Um abraço negro: os bastidores da foto histórica de PLACAR
O clique do fotógrafo Alexandre Battibugli, que eternizou a celebração de Diego Souza e Armero em 2009, renasce como protesto contra a estupidez do racismo
Texto publicado originalmente na edição impressa de agosto de 2022
Era 21 de abril de 2009, tempo em que o Palmeiras contava apenas uma Libertadores e o Parque Antártica tinha holofotes amarelados, fraquinhos mesmo. O adversário do Verdão era a LDU, do Equador. O placar: 2 a 0 para os esmeraldinos, com gols de Marcão e Diego Souza. O segundo tento foi de falta, batida da intermediária, numa paulada do atacante. Ao espanto do tirambaço na rede, Diego saiu correndo por trás do gol, lá onde antes havia um escudo do alviverde. Tudo meio na penumbra, muito mal iluminado.
O fotógrafo de PLACAR, Alexandre Battibugli, afeito a estar em cantos insuspeitos, distante dos colegas, pronto para um olhar diferente, não teve dúvida: baixou a velocidade do obturador e começou a fazer as fotos. Percebeu o colombiano Pablo Armero se aproximar do companheiro de clube e, ao feliz abraço por trás, não teve dúvida. “Tinha ali uma fotografia bacana”. lembra.
Não demorou para que a turma da redação se recordasse do samba clássico de Dona Ivone Lara: “Sorriso negro / Um abraço negro / Traz felicidade / Negro sem emprego / Fica sem sossego / E negro é a raiz da liberdade”. O título da do à foto: “Um abraço negro”. O então diretor de PLACAR, Sérgio Xavier Filho, lembra do espanto: “Uau! Isso aqui é o futebol utópico, democrático, multirracial, sem preconceito. Não é, sabemos. Mas a foto é quase a utopia”.
Com ela, Battibugli recebeu o Prêmio Abril de Jornalismo. Hoje, a imagem é celebrada nas redes sociais, em eterno renascimento, dada a força simbólica de um registro na contramão do racismo. Os corpos colados celebram o bom senso, a educação, no avesso da estupidez que ainda hoje — e cada vez mais, talvez — ecoa pelos estádios. Vidas negras importam.