A última finalíssima do Brasileirão
Mal rolou a primeira rodada e cronista quis matar a saudade das ‘finais’, indo a 2002: Santos x Corinthians; no ano seguinte, a ‘Era dos Pontos Corridos’
Vinte anos podem mudar muita coisa no Futebol – assim como na vida da gente –, posso garantir a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 2002. Saibam que, em 2023 – de ‘quando’ vim, usando uma Máquina do Tempo, creiam-me –, ‘Pedalada’, por exemplo, não será mais uma palavra imediatamente associada ao novo “neguinho” bom de bola do Santos (essa última, grafada entre aspas, sequer usaremos mais!).
Daqui a 21 anos a expressão “dar pedaladas” nos remeterá a jogadas (ou criações) políticas para derrubar “Presidentas” (assim mesmo, com ‘a’ no final, outra novidade do porvir). A tal ‘promessa de craque’, Robinho, estrela do Santos nos 3 x 2 sobre o Corinthians que ontem mandou para a Vila Belmiro a taça do Brasileirão de 2002, também estará praticamente alijada do ‘futebolês’, no seu caso por atitude que terá fora dos gramados e que, digamos, “não vai dar pedal!”. Viajei ao passado para testemunhar esta partida ‘in loco’, no Morumbi, por tratar-se – como muitos de vocês já sabem e/ou acreditam – da última finalíssima de uma edição do Campeonato Brasileiro. Sim, ano que vem teremos mesmo a adoção do chamado ‘Sistema de Pontos Corridos’, e assim permaneceremos, ao menos até 2023.
Pra que tenham uma ideia do que muda substancialmente com a troca, revelo a todos os dois times que farão a partida ‘decisiva’ ano que vem, pela última rodada, cumprindo tabela: Cruzeiro x Payssandu. Hoje, assim como em 2023, “meias-palavras’ bastam!
Com todo o respeito (e admiração) ao ‘Papão da Curuzu’ (pra quem não sabe, o apelido do clube de Belém do Pará), não podemos deixar de reconhecer que um Cruzeiro x Payssandu em que só o primeiro time está na luta pelo título jamais poderá ter a mesma carga de emoção de uma ‘finalíssima’, uma disputa de Taça entre duas equipes, mesmo que em 2 jogos, e ainda mais reunindo rivais como Santos e Corinthians, havendo duas viradas (uma pra cada lado, claro) no segundo e derradeiro confronto, o de ontem: Santos 1 x 0; Corinthians 2 x 1; Santos 3 x 2. E bota ‘ainda mais’ nisso quando em campo assistimos a jogadas antológicas como as 8 (oito!) ‘pedaladas’ do atacante (vocês sabem de quem estou falando…) santista sobre o zagueiro corintiano Rogério. Sim, as ‘finais’ deixarão saudade…
Foram duas vitórias do Peixe, não restando dúvidas sobre a superioridade e o mérito desta jovem equipe alvinegra. ‘Peixinhos’ ensaboados… A conquista encerra os 18 anos de jejum de títulos importantes pelo eterno clube de Pelé. O último fora arrebatado no estadual de 1984 (coincidentemente sobre o mesmo rival do Parque São Jorge). Competições estaduais, por sinal, serão, nos anos 2010 e 2020, a prova de que a transformação do modelo de disputa para o ‘Sistema de Pontos Corridos’ não é, como teóricos das Mesas Redondas nos fazem supor, a evolução natural e obrigatória do desporto. Torneios como os campeonatos Carioca e Paulista adotarão ou manterão formatos híbridos, com pontos corridos classificando para semifinais, por exemplo. No Brasileirão, as ‘finais’ seguirão deixando saudade…
Daqui a duas décadas alguns campeonatos do Primeiro Mundo, a Liga Europa, por exemplo, seguirão com ‘mata-matas’ – a Premier League não! Teremos também emocionantes finalíssimas na Libertadores, na Copa do Mundo… Mas no Brasileiro, a maior competição de futebol do País, deu-se ontem a última Final, com caixa-alta mesmo! Qual o melhor sistema? Qual o mais justo? Qual o que aumenta as diferenças entre clubes mais ricos ou pobres?
Sempre haverá argumentos prós e contras nas mesas redondas, do rádio e da TV, e nas quadradas, dos botequins. Mas em um ponto todos concordaremos: coisa chata é que todas as estatísticas do torneio ganharão um elenco de asteriscos, do tipo “*Clube com mais títulos na Era dos Pontos Corridos”; ou “*Artilheiro com mais gols de cabeça na Era dos Pontos Corridos”. Ô, que chatice será! Pensando nesse aspecto, seja qual for o sistema… Ponto pro ‘mata-mata’!
PARA VER LANCES E GOLS DO JOGO
https://www.youtube.com/watch?v=E94Hlm_sp1g
FICHA TÉCNICA
CORINTHIANS 2 x 3 SANTOS
Competição: Campeonato Brasileiro de 2002 (2º jogo da Final)
Data: 15 de dezembro de 2002 (domingo)
Estádio: Morumbi
Local: São Paulo (SP)
Horário: 17h (Brasília)
Público: 74.586 pagantes
Renda: R$ 1.152.809,00 (Reais)
Árbitro: Carlos Eugênio Simonsen (FIFA-RES)
CORINTHIANS: Doni; Rogério, Anderson, Fábio Luciano e Kléber; Vampeta, Fabinho (Fabrício) e Renato (Marcinho); Gil, Deivid e Guilherme (Leandro)
Técnico: Carlos Alberto Parreira
SANTOS: Fábio Costa; Maurinho, André Luís, Alex e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego (Robert, depois Michel); Robinho e William (Alexandre)
Técnico: Emerson Leão
Gols: Primeiro Tempo: Robinho (pênalti), aos 37’; Segundo Tempo: Deivid, aos 30’;Anderson, aos 39’; Elano, aos 43’; e Léo, aos 47’
Cartões amarelos: Fabinho, Fábio Luciano e Fabrício (Corinthians); Maurinho, Fábio Costa e Léo (Santos)