Os palpites (certeiros ou nem tanto) no guia PLACAR da Copa de 2002
Edição de 20 anos atrás respeitou a tradição de Brasil e Alemanha e acertou ao apostar na Turquia, mas desafinou ao elencar os grandes favoritos
O torcedor mais velho que acordou cedo nesta quinta-feira, 2, para acompanhar a goleada da seleção brasileira sobre a Coreia do Sul, em amistoso em Seul, certamente se lembrou da Copa do Mundo de 2002, a do pentacampeonato brasileiro. Aquele foi um evento especial, não apenas pelo título ou pelo ineditismo de uma Copa na Ásia (e, portanto, de madrugada para nós). Foi também uma Copa repleta de surpresas e decidida por seleções tradicionalíssimas, mas que chegaram à Coreia do Sul e Japão desacreditadas.
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PLACAR caprichou no guia daquele Mundial, como faz em todas as copas — o deste ano, por sinal, será a nossa edição de novembro. E como o segredo do sucesso do esporte mais amado do planeta é sua imprevisibilidade, não acertamos todos os palpites. O blog #TBT PLACAR, que todas às quintas-feiras recupera um dos tesouros de nossos arquivos, relembra o guia da Copa de 2002.
Começando pelo campeão: a revista esportiva mais tradicional e longeva do continente não cometeria o erro de descartar o Brasil na disputa. Relembrando que em outros títulos mundiais o Brasil também chegou desacreditado, o tom era de otimismo cético. “[1958, 1970 e 1994] São três bons exemplos de que a má campanha nas Eliminatórias não é motivo para pessimismo. Afinal, a Copa começa do zero.”
O guia apostava em Ronaldinho Gaúcho, então uma emergente estrela do PSG, como a principal esperança. “Nem Rivaldo nem Ronaldo e nem muito menos Romário. O nome é Ronaldinho Gaúcho. Ele ganhou não só espaço no time como status de estrela principal numa equipe que é quase uma constelação.” O gaúcho de 22 anos até brilhou no penta, mas foram mesmo Rivaldo, autor de 5 gols, e Ronaldo, o artilheiro da Copa com 8, os mais decisivos da campanha.
A boa e velha cautela também nos afastou do erro em relação à vice-campeã Alemanha. PLACAR ressaltou que os tropeços, contusões e desfalques ameaçavam a tradição germânica, mas acertou em cheio nos nomes que poderiam mudar o cenário. “A esperança dos alemães agora reside na segurança do goleiro Oliver Kahn e no futebol do meia Ballack.”
As escorregadas nos palpites vieram em relação aos favoritos. Justiça seja feita: era impossível não apontar França e Argentina como os principais candidatos. Dominante nas Eliminatórias Sul-Americanas, a equipe dirigida por Marcelo Bielsa vinha em ritmo inversamente proporcional à economia argentina. “A espinha-dorsal do time — o zagueiro Ayala, os meias Simeone, Verón e Zanetti, e os atacantes Claudio López, Batistuta e Crespo — joga junto desde a última Copa, está mais experiente e no auge da forma técnica.” A equipe, porém, sucumbiu ao chamado “grupo da morte”, atrás de Inglaterra e Suécia.
A França chegou ao Mundial como a grande favorita e em condições semelhantes à atual: atual campeã do mundo e celebrando o amadurecimento de um jovem goleador — Thierry Henry era o Mbappé da época. “Mais experientes, melhores no ataque, melhores no meio. E podemos pegá-los já nas quartas de final…” era a preocupação de um país ainda abalado pelos 3 a 0 na final da Copa anterior.
“Zidane continua sendo o grande maestro, mas o ataque, que não tinha ninguém, ganhou Henry e Trezeguet na melhor forma de suas carreiras…” Com Zidane baleado por lesão, porém, os Azuis, derraparam já na abertura do Mundial, em uma histórica derrota para Senegal, e não passaram da primeira fase em um grupo que tinha ainda Uruguai e Dinamarca, sem marcar um gol sequer.
PLACAR acertou ao não menosprezar a Turquia, adversária da estreia e também da semifinal, que surpreendentemente acabaria na terceira colocação. “Ela não é galinha-morta. A Turquia vem fazendo bonito na Europa e pode complicar os brasileiros”. Assim foi: vitória por 2 a 1 na estreia, com um pênalti inexistente (fora da área) em Luizão, e 1 a 0 na semi, com gol de “biquinho” de Ronaldo. “Com esse estilo meio 8 ou 80, tudo pode acontecer com o adversário do Brasil na Coréia [à época, grafada com acento]. Quem acredita na empolgação com que a Seleção Turca corre em campo e no apurado faro de gol do artilheiro Sükür, aposta que ela será uma das surpresas da Copa.”
Outro escorregão da edição foi não prever que a Coreia do Sul poderia ir longe. “Nunca um anfitrião foi eliminado na primeira fase. Os coreanos são sérios candidatos a quebrar essa escrita”, dizia o texto. “Dentro do continente asiático, ela é uma potência, tanto que disputa a quinta Copa consecutiva, mas isso não é suficiente para torná-la uma ameaça para o resto do planeta.” Mal sabíamos que a equipe da casa chegaria à semifinal…
É verdade que as classificações da Coreia do Sul vieram com muitas polêmicas de arbitragem diante das favoritas Espanha e Itália no mata-mata. Em entrevista ao guia da Copa, o então presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, parecia já acreditar numa “zebra” local. “O interessante é que esta será a primeira Copa do Mundo na Ásia; e à exceção do Brasil, na Suécia, em 1958, a equipe campeã sempre veio do continente organizador. (…) Tudo será diferente: o ar, a comida… acho que haverá surpresas. Milagres não, mas surpresas.” Um pouco suspeito?