporte que consiga envolver tanto os jogadores e os torcedores como ele faz”. Allan, que sonha deixar de ser um mero espectador para começar a treinar em algum time,conclui: “Se assistir ao futebol americano já é bom, jogar é melhor ainda”.
Uma experiência diferente
Questionado sobre o motivo do crescimento do futebol americano em Pernambuco, o especialista em gestão esportiva, Joaquim Costa, disse que o boom é reflexo do sucesso da National League Football (NFL, a liga americana de futebol americano) no Brasil. “É um conjunto de fatores. O principal é o crescimento do esporte no país através da transmissão dos jogos realizados por canais fechados”, frisou Costa, que, no momento, tem se ocupado com as tratativas dos jogos olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, mas deu ênfase ao modo como os clubes multiplicam renda e público nas suas partidas: “No Recife, temos, por exemplo, o Recife Mariners, que transformou o jogo em uma experiência diferente, com ‘foodpark’, jogos, local para crianças, bandas, entre outras coisas. No final, é uma programação para toda a família por um preço acessível e com segurança”. Costa está coberto de razão. Isso que alega fica mais perceptível quando acontece a final da Superliga Nordeste, com o já clássico entre o João Pessoa Espectros e o Recife Mariners. Por sinal, há dois anos consecutivos que a derradeira partida acontece na magnífica e mundialista Arena Pernambuco. Sem dúvida, é uma experiência diferente mesmo!