Regulamento prevê até exclusão do Corinthians do torneio
Código disciplinar adotado pela Conmebol lista punições duras contra clubes cujas torcidas causarem problemas. Mas entidade é famosa pela impunidade
A lista de possíveis punições é extensa, e inclui desde penas leves, como advertência ou multa, até “perda de pontos”, “atuar com portões fechados”, “proibição de jogar em determinado estádio ou país” e “exclusão da competição, presente ou futura”
Durante décadas, a Conmebol ficou conhecida por manter impunes casos graves de violência nos estádios, principalmente nas disputas da Copa Libertadores. No ano passado, porém, a confederação sul-americana prometeu mudar radicalmente, passando a combater de forma rigorosa as infrações cometidas por jogadores, técnicos, dirigentes e torcedores. A adoção de um novo código disciplinar previa castigos pesados a quem cometesse atos violentos nas partidas organizadas pela entidade. Esse compromisso será colocado à prova a partir desta quinta-feira, quando a polícia da Bolívia deverá revelar os nomes dos torcedores responsáveis pela morte de Kevin Beltram Espada, de apenas 14 anos, atingido no olho por um sinalizador na partida entre San José e Corinthians, em Oruro, na noite de quarta. Torcedores corintianos que foram à Bolívia foram apontados como suspeitos e estão detidos. Caso a culpa dos brasileiros seja comprovada, o rigor da Conmebol no combate à violência será testado de forma definitiva.
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Trata-se de um caso gravíssimo – e, portanto, sujeito a punições igualmente graves. O clube envolvido na tragédia, no entanto, é o atual campeão do torneio, candidato forte ao título deste ano, dono da segunda maior torcida do Brasil – e garantia de grande audiência televisiva e farta arrecadação nas bilheterias. O regulamento do torneio prevê até mesmo a exclusão de um clube cuja torcida pratique uma infração grave. Mas a Conmebol está disposta a abrir mão do Corinthians em sua competição mais rentável? De acordo com o artigo 11 do código disciplinar da Conmebol, “os clubes podem ser punidos por comportamento inadequado dos torcedores”. Entre os exemplos de irregularidades citados no texto estão o lançamento de objetos ao campo e o uso de sinalizadores. A lista de possíveis punições é extensa, e inclui desde penas leves, como advertência ou multa, até “perda de pontos”, “atuar com portões fechados”, “proibição de jogar em determinado estádio ou país” e “exclusão da competição, presente ou futura”. Ainda não há qualquer indicação do que a Conmebol pretende fazer. A entidade, aliás, nem sequer se pronunciou sobre a tragédia.
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Apesar de só a polícia local ser capaz de confirmar a informação oficialmente, ficou claro para todos no estádio que o lançamento do sinalizador partiu da torcida do Corinthians. Tanto o técnico Tite como o gerente de futebol do clube, Edu Gaspar, choraram ao comentar a tragédia. “Não se vence a qualquer custo. O esporte tem outro sentido. Sei que o que vou dizer não vai tirar a dor de ninguém, mas estamos muito sentidos. Eu trocaria o meu título mundial pela vida do menino”, disse o treinador. Edu contou que estava próximo do local onde a tragédia aconteceu. “As pessoas nos xingaram e tivemos que sair dali no segundo tempo. Fomos buscar mais notícias. Foi uma fatalidade. A nossa volta para casa será dura. Não tenho muito mais o que dizer a não ser lamentar”. Pelo menos nove torcedores do Corinthians foram detidos por causa da tragédia. Dirigentes do clube foram hostilizados por torcedores do San José durante a partida e precisaram se recolher no vestiário. No final do jogo, o público brasileiro foi chamado de “assassino”. A polícia local impediu a saída dos torcedores e jornalistas para impedir um tumulto, já que muitos bolivianos permaneceram nos arredores do estádio esperando a saída dos visitantes. Depois de cerca de uma hora, os torcedores locais foram embora e só a partir deste momento os brasileiros foram autorizados a deixar o estádio.