Publicidade
#TBT Placar ícone blog #TBT Placar Toda quinta-feira, um tesouro dos arquivos de nossas cinco décadas de história

Santos portenho? Como PLACAR cobriu falência e redenção do Racing

Em 2001, clube de Avellaneda conquistou o título argentino dois anos depois de decretar falência, com atual presidente no ataque

O Racing Club está perto de soltar mais um grito inédito nesta quinta-feira, 27. O tradicional clube argentino da cidade de Avellaneda, na grande Buenos Aires, entra com boa vantagem sobre o Botafogo (venceu a ida por 2 a 0) para o jogo de volta da Recopa Sul-Americana 2025, no Estádio Nilton Santos.

Publicidade

La Academia se credenciou a disputar esta taça ao vencer o Cruzeiro na final da Sul-Americana do ano passado, pondo fim a um jejum internacional que já durava 36 anos. Coincidentemente, o técnico Gustavo Costas, uma lenda local, também estava presente, como zagueiro, no título anterior, o da Supercopa Sul-Americana de 1988.

O torcedor racinguista, portanto, vive hoje dias de orgulho e euforia, bem diferente da realidade vivida na virada do século. Em 1999, em meio a uma gravíssima crise financeira, o Racing teve decretada a sua falência. Com a ajuda fundamental de seus fanáticos, se reergueu e conseguiu o título argentino dois anos depois, em 2001, com o então jovem atacante Diego Milito como um dos destaques. Hoje, o ídolo é presidente do clube.

Publicidade

A redenção do Racing mereceu destaque na edição de PLACAR de dezembro de 2001, dias antes da confirmação do título histórico. O texto do jornalista argentino Elías Perugino tratou o Racing como o “Santos da Argentina”, por se tratar de um time simpático a todos os clubes, exceto um, claro.

“Atrás de Boca e River no ranking de popularidade, o Racing foi um pouco ‘a equipe de todos’ no Torneo Apertura (menos dos torcedores do Independiente, seu rival histórico de Avellaneda, fonte das gozações mais cruéis por tantos anos de desventuras, que incluem duas temporadas na segunda divisão). Estranhamente fartos de chutar cachorro morto – o segundo esporte nacional na Argentina -, os torcedores que amam outras cores deram seu veredicto: ‘Se minha equipe não for campeã, que seja o Racing'”, escreveu Perugino, redator-chefe da revista El Gráfico e parceiro de longa data de PLACAR.

O blog #TBT PLACAR, que todas as quintas-feiras recupera um tesouro de nossos arquivos, reproduz o trecho abaixo na íntegra:

Publicidade

O Santos Porteño

Como o tradicional clube fugiu da falência e está a um empate de um título redentor

Elías Perugino

Até hoje, o Racing tem sido uma metáfora da Argentina. Humilhado pelas frustrações dos últimos 35 anos, dirigido pelos maiores especialistas em desordem e asfixiado por uma dívida que o colocou a um passo da quebra, o clube fundado em 1903 por operários ferroviários é a síntese involuntária de um país à deriva.

Ao mesmo tempo, o Racing pode transformar-se num horizonte paradisíaco e inalcançável dentro do mesmo país. À beira da conquista do sétimo título em 70 anos, e respaldado pelo gerenciamento a cargo da empresa Blanquiceleste S.A., que lhe permitiu pilotar a tempestade econômica-financiera, o clube que popularizou figuras como Roberto Perfumo, Ubaldo Fillol e Alfio Basile está experimentando sensações impensadas para a vida diária dos demais argentinos: prosperidade, realização, autonomia, felicidade…

Atrás de Boca e River no ranking de popularidade, o Racing foi um pouco “a equipe de todos” no Torneo Apertura (menos dos torcedores do Independiente, seu rival histórico de Avellaneda, fonte das gozações mais cruéis por tantos anos de desventuras, que incluem duas temporadas na segunda divisão). Estranhamente fartos de chutar cachorro morto – o segundo esporte nacional na Argentina -, os torcedores que amam outras cores deram seu veredicto: “Se minha equipe não for campeã, que seja o Racing.”

Passional como a do Boca e masoquista como nenhuma outra, a torcida do Racing durante 35 anos encheu estádios, sem precisar de tantas companhias solidárias. Amargou 71 técnicos fracassando.

Até que chegou Reinaldo Merlo, o Mostaza. Amigo dos amigos, nobre como todos que são criados no bairro, eternamente loiro graças a litros de tintura e dono de uma voz embriagada que parece de desenho animado, Merlo foi um meia rudimentar que jogou 15 anos no River. Auxiliar de Alfio Basile na Copa de 1994, o bonachão Mostaza não goza de grande prestígio como treinador.

“Que incrível! Passaram tantos técnicos importantes e veja quem é campeão com Racing” é a frase típica de quem não valoriza seus conhecimentos táticos e fica apenas com suas “habilidades” esotéricas. É que Merlo recorreu à cabala e não faz força para esconder: usa a mesma camisa azul em cada jogo, toca a grama antes do apito inicial, faz chifrinho com a mão direita quando o rival tem falta a favor.

Mas teve uma virtude: armou um time à sua imagem, austero em recursos técnicos, mas com uma imensa garra. E desde o reconhecimento de suas limitações foi capaz de construir o que nenhum arquiteto pôde: um milagre. Até agora, o Racing é uma metáfora da Argentina. Domingo que vem, é provável que a Argentina nem sequer tenha uma metáfora…

Publicidade