O time com maior sequência de títulos no Brasil
Cronista vai a 1976, ano de ouro do Inter, ver vitória sobre o Grêmio que valeu o octacampeonato no ‘Gauchão’, marco como número de conquistas seguidas
Deixei o futuro, mais precisamente 2022, em um agosto, o mês do desgosto, certo? Bem, o temor pelo oitavo mês do ano espalha-se pelo mundo desde a Roma Antiga, quando os romanos confundiam a constelação de Leão, que surge no céu do Hemisfério Norte neste período, com um dragão cuspindo fogo, sinal de mau-agouro. Em Portugal, era em agosto a saída das embarcações dos exploradores de novos mundos e, por isso, as portuguesas, com medo da viuvez, não gostam de casar nestas datas. Na Argentina, diz-se que não devemos lavar a cabeça até chegar setembro, pois traz azar. A chegada de Hitler ao poder na Alemanha e a explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki? Agosto! E entre nós brasileiros, foi em agosto que Getúlio se matou, Jânio renunciou e, daqui a dois dias, sinto dizer, morrerá outro ex-Presidente, num acidente de carro. Mas nada disso existe para os torcedores do Internacional, eufóricos hoje, após a vitória (2 x 0) sobre o maior rival, o Grêmio, que garantiu o octacampeonato, oitavo título seguido no Campeonato Gaúcho. Mas quem ficará eternamente entronizado na história do clube será o próprio ano, falo dos doze meses, queridos leitores e leitoras de 1976. Revelo a vocês que ainda nesta temporada veremos o Inter ser bicampeão brasileiro, numa jornada brilhante em que se dará, em jogo contra o Atlético Mineiro, um dos mais belos gols de todos os tempos do futebol brasileiro. Um ano abençoado. Ou melhor, ‘colorado’! Tem momentos na vida que, aprendemos com o tempo, tudo dá certo. Mesmo em agosto.
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No próximo século, a rivalidade entre Internacional e Grêmio já estará tão aguçada que haverá quem defenda ser este o maior clássico do país, e não os badalados Fla x Flu e Palmeiras x Corinthians. Hoje estou linguarudo e vou entregar muitos ‘spoilers’ do futuro: até 2022, de ‘quando’ venho, já serão 437 Grenais, com 160 vitórias do Inter, 139 do Grêmio e 138 empates. Nem sempre foi assim. A vantagem de vitórias, alcançada a partir de 1945 (antes era o Grêmio o maior vencedor), deve-se principalmente às campanhas do ‘Rolo Compressor’ (1940 – 1948) e desta atual escalada de 8 títulos iniciada em 1969, não por acaso ano da abertura do estádio Beira-Rio (após 10 anos de obras). O clube colorado fechará o ano com 18 vitórias em 40 confrontos, 18 empates e apenas 4 derrotas para o rival – tendo alcançado também sua maior série de invencibilidade no clássico: 17 partidas (de 17 de outubro de 1971 a 13 de julho de 1975). Mas antes que os gremistas abandonem a leitura desta resenha, vou logo avisando: a farra acaba aqui. Ano que vem vai dar Grêmio com a taça. Não em agosto. Mas em setembro, aguardem…
É importante lembrar, aliás, que ao dar início a esta sequência de conquistas, o Inter interrompeu justamente um feito igual dos gremistas, que viviam então a euforia do heptacampeonato (de 1962 a 1968). E olhando para o futuro: até 2022, testemunharemos um hexa pra cada lado, um do Inter, em 2016, e um pro Grêmio, em 1990. Títulos do Gauchão também registrarão números próximos: 45 triunfos para o time do Beira-Rio e 41 para os tricolores. Apesar do equilíbrio, ou por causa dele, os gaúchos acreditam em outra crença, o efeito ‘gangorra’: sempre que um time está bem, o outro vai mal; e vice-versa, claro. A propósito, em 2022, o Inter figurará entre os primeiros do Brasileirão. O Grêmio? Xiii… Sinto informar que na Segunda Divisão.
Duas exceções à tal ‘gangorra‘ vão acontecer em 2007 e 2011, quando, anotem, ambos os clubes se classificarão para disputar a Libertadores da América, sem se esbarrar na maior competição do Continente. Mas atenção: em 2020 esse temido embate acontecerá, estremecendo o Rio Grande do Sul com as duas agremiações no mesmo grupo da ‘Liberta’. Dois jogos: um 0 x 0; e uma vitória magra, por um gol. De quem? Façam suas apostas… (‘Nota da Redação da Placar em 2022: Grenal nº 427, vitória do Grêmio por 1 x 0, em 23 de setembro de 2020’)
A expressão ‘Grenal’ é usada desde 1926, quando o jornalista Ivo dos Santos Martins (torcedor do Grêmio), sujeito preguiçoso mas criativo, fez a junção das sílabas tônicas de cada nome. Isso desde o 10 x 0 aplicados pelo tricolor no primeiro embate, em 18 de julho de 1909 (em 2022 ainda será a maior goleada do confronto). A verdade é que, pelos próximos 46 anos (quase meio século), ambos os clubes se alternarão sim, mas em conquistas de porte, nacionais e internacionais, vindo a ser inclusive, os dois, campeões do mundo. É esse equilíbrio acirrado que faz (e fará) torcedores evitarem vestir roupas com as cores do rival e ser este o único clássico do País a usar a ordem numérica para se referir a cada confronto, tipo ‘o Grenal nº 227’, disputado ontem. E um dia fará a Coca-Cola se ver obrigada a abandonar, ao menos no Estádio Olímpico e em futuro patrocínios no uniforme do Grêmio, a tradicional cor vermelha – do rival.
Jogos entre Inter e Grêmio são sempre emocionantes e cercados de jogadores eternos, como Falcão, Dario (autor de um golaço ontem), Figueroa, Marinho Perez, Neca, Ortiz, Bolívar, Beto Fuscão… Ou o zagueiro Ancheta, que no próximo século vai surpreender a todos ao provar ser bom com a bola nos pés e também com um microfone na mão. Podem me cobrar: em 2022, queridos leitores e leitoras de 1976, este mesmo jogador que arrepia na zaga gremista vai provocar arrepios ao participar de um futuro programa de TV para cantores amadores, o ‘The Voice’. É sério.
Não quero estragar a festa de ninguém, mas antes de terminar preciso dizer que, até 2022, a incrível série de oito triunfos estaduais seguidos do Inter não será mais a maior entre os clubes brasileiros. Aliás, já não é. Peguem caneta Bic e papel:
– No Rio Grande do Norte, o ABC, pouco falam sobre isso, já detém façanha maior, pois foi campeão potiguar de 1932 até 1941, 10 vezes em sequência;
– Em Minas, este é mais citado na mídia, foram também 10 gritos de campeão seguidos entoados pelo América, entre 1916 e 1925.
– E em Santa Catarina, o Joinville vai igualar a marca colorada, levantando o caneco oito vezes, a primeira delas, daqui a dois anos, em 1978;
Outra curiosidade estatística é que em 2022 já serão cinco times, além do Grêmio, a poder se vangloriar de ter 7 conquistas seguidas em seus Estados: Remo-PA (entre 1913 e 1919); Moto Club-MA (1944 a 1950); Fluminense-RJ (1946 a 1952); River-PI (1950 a 1956); e, este ainda está por vir, o Bahia-BA, que engrenará a respeitável sequência entre (1973 a 1979).
Mas claro que, pela relevância e carisma do clássico gaúcho, é marcante e fascinante que o Inter tenha conseguido a proeza do ‘octa’. Antes que os gremistas me ataquem, registro aqui que o Grêmio tem em seu histórico os emblemáticos ‘12 campeonatos em 13 anos’, a partir de 1956, mas com a sequência fatiada (ou interrompida) em 1961, com o título do… Inter. A final derradeira (desculpem a redundância) se deu não em agosto, mas perto, em julho de 1968, dia 18.
É sempre assim, uma batalha interminável de argumentos e medições de triunfos entre as duas maiores torcidas do Rio Grande do Sul. O clássico dos pampas é um confronto que, certamente, parodiando Nelson Rodrigues, também deve ter começado 45 minutos antes do nada. Com um detalhe, como bem definiu um dia o ex-governador do Rio Grande do Sul Ildo Meneghetti: “Grenal é Grenal”. Até em agosto!
FICHA TÉCNICA
INTERNACIONAL 2 x 0 GRÊMIO
Competição: Campeonato Gaúcho de 1976 (final)
Data: 20 de agosto de 1976
Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre
Renda: Cr$ 1.335.850,00
Juiz: Agomar Martins Röhrig
Auxiliares: Justimiano Almeida Gularte e Hermínio Goulart
INTERNACIONAL: Manga; Claudio Duarte, Figueroa, Marinho Perez e Vacaria; Caçapava, Falcão e Jair (Escurinho); Valdomiro, Dario (Batista) e Lula
Técnico: Rubens Minelli
GRÊMIO: Cejas; Eurico, Ancheta, Beto Fuscão (Tadeu Vieira) e Lê; Bolívar, Jerônimo (Victor Hugo), Alexandre Bueno e Neca; Zequinha, Yura e Ortiz
Técnico: Paulo Lumumba
Gols: Segundo Tempo: Lula, aos 14’; Dario, aos 20’
Cartões Amarelos: Marinho Perez, Caçapava, Falcão e Escurinho (Inter); Alexandre Bueno e Outiz (Grêmio)
Cartões Vermelhos: Bolívar (Grêmio)
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