Gosto de comparar Pelé a líderes como Nelson Mandela e Martin Luther King
Sempre acreditei em um milagre e, talvez por isso, tenha sofrido tanto com o adeus dele na semana passada. Que vazio que ficou!
Quando uma pessoa fica muito tempo internada, dizem que a dor da partida é menor, pois temos um tempo para nos preparar para o pior. Não sei quem inventou essa máxima, mas ela não se adequa ao caso do Rei do Futebol. Durante os 30 dias que o craque ficou internado, eu sempre acreditei em um milagre e, talvez por isso, tenha sofrido tanto com o adeus dele na semana passada. Sou suspeito para falar, pois me considero um privilegiado por ter não só atuado ao lado de Pelé, mas conquistado uma Copa do Mundo ao lado dele. Que vazio que ficou!
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A minha mãe, Dona Esmeralda Lima, também é de Três Corações e, desde pequeno, eu já tinha uma idolatria pelo Rei. Essa eu nunca revelei para ninguém, mas quando fui adotado, vivia em um dilema. Nos anos 60, meu pai era treinador daquele timaço do Botafogo com Garrincha, Quarentinha, Zagallo, Didi e Nilton Santos, e travava um dos maiores clássicos de todos os tempos com o Santos de Pelé, Mengálvio, Pepe, Coutinho e cia. O natural era eu torcer para o time do meu pai, mas a admiração por Pelé fazia com que um grande ponto de interrogação surgisse na minha cabeça!
Agora, vocês imaginam a minha felicidade quando fui convocado para as Eliminatórias da Copa de 70 e tive o privilégio de dividir a concentração com o maior de todos os tempos? Àquela altura, Pelé já era tetracampeão mundial (dois títulos com a seleção e mais dois pelo Santos), e a minha idolatria só aumentava. No Retiro dos Padres, em São Conrado, local da nossa concentração, eu adorava ficar ao lado dele para ouvir as suas histórias. Às vezes, em tom de brincadeira, ele até falava para eu largar do pé dele! Kkkk! De tanto ouvir as resenhas, com muito orgulho, acabei virando seu secretário na concentração e fazia algumas ligações quando ele solicitava. Que saudade!
Lembro direitinho dos momentos ao lado dele! Na época com 20 anos, eu parecia estar sonhando por estar ao lado do Rei do Futebol. Inclusive, era dessa maneira que todos o chamavam. Sabem qual é o melhor? Ele nunca se comportou dessa forma e sempre foi um cara humilde, que atendia todos os fãs, dava conselhos para a garotada, um grande ser humano.
Eu tinha separado para citar algumas qualidades do Rei dentro de campo, mas ficou tão extenso que prefiro dizer que Pelé era completo! Até bater ele sabia! Kkkk! Quem não se lembra da cotovelada que ele deu no uruguaio depois da agressão covarde que sofreu? Coisa linda!
Me emocionei com as diversas homenagens que fizeram para ele, mas sempre vou achar pouco por tudo que o Rei nos proporcionou. Se algum maluco voltar a dizer que Pelé não jogaria nos dias atuais, juro que vou passar direto. Para matar as saudades, recomendo que assistam o filme “Pelé Eterno”.
Fora de campo, também gostaria de ressaltar tudo que o Rei representou! Em uma época de tanto racismo, quando olhavam torto para os negros em qualquer lugar e ocasião, estendiam o tapete vermelho para o “negão” em qualquer lugar do mundo! Quando ele marcou o milésimo, deixou um recado que é válido até hoje: “Ajudem as crianças desafortunadas, que necessitam do pouco de quem tem muito. (…) Pelo amor de Deus, o povo brasileiro não pode perder mais crianças”.
Gostaria de ressaltar outra frase marcante de Pelé que também cabe nos dias atuais: “O povo brasileiro ainda não está em condições de votar, por falta de prática, por falta de educação”.
A terceira e última mensagem que gostaria de relembrar foi na sua despedida do Cosmos em New York, quando o Rei pediu mais amor aos seres humanos: “Love, love, love”. Nesses gestos contra o preconceito e a desigualdade, gosto de comparar Pelé a líderes como Nelson Mandela e Martin Luther King!
No mais, obrigado por tudo, Pelé! Que você abençoe e traga luz ao nosso futebol daí de cima, Rei!
Pérolas da semana:
“Mesmo com um futebol amarrado, o jogador agudo tem a leitura de jogo para dar tapas na orelha da bola e desmanchar o terreno na transição. Dessa forma, expande o jogo e dá consistência ao encaixe”.
“Através de uma variação do 3-5-2, o treinador montou uma linha de quatro com dois pitbulls mordendo os adversários atrás da linha da segunda bola que vem no ar. Para fazer a transição, utiliza-se o jogador de beirinha para meter a chapa e pentear a bola com leitura labial”.
E aí, geraldinos! Assim como vocês, não entendo lhufas!