Luxemburgo, família Chedid e linguiça: quando o Bragantino começou a voar
Classificado à semifinal da Sul-Americana sob nova gestão, clube de Bragança Paulista já sonhava alto na edição dos campeões de PLACAR em 1990
Bragança Paulista, cidade com pouco mais de 170.000 habitantes, 80 km distante da capital, está em festa. Rebatizado com nome da empresa de energéticos austríaca que passou a geri-lo, o Red Bull Bragantino alcançou o seu maior feito internacional nesta semana ao eliminar o Rosário Central, da Argentina, no Estádio Nabi Abi Chedid, e se classificar às semifinais da Copa Sul-Americana. No Brasileirão, o Braga também vai bem, obrigado, na quarta colocação após 16 rodadas. O planejamento do clube-empresa, que visa repetir o sucesso de outras filiais da Red Bull pelo mundo e se tornar o quinto grande de São Paulo, vem, portanto, sendo seguido. Há mais de três décadas, o Bragantino, então apenas alvinegro, já sonhava alto.
O clube fundado em 1928 estreou na edição dos campeões de PLACAR em 1990, ano em que surpreendeu os rivais e ergueu o Campeonato Paulista da Série A pela única vez. O comandante da equipe era ninguém menos que um jovem Wanderley Luxemburgo (à época, seu nome ainda era grafado com W). O texto que detalhava a façanha da equipe era aberto com uma comparação com a Inter de Limeira, campeão estadual quatro anos antes, e já destacando aquela que segue sendo a grande iguaria culinária da cidade: a linguiça.
“Há cinco anos, a cidade de Limeira decidiu que era pouco ser conhecida como a capital da laranja e investiu o que pôde na formação de um time de futebol. A fórmula do ‘cresça-e-apareça” encontrada pelos limeirenses culminou no título Paulista de 1986, o primeiro vencido por uma equipe do interior. Até o início até o início deste ano, Bragança Paulista também não passava de um simples ponto no mapa do Estado. O único produto de orgulho para seus habitantes, reconhecido e famoso em outras cidades, era a pura linguiça de porco feita artesanalmente. Mas, assim como o que era laranja virou futebol de primeira qualidade, também o que era linguiça passou a segundo plano, vencido por um outro belo time de futebol”, diz lê-se na abertura do texto de 31 anos atrás.
“Com toda a metodologia de trabalho iniciado em Bragança, a conquista de um lugar ao sol era inevitável”, afirmou Luxemburgo, na época descrito como “carioca de 37 anos, virgem de futebol paulista, mas estudioso da escola percorrida pelo ex-técnico da seleção brasileira Cláudio Coutinho. Outro sobrenome conhecido, que até hoje segue na diretoria do clube, aparece na reportagem.”Patriarca do clube há quase 30 anos, Nabi Abi Chedid delegou todos os poderes a seu filho, Marcos Chedid, responsável pelo departamento de futebol do clube”, diz um dos trechos. Na época, a família controlava cinco empresas de ônibus, com uma frota de 600 veículos.
Marquinhos Chedid, empresário e ex-deputado federal, hoje com 63 anos, segue como presidente de honra do clube, ainda que com missão mais institucional, cabendo ao CEO Thiago Scuro o papel de chefe, de fato, do projeto. “Horas antes de falecer, meu pai me fez um único pedido: não deixe o Bragantino morrer”, contou Marquinhos, em nova entrevista a PLACAR, em 2020. Uma de suas exigências feitas à Red Bull a foi manter o estádio com o nome original.
Em 1990, o Bragantino já desfrutava de boa situação financeira. “Para chegar ao título do Paulistão em somente dois anos na Divisão Principal, o Bragantino investiu bastante. Só a folha de pagamentos da equipe principal beirava os 45.000 dólares, na época mais do que o dobro da folha corinthiana.”, narra a reportagem, que destaca uma transação frustrada que teria mudado a história do futebol brasileiro.
“Na semana em que decidiria o título com o Novorizontino, o Bragantino ofereceu 2 milhões de dólares pelo passe do meia Neto. Vicente Matheus, o presidente do Corinthians, escalou o meia para primeira partida do Campeonato Brasileiro e conseguiu inviabilizar o negócio”. Netp acabaria como o herói do primeiro título brasileiro do Corinthians naquele mesmo ano.
Outro nome conhecido daquele Bragantino era o do médico Marco Aurélio Cunha, contratado após 10 anos de serviços prestados ao São Paulo. “Em pouco tempo, o Bragantino será um laboratório, um exemplo de ponta no futebol”, profetizou Marco Aurélio Cunha. O caminho não foi tão simples. Depois de ser vice-campeão brasileiro em 1991, o time perdeu fôlego, caiu e só retornou, já rebatizado, em 2020, após 22 anos longe da elite. Agora, o time buscará sua maior glória internacional na Copa Sul-Americana, na qual enfrentará quem passar de Santos e Libertad, do Paraguai.
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