Achou o time? Como o 3-5-2 de Luxemburgo superou um Galo desmontado
Em inversão de papéis em relação ao jogo de ida, Corinthians foi bem superior ao Atlético em Itaquera e avançou às quartas da Copa do Brasil
Nem pareciam os mesmos times de duas semanas atrás, quando o Atlético Mineiro massacrou o Corinthians no Mineirão e poderia ter saído com uma vitória bem maior que os 2 a 0. O jogo de volta na Neo Química Arena teve os papéis trocados e, mesmo não tendo sido um atropelo tão grande como o de BH, quando o Galo teve 75% de posse e deu 21 finalizações contra três do rival, teve claro domínio do Timão, que poderia ter garantido a classificação para as quartas de final da Copa do Brasil já no tempo normal.
Claro, na verdade não eram os mesmos times. Os dois treinadores tomaram decisões surpreendentes e fundamentais para o que foi a história do jogo. No Atlético, Eduardo Coudet resolveu poupar nada menos que cinco titulares: Jemerson, Rubens, Battaglia, Hyoran e o capitão Hulk deram lugar a Lemos, Patrick, Otávio, Igor Gomes e Vargas. Desmontado, o time perdeu muita qualidade e ritmo, além de ter tido atuações individuais péssimas de quase todos que entraram. E no Corinthians, Vanderlei Luxemburgo estreou um sistema com três zagueiros que resolveu muitos dos problemas do jogo de ida.
A começar pela saída de bola. No Mineirão, o Corinthians abusou de chutões para frente a qualquer mínimo sinal de pressão do Galo e mal passou do meio-campo, completando só 65% dos passes. Em Itaquera, o fato de iniciar a jogada com três zagueiros e ter dois volantes posicionados logo à frente abriu naturalmente mais linhas de passe em comparação com o engessado 4-4-2 da ida. Contra um Galo que marcou de forma bastante passiva e em inferioridade numérica, com apenas dois atacantes tentando pressionar os três defensores corintianos, o Timão teve poucos problemas para progredir com a bola no chão, mesmo sem ter zagueiros especialistas no passe. Murillo se destacou nesse aspecto com boas ações com a perna esquerda.
Outro ponto em que o Galo não conseguiu encaixar a marcação foi nas alas, especialmente contra Fagner. Se pela direita Pavón voltava com Matheus Bidu, deixando Mariano livre para lidar com Róger Guedes, do outro lado havia uma indefinição sobre quem deveria marcar o camisa 23 corintiano: Igor Gomes (meia) ficava mais centralizado, e Patrick (lateral-esquerdo), muito recuado. Nenhum deles colava em Fagner. O resultado foi que o ala recebeu com liberdade muitas vezes, com tempo e espaço para pensar a jogada antes de a marcação chegar. Patrick esteve muito mal, atrasado no combate, cedendo espaços às suas costas, e foi um dos quatro substituídos já no intervalo.
Outra melhoria óbvia para o Timão foi a simples presença de Renato Augusto em campo. Mesmo longe das melhores condições físicas, o camisa 8 dá outra dimensão ao jogo com bola do time, não só pela técnica e visão de jogo, mas pela inteligência para se movimentar. Na teoria o meia centralizado por trás dos atacantes, Renato constantemente saiu da zona de marcação de Otávio, o volante do Galo, para buscar espaços vazios para receber a bola. Recuou, caiu para os lados, ajudou na circulação e deu passes decisivos, como a assistência para o gol de Bidu e o lançamento em que Yuri Alberto fez quase tudo certo, desde a movimentação até o controle da bola, mas pecou ao finalizar. Otávio, voltando de lesão e sem ritmo, não conseguiu brecar Renato e ainda errou um passe simples na origem do primeiro gol. Battaglia, que entrou no intervalo, também sofreu com a movimentação inteligente do maestro corintiano.
Falando em Yuri Alberto, o centroavante segue sua seca de gols – até o pênalti ele perdeu –, mas as atuações têm melhorado. Ele levou vantagem sobre Lemos o jogo todo, conseguindo até ganhar várias jogadas de pivô, algo que não é seu forte. Também se movimentou muito bem nas costas do zagueiro do Galo, que, aliás, foi outra aposta de Coudet que teve uma atuação individual terrível. E liderou muito bem como sempre a pressão do Corinthians, que nesse jogo foi um pouco mais organizada e forçou o Atlético a inúmeros chutões sem direção, principalmente no primeiro tempo.
É claro que nem todos os problemas do Corinthians se resolveram magicamente da noite para o dia. O time ainda não tem padrões claros para atacar, recorre muito aos cruzamentos, não consegue acionar Yuri com frequência em situações favoráveis ao centroavante e depende muito de lampejos individuais – Róger Guedes construiu o segundo gol sozinho em jogada espetacular. Mas Luxemburgo parece ter achado, ao menos, a formação para seguir adiante: os três zagueiros facilitam a saída de bola, os alas atacam sem medo de deixar a defesa desguarnecida e Renato Augusto pode se aproximar da dupla de ataque sem desestruturar o meio-campo. Perto da completa ausência de ideias que o time vinha apresentando até então, foi uma grande melhora.