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Ex-técnico da Seleção acusa retrocesso e jogo político na CBF

Técnico da Seleção Brasileira feminina entre 2008 e 2011, Kleiton Lima considera que viveu o período gordo da modalidade, com boa estrutura e a bonança criada pelo projeto ‘Sereias da Vila’ do Santos. Agora, o ex-treinador – e atual auxiliar da equipe masculina do São Caetano – observa que as meninas do esporte mais popular […]

Técnico da Seleção Brasileira feminina entre 2008 e 2011, Kleiton Lima considera que viveu o período gordo da modalidade, com boa estrutura e a bonança criada pelo projeto ‘Sereias da Vila’ do Santos. Agora, o ex-treinador – e atual auxiliar da equipe masculina do São Caetano – observa que as meninas do esporte mais popular do País caíram novamente na fase de esquecimento.

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‘Desde o fim do ano passado, eu não vejo mais nada, vejo um desmanche muito grande, não se divulga mais nada do futebol feminino, o Santos fechou o seu departamento, outros clubes que tinham trabalho importante também fecharam as portas’, lamenta Kleiton Lima. ‘Há uma clara queda de estrutura’, completa.

Em entrevista exclusiva à GE.Net, Kleiton Lima abordou um assunto polêmico: a sua saída da Seleção Brasileira. Sem citar nomes, ele diz que bateu de frente com o responsável pela modalidade (na época o supervisor era Paulo Dutra) na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para contar com as principais estrelas na disputa dos Jogos Pan-americanos de 2011. Como não conseguiu a medalha de ouro, acabou demitido.

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‘Quem estava na supervisão, não me ajudou para contarmos com as atletas de elite, tivemos uma dificuldade enorme, não tivemos a preparação necessária, a força ideal de bastidores para trazer as atletas de fora do País, já que os clubes não liberaram’, justifica.

Ainda assim, Kleiton Lima aposta na tradicional superação das jogadoras brasileiras e espera um resultado positivo em Londres, a partir da estreia desta quarta-feira contra Camarões. Ele cita, inclusive, a esperança de ver a equipe acabar com o incômodo jejum de finais – foram derrotas nos Jogos Olímpicos de 2004 e 2008, no Mundial de 2007 e no próprio Pan-americano do ano passado.

Veja a entrevista exclusiva com Kleiton Lima:

GE.NET – O que podemos esperar dessa equipe feminina em Londres?

KLEITON LIMA: Quando falamos da Seleção feminina, naturalmente nós esperamos muito, eu conheço a qualidade técnica das atletas. Eu trabalhei durante quatro anos lá, então sempre há um sentimento de superação, a modalidade ainda tem problemas. Eu vivi cinco anos no projeto das Sereias da Vila, tivemos um progresso enorme, de estrutura, de mídia. Agora, confesso que, desde o fim do ano passado, eu não vejo mais nada disso, vejo um desmanche muito grande, não se divulga mais nada, o Santos fechou o seu departamento, outros clubes que tinham trabalho importante também fecharam as portas. Potencialmente, a Seleção vai brigar pela medalha de ouro. Eu estava na liderança do time, desde que assumi em 2008, a gente tinha esse sentimento de buscar, mas aconteceram problemas políticos na CBF e com essa transição política, a Seleção feminina foi deixada de lado.

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GE.NET – Pelo que você fala, então houve um retrocesso na modalidade.

KLEITON LIMA: O Santos era a estrutura modelo, trabalhei lá desde 2007, lançando e buscando a profissionalização, a gente conseguiu ter uma transformação enorme, com estrutura profissional, criando a marca das Sereias da Vila. A conquista da Libertadores, do Mundial, tudo trouxe uma expectativa grande. Mas ocorreram problemas políticos, voltou a retroceder. Se o Santos era modelo e acabou, os outros times desanimaram, acabaram parcerias importantes com faculdades e cidades do interior, há uma clara queda de estrutura.

GE.NET – Esses problemas podem afetar as futuras gerações e as próximas renovações, algo que você pregava na Seleção, certo?

KLEITON LIMA: Quando peguei a Seleção, a gente viu que precisava de uma renovação, tínhamos um grande número de atletas com 30, 32 anos que não suportariam um novo ciclo. Ficamos com nomes experientes como a Aline, a Formiga, a Andreia, e trouxemos caras novas, a Maurine, a Francielli, a Thaisinha, que hoje são atletas olímpicas. Mas, respondendo especificamente a sua pergunta, esse cenário pode ser prejudicial, sim.

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GE.NET – A Seleção Brasileira feminina sempre bateu na trave nas principais competições, foi vice-campeão mundial em 2007 e perdeu as últimas duas finais olímpicas. Você analisa essas derrotas como um peso para o grupo atual?

KLEITON LIMA: É uma questão psicológica, não há dúvida. No último Pan-americano, fomos com duas titulares e uma base sub-20, tínhamos um time jovem e, ainda assim, elas sentiram o peso. Chegaram a bater grandes adversários, mas tínhamos o jogo da final contra o Canadá nas mãos, tomamos um gol aos 45 minutos do segundo tempo e perdemos nos pênaltis. A gente vê que tem uma pressão para desencantar, é natural por tudo o que aconteceu, mas uma hora vai ganhar.

GE.NET – Deve ser doloroso para você assistir a Olimpíada de longe.

KLEITON LIMA: Eu vou me sentir campeão se houver a conquista, terei um grande carinho porque trabalhei próximo a esse grupo. Mas o futebol é assim mesmo, até o futebol feminino é igual, eu sei o motivo da minha saída, foi uma situação mais política, algumas coisas aconteceram, já estavam dando sinais de troca. O importante é ressaltar a evolução das atletas nos últimos anos, a transição com as jovens. Eu tive só uma derrota em 33 partidas (foram 26 vitórias e seis empates), fomos eliminados da Copa do Mundo pelos Estados Unidos sem perder, nós empatamos e tivemos o jogo na mão, fomos eliminados em situação anormal (nos pênaltis), jogando melhor. Também disputamos torneios internacionais, fomos campeões de competições importantes. Os números provam que estávamos em condições de brigar por coisas grandes. Meu trabalho tem muita credibilidade, sabendo que houve amadurecimento do grupo, a transição de atletas e a criação de uma equipe coesa, forte e dinâmica. Eu me doei muito.

GE.NET – Afinal, qual foi o motivo da sua saída? A impressão que passa é que você brigou com alguém.

KLEITON LIMA: Vou ser sincero, houve certa dificuldade no Pan-americano de Guadalajara. Não quero citar nomes, mas quem estava na supervisão (na época, era Paulo Dutra), não me ajudou para contarmos com as atletas de elite, tivemos uma dificuldade enorme, não tivemos a preparação necessária, a força ideal de bastidores para trazer as atletas de fora do país, já que os clubes não liberaram. Eu bati forte com isso, queria a equipe com força máxima, sabia da importância dessa competição na preparação. Eu bati de frente pela modalidade, era um estágio importante. Pensei que estava lutando pela modalidade, mas vi que era mais fácil trocar o técnico. Tivemos a situação de não contar com um diretor de futebol feminino, ficamos desprotegidos. Tinha o supervisor na época, que tinha total autonomia, eu me senti sem respaldo lá dentro.

GE.NET – Agora você está como auxiliar do Sérgio Guedes no time masculino do São Caetano que está na Série B do Brasileiro. Sente uma grande diferença em relação ao futebol feminino?

KLEITON LIMA: Profissionalmente é mais fácil atuar no masculino, não tem comparação, você não precisa fazer diversas funções como no feminino, a condição é muito melhor, e estou falando da um clube que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro. Traz, inclusive, uma perspectiva maior de crescimento profissional.

GE.NET – Financeiramente, valeu a pena a troca da posição de técnico de primeira linha do futebol feminino para auxiliar de um clube de Série B no masculino?

KLEITON LIMA: Para ser sincero, nos últimos anos com o Santos, eu tive uma boa condição profissional, de 2008 a 2011, na questão de remuneração, e ainda havia o trabalho na Seleção. Hoje, como auxiliar, estou mantendo o patamar. Podemos dizer que o técnico número um do feminino, aquele que dirige a Seleção, tem a mesma situação de um auxiliar da Série B do masculino.

GE.NET – Você teve outras experiências com o futebol masculino?

KLEITON LIMA: Sim, eu fui preparador físico e auxiliar técnico dos times de base do Santos, tive a oportunidade de trabalhar com grandes jogadores como o Robinho e o Diego. Em 2003, também trabalhei no Clube Atlético Assisense (da cidade de Assis), na disputa da Série B do Campeonato Paulista (na verdade, a quarta divisão do Estadual de São Paulo).

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