A nova categoria estreia neste sábado, com GP na China, e pretende ajudar a popularizar a tecnologia verde pelo mundo. No Brasil, o caminho vai ser longo
A temporada da Fórmula E, o Mundial de carros elétricos chancelado pela FIA terá início neste sábado, em Pequim, na China. O campeonato reeditará uma rivalidade histórica do automobilismo (Bruno Senna, Nelsinho Piquet e Nicolas Prost estarão entre os concorrentes) e tem como principal objetivo desenvolver a tecnologia sustentável e, com isso, alavancar as vendas de carros movidos exclusivamente a bateria. A revolução do carro elétrico é há muito vista como uma das chaves para um futuro sustentável. Na prática, no entanto, o veículo elétrico ainda não pegou no mundo – e muito menos no Brasil. A Fórmula E chega com a pretensão de ajudar a revolucionar essa indústria e a mudar a percepção das pessoas em relação aos carros “verdes”. E tudo começa na madrugada deste sábado. Os treinos livres em Pequim começam à 1 hora (de Brasília), e a corrida terá início às 4h30, com transmissão do canal pago Fox Sports.
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Com o lema “o futuro é elétrico”, a FIA pretende usar a Fórmula E como um importante laboratório para o desenvolvimento dessa tecnologia. Segundo as projeções da entidade – que parecem incrivelmente ambiciosas, diga-se – serão vendidos cerca de 77 milhões de carros elétricos no mundo em cinco anos e quatro bilhões de barris de gasolina serão economizados na próxima década, graças ao incentivo que a categoria pretende oferecer a esse mercado. A principal inovação do momento é o dispositivo Halo, criado pela empresa americana Qualcomm. Dentro de alguns anos, ele poderá solucionar um dos entraves à aceitação dos veículos elétricos: a dificuldade de carregá-los.
O sistema Halo recarrega as baterias do carro elétrico sem a necessidade de fios, usando a indução eletromagnética. Ele funciona com um simples transmissor, que envia a energia wireless a um dispositivo semelhante, localizado na parte de baixo do carro. Atualmente, os carros elétricos só podem ser carregados em uma tomada especial, mas quando a tecnologia sem fio estiver no mercado – o que, segundo a Qualcomm, deve acontecer dentro de alguns anos – bastará estacionar o carro sobre o transmissor e esperar até que a bateria seja carregada. A intenção da empresa é instalar os carregadores nas ruas, o que demandaria investimentos dos governos, além de comercializar versões, a preço ainda não estabelecido, que seriam instaladas nas garagens de cada usuário.
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Incentivo – O Qualcomm Halo não será utilizado pelos pilotos no primeiro ano da Fórmula E, pois o sistema ainda precisa ser aperfeiçoado. Apenas o safety car – um modelo BMW i8 híbrido – utilizará o carregador sem fio já em 2014 e, a partir da próxima temporada, os monopostos de corrida também devem ser carregados dessa maneira. Outro trunfo do carro elétrico é o sistema Kers, que reaproveita a energia das freadas para recarregar a bateria.
De acordo com o brasileiro Lucas Di Grassi, piloto da Audi na Fórmula E, a categoria mudará o conceito das pessoas e incentivará o mercado. “Muita gente ainda pensa que o carro elétrico é lento, com baixa autonomia, mas hoje em dia os carros elétricos já estão tão rápidos e eficientes quanto os carros de combustão. Sem dúvidas, este é o futuro da mobilidade urbana mundial”, afirma o piloto paulistano de 30 anos.
O piloto brasileiro, que mora em Mônaco, já teve carros híbridos e elétricos de uso pessoal e acredita que, em até trinta anos, os modelos sustentáveis serão maioria em diversos países, inclusive no Brasil. Apesar do otimismo, Di Grassi aponta alguns obstáculos significativos para a aceitação dos carros elétricos. “Os problemas atuais são o preço das baterias e a falta de infraestrutura para carregar o carro, mas os governos também precisam ajudar a indústria. No Brasil, por exemplo, se paga muito caro para importar um carro elétrico. Isso não faz sentido. É preciso dar um benefício a quem ajuda o ambiente.”
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Motor silencioso
Os carros de Fórmula E são bem menos barulhentos que os de outras categorias – além de não emitir gases poluentes. Ao atingir 100 km/h, os carros geram, no máximo, 85 decibéis. “É um barulho natural, que se assemelha ao de um avião a jato. Os fãs mais tradicionais sentirão falta do ronco do motor. Cidades como Miami e Los Angeles, ambas nos EUA, só a Fórmula E pode correr, pois existe um limite de ruído que os carros podem produzir”, conta Di Grassi. No vídeo acima, uma amostra do novo “ronco” do automobilismo.
No Brasil – Até há pouco tempo, carros elétricos como o Nissan Leaf ou o Mitshubishi i-MiEV não podiam ser adquiridos por pessoas físicas por aqui. As vendas desses automóveis no país eram feitas exclusivamente para grandes empresas. No Rio de Janeiro e em São Paulo, as prefeituras espalharam quinze táxis de modelos elétricos da Nissan no fim do ano passado, a fim de testar a tecnologia, que ainda é pouco incentivada pelo governo.
A BMW foi a primeira empresa a entregar carros a pessoas físicas no país. No mês passado, a marca alemã anunciou o início das pré-vendas do BMW i3. De início, foram colocados à venda 130 exemplares, ao preço médio de 200.000 reais. Eles podem ser adquiridos nas revendas da empresa nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Pernambuco, Minas Gerais, Paraná, Bahia e no Distrito Federal.