O Brasil ganha peso em Londres – mas só fora das provas
Presença do país na cidade é forte, mas influência e projeção trazidas por Jogos de 2016, no Rio, existem apenas nos bastidores – no esporte, faltaram destaques
O Brasil, confirmando o clichê de país do futebol, só figura com grande destaque nas projeções olímpicas quando o assunto é a modalidade de Marta e Neymar
A Somerset House é um palacete às margens do rio Tâmisa, em Londres – e, desde a semana passada, ali convivem Van Gogh, os Rolling Stones e o Rio de Janeiro. No mesmo local que abriga uma das mais prestigiosas coleções de arte da Grã-Bretanha (a Courtald Gallery) e a exposição oficial dos 50 anos da banda de Mick Jagger e Keith Richards, o comitê dos Jogos de 2016 montou a Casa Brasil, para receber seus convidados e promover a Olimpíada e o país. Um dos pontos mais nobres de Londres, a mansão era disputada por outros eventos, mas foi reservada aos brasileiros. Da mesma forma, do outro lado do Tâmisa, no sul da cidade, um dos centros esportivos mais tradicionais e bem-estruturados de Londres passou a servir como quartel-general da delegação olímpica brasileira. O Crystal Palace também era cobiçado por fortes equipes nacionais nos Jogos, e ainda assim acabou sendo ocupada por um time olímpico de histórico relativamente modesto no evento. Essa presença brasileira reforçada – em número de representantes e também em prestígio – mostra que o Brasil, sede da próxima Olimpíada, ganhou influência e projeção na maior festa esportiva do planeta. Mas foi só na parte da festa, e não do esporte. A quatro anos de receber os Jogos, o país ganhou peso nos bastidores e em todo o cerimonial que cerca uma Olimpíada. Nas competições, segue num patamar apenas intermediário, sem nenhum protagonismo.
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A apenas três dias da abertura oficial dos Jogos, jornais e programas da TV britânica não cansam de exibir imagens dos favoritos às medalhas e de fazer projeções sobre os grandes duelos dos Jogos. O Brasil, confirmando o clichê de país do futebol, só figura com grande destaque quando o assunto é a modalidade de Marta e Neymar (que, aliás, têm um papel tão diferente na competição que suas sedes ficam distantes de Londres e suas partidas começam antes mesmo da abertura, já na quarta-feira). Grandes apostas brasileiras são lembradas apenas nas análises mais detalhadas da briga pelas medalhas – César Cielo, por exemplo, é completamente ofuscado pela rivalidade entre os americanos Michael Phelps e Ryan Lochte. O maior problema, na verdade, não é a discrição dos atletas brasileiros ou sua cotação nas bolsas de apostas. Mais preocupante para a próxima sede olímpica é mesmo a falta de uma evolução clara da delegação do país na comparação com Pequim-2008. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) já tinha divulgado que projeta a manutenção do mesmo patamar conquistado nos últimos Jogos, apostando num salto qualitativo apenas em 2016. Os cartolas brasileiros garantem que ficarão satisfeitos com a conquista do mesmo total de medalhas de Pequim – 15, sendo 3 de ouro, 4 de prata e 8 de bronze -, desde que o país esteja presente em mais finais olímpicas, o que já indicaria uma evolução de seus atletas.
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Para um país que só recentemente tentou estabelecer políticas públicas para estimular o esporte – e, com isso, enfim subir de patamar nas disputas de alto rendimento -, ter metas pouco ambiciosas para os Jogos não seria vergonha alguma. Isso se não fosse pela avalanche de recursos despejados no incentivo aos atletas de várias modalidades olímpicas. No fim de 2011, um levantamento do site Contas Abertas, parceiro de VEJA, revelou que o Brasil investiu muito dinheiro no esporte nos últimos anos, mas com resultados decepcionantes. O Orçamento de 2010, por exemplo, reservou ao esporte nada menos que 2,3 bilhões de reais, dos quais 778 milhões foram efetivamente gastos. É quatro vezes o montante pago dez anos antes. Na soma de todos os recursos federais para o esporte em 2010, chega-se a uma despesa total de 1,72 bilhão de reais. Ainda assim, os dirigentes olímpicos brasileiros mantêm o foco em 2016, dizendo que não era possível formar novos campeões para Londres desde que o Rio foi escolhido para sediar os próximos Jogos. Ao abrir a Casa Brasil, na sexta, o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, disse que a ideia é “sair daqui preparando uma nova geração” – mas que, em 2016, “a meta é ficar no top 10” do quadro de medalhas. Em sua visita ao Crystal Palace, Nuzman tentou defender até o Pan de 2007, argumentando que a competição no Rio de Janeiro aumentou a vontade do Brasil de virar uma potência olímpica. Passados cinco anos, na sede dos Jogos, não há sinais claros de que esse desejo tenha provocado grandes mudanças, pelo menos por enquanto.