Vahirua, o Pelé do Taiti, vai jogar para ganhar (a torcida)
Único profissional da seleção campeã da Oceania, atacante de 33 anos quer dedicação total da equipe para conquistar a simpatia do público local
Em terra de cego, quem tem um olho é rei. O velho ditado define com precisão o status que Marama Vahirua adquiriu no futebol taitiano. Apesar de ter feito carreira modesta em times pequenos na França e na Grécia, o baixinho atacante pode ser considerado, de longe, o maior jogador da história do arquipélago da Polinésia Francesa. Aclamado como uma espécie de Pelé local, o atleta de 33 anos é o único profissional do grupo que disputa a Copa das Confederações e estreia nesta segunda-feira, às 16 horas (de Brasília), contra a Nigéria, no gigante Mineirão – e tem a inglória missão de comandar um time composto exclusivamente por amadores num grupo que inclui ainda Espanha e Uruguai. O desafio, como o técnico Eddy Etaeta já afirmou, é perder de pouco. Ainda assim, o simpático “Taitigol”, como o Vahirua é chamado pelos fãs, acredita que os Guerreiros de Aço lutarão para sair do Brasil cantando vitória – não no placar, obviamente. “Se não podemos ganhar os jogos, que ganhemos os corações dos torcedores.”
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Qual é a ambição da seleção taitiana na Copa das Confederações? É preciso ser realista. Jogar contra Espanha, Uruguai e Nigéria? Dizem que no futebol tudo pode acontecer, mas tudo tem limites. Precisamos ter o pé no chão e dar o melhor de nós mesmos, não nos resta fazer outra coisa. Ninguém espera que nós incomodemos alguma dessas equipes, e com razão. Por outro lado, somos os pequenos contra os grandes – e isso sempre atrai a simpatia do público. Só precisamos fazer por merecer essa simpatia, e isso acontecerá com os jogadores se doando completamente em campo. Se não podemos ganhar os jogos, que ganhemos os corações dos torcedores.
Como é seu relacionamento com os demais atletas do elenco? E qual seu papel diante de um grupo composto apenas por amadores? Só conhecia os outros companheiros de nome – mesmo na Europa, sempre segui o campeonato taitiano. Fui muito bem recebido. Sei que minha chegada criou muita expectativa, mas o fato é que sempre entendi que eu é que devia me adaptar a esse grupo de jogadores, e não o contrário. Não estou aqui para tudo revolucionar, tudo profissionalizar, tudo comandar. Quero apenas transmitir minha experiência e dedicação nos treinamentos e jogos. Para mim é uma grande honra finalmente vestir a camisa do Taiti.
Aos 33 anos e sem contrato para a próxima temporada, como vê seu futuro depois da Copa das Confederações? Tenho algumas propostas para jogar no futebol taitiano, e minha família adoraria voltar. Mas também estamos de acordo que, se aparecer um novo desafio na França, na Austrália ou em outro país, devemos analisar com carinho. Além disso, estou numa idade em que me pergunto se devo continuar ou me aposentar e ajudar outros jovens taitianos a tentar a aventura profissional. Enfim, ainda não decidi nada. Por enquanto só penso na seleção.
O Taiti será a sede da Copa do Mundo de beach soccer em setembro. Você se anima? Se eu estiver por lá, porque não? Como muitos jovens, eu comecei a jogar futebol na praia. Seria um retorno às origens. Já até conversei com meu colega Naea Bennett, que é um dos comandantes da seleção de beach soccer, sobre o assunto. Seria ótimo, mas por enquanto não há nada de concreto.