Brasil tem caminho complicado para o basquete 3×3 nos Jogos de Tóquio
Classificação depende do desempenho em ranking ou resultado em pré-olímpico
A Federação Internacional de Basquete (Fiba) definiu que oito países em cada gênero vão participar dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 na nova modalidade basquete 3×3.
A categoria tem regras semelhantes às do basquete tradicional, com algumas diferenças. Cada time tem três jogadores em quadra e apenas um reserva. A disputa é feita em uma metade da quadra tradicional, com apenas um cesto. O jogo se divide em dois tempos de cinco minutos e vence quem chegar primeiro à marca de 33 pontos. Se nenhuma equipe alcançar essa pontuação em 10 minutos de jogo, a equipe com a pontuação mais alta é a vencedora. Caso haja empate no tempo normal, são jogadas prorrogações de dois minutos cada, até que haja um vencedor. O time que roubar a bola dentro da área de dois pontos precisa sair da zona de três pontos antes de iniciar um ataque. E, no início das jogadas, a bola deve ser passada antes de ser arremessada.
As vagas em Tóquio-2020 serão distribuídas pelo ranking internacional da modalidade — que leva em consideração o desempenho dos 100 melhores jogadores de cada nacionalidade — e em dois torneios pré-olímpicos.
No dia 1° de novembro de 2019, data definida pela Fiba para o fechamento da janela de classificação, os quatro melhores países ranqueados se garantem na Olimpíada, com o limite de duas vagas por continente. O número pode diminuir se o Japão, como país-sede, receber um convite. O Brasil está atualmente em 13° no masculino (o segundo das Américas, atrás dos EUA) e em 19° no feminino (também a segunda posição das Américas, atrás do Uruguai).
Outros três classificados serão conhecidos em maio de 2020 em um pré-olímpico, que distribuirá sete vagas. O torneio será disputado por 20 países: os três melhores classificados na Copa do Mundo que será realizada em junho deste ano, exceto os já classificados pelo ranking; o Japão (caso não receba o convite) e os 16 ou 17 subsequentes melhores ranqueados em 1° de novembro, com limite de 10 países por continente.
O último país nos Jogos de Tóquio será conhecido em junho, um mês antes do início da Olimpíadas, em outro pré-olímpico. O torneio será disputado por apenas seis países: o Japão, caso não tenha sido convidado ou garantido vaga, e os cinco melhores times ranqueados em 1° de novembro e que ainda não tenham se classificado. Detalhe: os países que participaram de Londres-2012 e Rio-2016 no basquete de quadra, o Brasil entre eles, não poderão disputá-lo.
“O caminho não é fácil. Não poderemos disputar o último pré-olímpico. Então temos apenas uma chance para obter uma vaga”, afirmou Chico Chagas, gerente de desenvolvimento do 3×3 da Confederação Brasileira de Basquete (CBB).
Com estrutura profissional, São Paulo DC é pioneiro no país
Estreante nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, o basquete 3×3 vive uma realidade bem distante do parente próximo, o 5×5. O investimento é exíguo, faltam equipes, são poucos torneios. O São Paulo DC é exceção à regra da modalidade no Brasil. Com sede na capital paulista, como o nome sugere, se tornou o primeiro time com estrutura profissional. Semente plantada para uma nova perspectiva.
A transição ocorreu neste ano. O responsável pela equipe é Gustavo Bracco, ex-atleta de 3×3 e formado em Direito. Por meio da Lei de incentivo ao Esporte do Ministério da Cidadania, ele conseguiu o investimento de empresas, como Havan, Decathlon, Tenda Atacado, Sorvetes Jundiá e Sabesp, para contratar profissionais e montar uma comissão técnica, além de remunerar os jogadores. “Criei um programa de Bolsa Atleta dentro do meu projeto”, explicou. “Não é um valor que vai trazer independência financeira, mas não fica distante do aplicado no basquete no Brasil”.
O São Paulo DC conta atualmente com preparador físico, fisioterapeuta, clínico geral, ortopedista, nutricionista, nutróloga e até dentista. Busca um técnico, função ainda sem mão de obra especializada. Existe uma rotina de treinamento, algo raro no 3×3. Os jogadores treinam na quadra de terça a sábado, na Associação de Pessoal da Caixa Econômica Federal, e fisicamente no Núcleo de Alto Rendimento Esportivo (NAR), de segunda a sexta-feira.
A mudança de status provocou baixas. Três jogadores deixaram o São Paulo DC porque o planejamento previa dedicação exclusiva. Felipe Camargo e Jonatas Mello, que moram em Limeira e Araras, respectivamente, foram para o Campinas. Já William Evangelista seguiu para o Santos 3×3. Apenas Luiz Felipe Soriani continuou.
“Sempre jogamos de igual para igual contra todos os times do mundo, mas faltava alguma coisa para ganhar. E isso temos agora, treinando todos os dias, com uma estrutura bacana, podendo nos dedicar 100%. É o começo, mas acredito muito nesta mudança que estamos realizando”, disse Soriani, 103° do mundo e terceiro brasileiro no ranking da Federação Internacional de Basquete (Fiba).
Uma seletiva foi realizada para que o time elite fosse reconstruído e atraiu jogadores que disputam o NBB (Novo Basquete Brasil). Jefferson Socas se despede do Joinville no fim de março e se apresenta em abril. Outro jogador que migrou para o 3×3 foi Will Weihermann, de 21 anos, ex-companheiro de Socas. A estrutura do São Paulo DC foi determinante. “Muitos times do NBB, não apenas o Joinville, não têm uma estrutura nem próxima da que temos aqui. Não tínhamos preparador físico, nutricionista, era cada um por si. Aqui tenho condições de realizar um trabalho para ganhar massa muscular e melhorar o meu aspecto físico, que é o meu ponto fraco”.
Will é um dos cinco atletas da equipe sub-23, mais um diferencial do projeto, e sonha em disputar os Jogos Pan-Americanos do Peru neste ano. O São Paulo DC pensa no futuro da modalidade. Não à toa, firmou parceria com a Unip para que os jogadores possam estudar, além de jogar. O time faz parte do projeto Drible Certo no Mundo, que existe há cinco anos e vem sendo aprovado pela Secretaria de Esportes do Governo de São Paulo, através da ONG Associação de Basquete de Rua SP.
O time, que já realizou 17 viagens internacionais em cinco anos, tem verba garantida para disputar cinco torneios fora do Brasil neste ano e um período de treinos na Sérvia, com o Novi Sad, onde atua Dusan Bulut, o melhor jogador do mundo. “Torço para que os outros times possam seguir o mesmo caminho, se dediquem um pouco mais, porque isso vai atrair mais patrocinadores e o 3×3 vai crescer”, afirmou Bracco.
Ranking Mundial do basquete 3×3 por federações:
Pos. | Ranking Masculino | Pontos | Ranking Feminino | Pontos |
1° | Sérvia | 31 082 000 | Mongólia | 5 646 948 |
2° | Rússia | 21 075 943 | China | 5 373 391 |
3° | Eslovênia | 17 220 115 | Rússia | 4 221 181 |
4° | Japão | 16 882 874 | Romênia | 4 031 144 |
5° | Letônia | 16 521 320 | França | 3 983 075 |
6° | Mongólia | 15 462 310 | Estônia | 3 476 675 |
7° | China | 15 085 120 | Ucrânia | 3 234 668 |
8° | Estados Unidos | 14 628 029 | Japão | 3 036 154 |
9° | Holanda | 13 377 965 | Holanda | 2 525 144 |
10° | Ucrânia | 11 740 415 | Hungria | 2 409 242 |
11° | Lituânia | 11 547 710 | Uruguai | 2 135 930 |
12° | Catar | 11 246 900 | Irã | 1 902 904 |
13° | Brasil | 10 486 105 | Indonésia | 1 882 470 |
14° | Polônia | 10 048 930 | Itália | 1 836 770 |
15° | Romênia | 9 899 640 | República Checa | 1 777 443 |
16° | França | 9 607 000 | Suíça | 1 499 160 |
17° | Estônia | 8 381 935 | Andorra | 1 355 730 |
18° | República Checa | 7 721 480 | Letônia | 1 300 958 |
19° | Turquia | 6 646 350 | Brasil | 1 286 954 |