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O Comentarista do Futuro ícone blog O Comentarista do Futuro Ele volta no tempo para dar aos torcedores (alerta de!) spoilers do que ainda vai acontecer

O gol mil da seleção a gente esquece

Cronista viaja 50 anos, até 1973, e vê Leivinha, atacante do Palmeiras, marcar o milésimo gol do Brasil na história. Mas quem marcou o número 2.000?

Miguel Pereira (RJ) e Pedra Azul (ES) são algumas das cidades brasileiras que se vangloriam e fazem folhetos turísticos se proclamando como o “terceiro melhor cima do mundo”. No Futebol não é diferente: são muitas as divergências e disputas por marcos, méritos e façanhas do esporte. Até mesmo o gol de Leivinha, ontem, o quarto na vitória (5 x 0) da Seleção Brasileira sobre a Bolívia, declarado como o n° 1.000 da história do Escrete Canarinho, suscitará polêmicas. Haverá quem prefira apontar, ou melhor, entenda que o certo seria apontar o tento assinalado por Gerson – o terceiro no 4 x 0 sobre o Uruguai, pela Copa Rio Branco –, em 12 de junho de 1968. Informo a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1973, que sou um Viajante do Tempo, vindo de 2023, creiam, e por isso posso garantir que, daqui a 50 anos, o feito do atacante do Palmeiras será quase unanimidade entre os pesquisadores. Uma espécie de “Miguel Pereira do milésimo gol do Brasil”. Ou Mendes (RJ), vai saber…

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Quis o destino que a vítima dessa marca histórica fosse justo a Bolívia, país que é e sempre será um personagem contumaz de fatos relevantes da nossa Seleção. Dentro de cinco anos, anotem, será vítima de um 8 x 0 que, daqui a meio século, permanecerá como a maior goleada já aplicada pelo Brasil em Eliminatórias de Copa do Mundo. Por outro lado, daqui a 10, em 1983, se tornará responsável pela nossa primeira derrota na história da mesma competição classificatória. E daqui a 50 anos, em 2023, de “quando” vim, o antagonista na estreia, com vitória brasileira (5 x 1), de um novo e jovem treinador à frente do Escrete Nacional (Nota da redação da Placar em 2023: Fernando Diniz). E que não venha nenhum outro país querer reivindicar esta posição e este orgulho boliviano, dando
uma de Santa Maria Madalena (RJ) na jogada.

É mesmo danado este João Campos Leiva Filho, o Leivinha, que chegou à Portuguesa de Desportos em 1968 (junto com Marinho Perez e Zé Maria, outros que, garanto, estarão ano que vem na Copa da Alemanha), e transferiu-se, já no ano seguinte, para o Palmeiras, onde já foi bicampeão Brasileiro (ano passado e em fevereiro último) e conquistou um Campeonato Paulista (1972), triunfo que repetirá ano que vem. Seu talento para cabecear é tamanho que, há dois anos, na final do Paulistão de 71, contra o São Paulo F. C., teve um gol de cabeça legítimo anulado pelo juiz Armando Marques (o mesmo de ontem) por motivo curioso: a cabeçada foi tão forte que Amando achou que ele tinha dado um soco na bola… Uma contusão na primeira fase do Mundial e preferências táticas do Zagallo ofuscarão sua performance na Seleção, mas Leivinha ainda vai brilhar no Atlético de Madrid, onde será bicampeão espanhol (76/77) e da Copa do Rey (75/76), encerrando a carreira no tricolor Paulista (sim, palmeirenses, ele vai pro rival…). E terá eternamente, por mais que alguns venham a questionar o fato, a honra de ter estufado as redes pela milésima vez em se tratando de Seleção Brasileira. Um artilheiro nato, que sempre comentará assim o gol eterno: “Não fiz mil gols na carreira, mas fiz o gol número mil”. E também o número 1.001, pois 11 minutos depois ele marcou outro!

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Saibam ainda que nunca terei, nos próximos 50 anos, qualquer notícia sobre alguma placa, ou algo do tipo, que registre o feito, talvez, quem sabe, por essas celeumas que cercam os marcos históricos do Futebol. Vejam por exemplo o caso do gol nº 1 da Seleção. Historiadores vão discutir se o epíteto de “artilheiro nº 1 do Brasil’’ deverá ser dado a Oswaldo Gomes, do Fluminense – que marcou aos 15’ da primeira partida do selecionado nacional, em 21 de julho de 1914, nos 2 x 0 sobre o Exeter City, time da Série C inglesa –, a Rubens Sales, do Paulistano (SP) – aos 13’ do Brasil 1 x 0 Argentina pela Copa Roca do mesmo ano, em 27 de setembro, em Buenos Aires (nosso primeiro título) –, ou ainda a Sílvio Lagreca, do São Bento (SP), que em 3 de outubro de 1917, marcou na derrota (2 x 4) para a Argentina, pelo Campeonato Sul-Americano. Aí vocês podem me perguntar: se venho mesmo do futuro, quem será o autor do gol nº 2.000 da Seleção? Sei lá… Ninguém vai dar muita bola pra isso.

PARA VER O GOL Nº 1000 DA SELEÇÃO BRASILEIRA

PARA VER O GOL DE GERSON, EM 1968

FICHA TÉCNICA

BRASIL 5 x 0 BOLÍVIA
Competição: amistoso (oficial)
Data: 27 de maio de 1973
Estádio: Mário Filho (Maracanã)
Local: Rio de Janeiro (Brasil)
Público: 55.711 pagantes
Árbitro: Armando Marques (BRA)

BRASIL: Leão; Zé Maria, Chiquinho Pastor, Wilson Piazza (capitão) e Marco Antônio; Clodoaldo, Rivelino e Paulo César Caju; Valdomiro, Leivinha (Palhinha) e Edu
Técnico: Zagallo

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Bolívia: Griseldo Cobo (Jiménez); Hernán Cayo (Oliveira), Miguel Antelo, Guery Ágreda e Félix Chávez (Iriondo); Hugo Pérez, Fredy Vargas, Juan José Jiménez e Nicolás Linares; Ovidio Messa (Sánchez) e Juan Carlos Fernández
Técnico: Freddy Valda

Gols: Primeiro Tempo: Rivellino, aos 6’ e aos 14’; Valdomiro, aos 20’; Segundo Tempo: Valdomiro, aos 10’; e Leivinha, aos 21’

Cartões Amarelos: Hugo Pérez, Félix Chávez, Guery Ágreda e Rivellino

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