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Médico da seleção em 1998 não queria Ronaldo no campo

Exatos quinze anos depois do vice contra os franceses, Joaquim da Mata, que acompanhou o craque no hospital, diz que foi contra escalação do Fenômeno

“Era só pela exiguidade do tempo. Não que eu temesse pela vida dele. Houve um fato, uma agressão ao organismo, o organismo precisava de tempo para se recuperar”

O dia 12 de julho de 1998 está marcado na história do futebol brasileiro por causa da derrota na final da Copa do Mundo da França, mas não apenas por isso. Horas antes da partida decisiva, o atacante Ronaldo, então o grande astro da seleção, sofreu uma convulsão no Chateau de Grande Romaine, a concentração da seleção, e foi submetido às pressas a exames numa clínica de Lilas, nos arredores de Paris. De acordo com reportagem publicada nesta sexta-feira – exatos quinze anos depois da final – pelo jornal O Estado de S. Paulo, Joaquim da Mata, um dos médicos da CBF na ocasião, agora revela que era contra a escalação de Ronaldo no jogo, que terminou com vitória da França, por 3 a 0. O chefe da equipe médica era o ortopedista Lídio Toledo, que morreu em 2011. Em entrevista concedida em seu consultório, no Rio de Janeiro, Joaquim da Mata explica que considerava prudente que houvesse mais tempo para que o atleta fosse avaliado. Da Mata foi quem o levou à clínica, o acompanhou nos exames e, depois, foi com Ronaldo para o estádio da final do Mundial.

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Acervo Digital VEJA: Leia reportagem sobre a convulsão de Ronaldo na Copa

Mesmo com o parecer dos médicos da clínica de Lilas, que não diagnosticaram nada grave em Ronaldo, Da Mata percorreu o caminho entre o hospital e o Stade de France com uma opinião clara: “Ele sabe que eu não queria que ele jogasse”, disse, referindo-se a Ronaldo. O médico revelou também que manifestou sua posição a seu superior. “Eu disse ao Lídio, por precaução, que preferia que não jogasse.” Apesar de suas ressalvas, o médico deixa claro que o atleta não correu nenhum risco ao ser escalado por Zagallo. “Era só pela exiguidade do tempo. Não que eu temesse pela vida dele. Houve um fato, uma agressão ao organismo, o organismo precisava de tempo para se recuperar”, explicou o médico ao Estadão. Joaquim da Mata, que tem no currículo passagens por Botafogo e seleção brasileira, também faz questão de deixar claro que a decisão foi tomada em conjunto no vestiário do Stade de France, em reunião com Lídio e Zagallo. Ronaldo foi chamado em seguida e confirmou que estava se sentindo bem e queria jogar.

“Nós chegamos a um consenso. Eu, Lídio e Zagallo. Tínhamos os exames em mãos, e eles não apontavam nada de anormal no Ronaldo. Não estou dividindo, tirando a minha responsabilidade, a de ninguém, não. Ali foi um consenso.” A escalação de Ronaldo na final da Copa rendeu aos dois médicos um processo no Conselho Regional de Medicina do Rio. Acusados de negligência, foram absolvidos em julgamento realizado em 1999, por 32 votos a zero. No dia da final, Ronaldo passou mal depois do almoço. Ficou inconsciente por alguns segundos, com os músculos contraídos, a língua enrolada. Joaquim permaneceu ao seu lado por quase 90 minutos. A caminho da clínica, não lembrava do mal estar. Submetido a uma tomografia computadorizada e a um eletroencefalograma, acabou liberado rapidamente. A seleção já estava no Stade de France e o primeiro anúncio oficial da escalação indicava Edmundo como substituto de Ronaldo. De acordo com o médico, Ronaldo pediu pressa ao motorista que o levava até o estádio e só falava em jogar. Seu rendimento, porém, ficou muito abaixo do esperado.

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Ronaldo depois da final contra a França na final da Copa de 1998. Minutos antes da partida decisiva, o jogador sofreu uma convulsão. Sua escalação chegou a ser questionada, mas os médicos o autorizaram a entrar em campo
Ronaldo depois da final contra a França na final da Copa de 1998. Minutos antes da partida decisiva, o jogador sofreu uma convulsão. Sua escalação chegou a ser questionada, mas os médicos o autorizaram a entrar em campo VEJA

(Com Estadão Conteúdo)

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