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O Comentarista do Futuro ícone blog O Comentarista do Futuro Ele volta no tempo para dar aos torcedores (alerta de!) spoilers do que ainda vai acontecer

Santa Cruz 2 x 1 Náutico: 30 anos do ‘clássico inesquecível’

Cronista vai à final do Pernambucano de 1993, na milagrosa virada tricolor, dar ‘spoilers’ sobre abismo entre clubes do Nordeste e a face Sul do País

Esclareço logo aos desavisados que não estão diante de um tratado acadêmico sobre a Economia nacional e sim de uma resenha esportiva, mas que por ser eu um Viajante do Tempo, vindo de 2023, creiam, não me furto à missão de fazer outro alerta: daqui a 30 anos estarão ainda maiores os abismos entre clubes ricos e pobres do Brasil e, por conseguinte, entre o Futebol praticado no Sul e Sudeste em comparação ao do Nordeste brasileiro. Dito isso, queridos leitores e queridas leitoras de 1993, sugiro aos torcedores do Santa Cruz que comemorem como nunca o título do Campeonato Pernambucano conquistado ontem, após essa virada milagrosa sobre o Náutico (2 x 1), com dois gols nos últimos minutos da partida, que levaram à prorrogação, quando um empate (0 x 0) garantiu o triunfo Coral. Que jogo! No próximo Século as torcidas de ambos os times ainda se lembrarão do embate, com a pergunta: “Onde você estava no dia 28 de julho de 1993?” E pouco importa que o ‘Primeiro Patamar’ da mídia futebolística do Brasil ignore a efeméride ano após ano. Foi uma final épica! Ainda mais quando sabemos, ou melhor, saberemos que tanto Náutico como o ‘Santinha’ terão temporadas difíceis nas três décadas que se avizinham. E garanto: “difíceis” é um baita de um eufemismo!

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Outra notícia ruim que trago do Futuro é que em 2023 ainda teremos tristes sinais do preconceito nas entranhas das elites sulistas do Brasil, que teimarão em jogar os povos (e Estados) da região num saco só: “nordestinos”. Como se termo semelhante fosse cunhado e usual para o Sudeste, por exemplo: “sudestinos”. Não existe. E nem existirá. Uma prova disso serão as reações públicas – em redes sociais, aguardem! – subsequentes à eleição de 2022, quando graças a eles, os brasileiros da Região Nordeste, retomaremos a democracia no País. Nos gramados também são muitas as contribuições dos clubes “nordestinos”, com suas histórias seculares e espetaculares. Como a partida de ontem, em noite chuvosa, em que o tricolor, após a derrota no primeiro confronto (Náutico 1 x 0) entrou em campo precisando da vitória para forçar o tempo extra e tendo muitos desfalques – o lateral-esquerdo Marco Antônio, o zagueiro Paulo Cézar e o volante Leomir, todos suspensos. Sofreu um gol de falta no finzinho do Primeiro Tempo e ainda viu seu centroavante e principal goleador (22 gols no campeonato), o veterano Washington (ex-Fluminense), exagerar na dose de vontade e ser expulso. Para piorar, só dava Náutico em campo, com os alvirrubros perdendo seguidas chances de ampliar o placar. Tanto assim que, aos 38 minutos do Segundo Tempo, boa parte da torcida do Santa já havia deixado o Arruda, inclusive o próprio Washington, que caminhava no estacionamento em direção ao seu carro quando ouviu os gritos vindo do estádio: “Gol!”, de Fernando. Um a um! Voltou. Ele e Leomir, que o acompanhava. E, aos 44, deu-se o improvável, o impossível. Ela… A Virada.

Não é à toa que é chamado de ‘Clássico das Emoções’. Após o lateral tricolor dar um chutão para frente, em desespero, um zagueiro alvirrubro falha escandalosamente e a bola sobra para Célio, que arrisca de primeira. Que golaço! A comemoração foi tamanha que o goleiro do clube teve que correr e lembrar a todos que nada estava ganho. Ainda faltavam 30 minutos, e com um homem a menos. Foi quando entrou em campo a garra desta camisa centenária, inspirada nas cores da antiga bandeira da Alemanha, ideia dos fundadores, a maioria alunos do Colégio Salesiano. Foi o Santa, registre-se aos que não sabem, o primeiro time no mundo a estampar no uniforme os nomes dos jogadores, nos anos 1930. O ‘manto’ foi envergado pelo poeta João Cabral de Melo Netto, que foi campeão juvenil pelo clube, e a Seleção do Irã, que em 1972, no torneio pelo Sesquicentenário da Independência, como muitos lembram, o escolheu para entrar em campo contra a Irlanda, resolvendo o impasse da mesma cor verde dos adversários. Um traje que tomou ares de figurino de cinema na famosa ‘Excursão da Morte’, que está completando exatos 50 anos (80 anos em 2023). Que drama!

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Excursão da Morte – Reprodução/PLACAR

Para quem não conhece o roteiro da aventura, em 1943 o Santa Cruz viajou para amistosos na Região Norte e a delegação teve que, entre outros percalços, fugir de submarinos alemães, após notícia de provável ataque, embarcando num navio, o Vapor Pará, com luzes apagadas e escolta da Marinha Brasileira. Os atletas, sob pavor, dormiram no convés, armados de peixeiras e foices. Um deles, Pedrinho, na mesma turnê foi preso e obrigado a casar (ordem judicial!) por desvirginar uma jovem de 17 anos. Não foi só. Dois jogadores, King e Papeira, ambos emprestados pelo América, não voltaram, vítimas de Tifo. Daí o nome do macabro passeio.

Mas hoje é dia de festa, torcedor coral! Que triunfo! O técnico Charles Muniz, por exemplo, a esta altura já está rodando pelo Recife com o prêmio ganho pela conquista: um Monza Zero km! E pouco importa que em 2023, embora ainda permaneça como o recordista em partidas invictas na Série A (27 jogos em sequência, no Campeonato Brasileiro de 1978), o Santa Cruz estará vivendo o momento mais difícil de sua história. Deixei o futuro dois dias após a gloriosa agremiação ser eliminada da Série D do Campeonato Brasileiro. Isso, sinto informar, eliminada na Série D!!! Nem podemos falar em ‘rebaixado’, pois não existe e nem existirá uma ‘Série E’. Em que campeonatos estará o ‘Santinha’ em 2024? Não saberemos. Talvez, com a eliminação, venha a ter apenas 13 partidas na temporada (12 no Pernambucano). Mas atenção: também estará em meio a negociações para a venda do Futebol do clube para um grupo de investidores (as ‘SAFs’, mania e tendência nos anos 20 do Século 21). Há esperanças. Afinal, como provou ontem, o Santa Cruz é o time do ‘impossível’. E do ‘improvável’.

Santa Cruz campeão de 1993 – Reprodução/

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FICHA TÉCNICA

SANTA CRUZ 2 x 1 NÁUTICO

Competição: Campeonato Pernambucano de 1993 (Final)

Data: 28 de julho de 1993

Estádio: Arruda

Local: Recife (PE)

Público: 71.243 pagantes

Renda: Cr$: 7.001.880.000,00

Árbitro: Wilson de Souza Mendonça

Assistentes: João José Venceslau e Waldomiro Matias

SANTA CRUZ: Marcelo; Araújo, Júnior Cordel, Reginaldo e Quinho; Mazo (Célio), Serginho e Fernando; Marcelinho (Gil), Washington e Marcelo
Técnico: Charles Muniz

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NÁUTICO: Paraíba; Cafezinho, Lúcio Surubim, Parreira e Baiano; Cléber, Borçato (Edílson) e Paulo Leme; Newton (Niquinha), Mário Carlos e Lau
Técnico: Luciano Veloso
Gols: Primeiro Tempo: Paulo Leme (Náutico), aos 46’; Segundo Tempo: Fernando (Santa Cruz), aos 38’; e Célio (Santa Cruz), aos 44

Cartões Amarelos: Cafezinho e Borçato (Náutico); Marcelo, Araújo, Fernando e Marcelo

Cartões Vermelhos: Washington (Santa Cruz)

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