UFC: Aldo dá show, bate Mendes e mantém o título no Rio
Brasileiro resiste a golpes do americano, mostra todo seu repertório e segura o cinturão por decisão unânime dos jurados em luta fantástica no Maracanãzinho
Além dos socos e chutes, também não faltaram a catimba e as provocações – por duas vezes, a luta foi parada com Aldo reclamando por ter sido atingido no olho pelos dedos de Mendes
O brasileiro José Aldo garantiu que o cinturão dos penas (até 66 quilos) permaneceria no Brasil – e ele cumpriu sua promessa em uma luta espetacular contra o americano Chad Mendes, no UFC 179, na madrugada deste domingo. Empurrado por uma torcida entusiasmada que lotou o Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, Aldo sofreu mais do que de costume, mas superou o desafio de sua sétima defesa de cinturão por decisão unânime dos jurados (todos marcaram 49 a 46) após cinco rounds emocionantes, com direito a socos, chutes, catimba, provocação e muito sangue no octógono. Mendes, que esperou dois anos e meio pela oportunidade de revanche, provou que é o segundo melhor do mundo da categoria, mas não foi páreo para o brasileiro, que estava em noite inspirada. Com a vitória, Aldo se manteve como o único lutador brasileiro campeão do UFC na atualidade. Na segunda luta mais importante da noite, o mineiro Glover Teixeira não teve chances diante da luta de chão do americano Phil Davis, que conseguiu sua terceira vitória contra brasileiros no Rio.
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A rivalidade entre Aldo e Mendes foi bastante acirrada nos últimos meses. Na primeira vez em que se encontraram, em janeiro de 2012, também no Rio, Aldo nocauteou Mendes de forma espetacular, com uma joelhada certeira no rosto do americano, ainda no primeiro round. A animosidade entre as academias de Aldo e Mendes (a brasileira Nova União e a americana Alpha Male) também apimentaram o duelo. Mendes tinha a chance de se tornar o segundo atleta da Alpha Male a tirar um cinturão da equipe rival, depois que TJ Dillashaw desbancou Renan Barão na categoria dos galos. No entanto, mais uma vez, Aldo se mostrou indestrutível. Em um primeiro round fantástico, com os dois lutadores dispostos a colocar em prática tudo que haviam prometido na prévia, Aldo e Mendes trocaram vários chutes e socos com muita potência. O americano começou melhor e conseguiu cortar o rosto de Aldo, que perdeu o equilíbrio em um golpe, mas conseguiu se recuperar, com o apoio incondicional das arquibancadas. Nos minutos finais, Aldo acertou uma sequência de socos e conseguiu levar Mendes para o chão. O americano, porém, provou estar bem melhor preparado do que no primeiro duelo e conseguiu se livrar do nocaute com categoria.
Também não faltaram a catimba e as provocações – por duas vezes, a luta foi parada com Aldo reclamando por ter sido atingido no olho pelos dedos de Mendes. A partir do segundo round, Aldo conseguiu ser mais agressivo e controlar melhor a luta, com vários jabs de esquerda certeiros. Um chute alto do brasileiro acertou em cheio o rosto de Mendes que, surpreendentemente, não acusou o golpe. No terceiro round, novamente o lutador manauara esteve perto do nocaute, mas Mendes reagiu com potentes direitas. O americano conseguiu empurrar o brasileiro para a grade e acertou uma boa sequência. A esta altura, os dois já sangravam bastante no rosto. O round seguinte foi bastante equilibrado, com o rosto de Aldo muito machucado, o que dificultava sua visão. Com o cansaço batendo, ambos se descuidaram na guarda e levaram muitos golpes em cheio. No quinto e decisivo round, novamente Aldo conseguiu novamente se livrar da pressão de Mendes e foi mais incisivo nos golpes. Nos instantes finais, o campeão tentou encerrar a noite com um nocaute espetacular, mas seus chutes e joelhadas não foram suficientes para derrubar um heroico Mendes.
Na segunda principal luta da noite, o brasileiro Glover Teixeira e o americano Phil Davis fizeram um duelo bem abaixo do que se esperava. Apoiado pela torcida, Glover até conseguiu assustar o americano com sua mão pesada no primeiro round, mas Davis controlou o combate com uma impecável técnica de wrestling e foi claramente superior. Durante os três rounds, Glover levou uma sequência de socos na cabeça e violentas joelhadas, mas resistiu bravamente. Sem ação na luta de chão, Glover apenas evitou o nocaute e viu o americano conquistar sua terceira vitória em solo brasileiro por decisão unânime da arbitragem (triplo 30 a 27). Apelidado de Mr. Wonderful (“Senhor Maravilhoso”), Davis manteve sua invencibilidade contra brasileiros – em seis lutas, venceu cinco e a outra terminou sem vencedor – mas rejeitou a pecha de matador de brasileiros. Na saída, porém, deixou um convite bastante surpreendente. “Só tem um brasileiro que eu gostaria de enfrentar agora, que é o Anderson Silva”, disse, antes de deixar o octógono sob aplausos. Em seu caminho, porém, o passo natural parece ser uma decisão de cinturão contra o compatriota Jon Jones, que também venceu Glover em sua última luta e encara Daniel Cormier em janeiro de 2015.
Agora, o Brasil terá a chance de conquistar mais um cinturão – este de forma interina – com o peso-pesado gaúcho Fabricio Werdum. Em 15 de novembro, o brasileiro enfrentará o neozelandês Mark Hunt, na Cidade do México. O campeão dos pesados, Cain Velásquez, sofreu nova lesão, desta vez no joelho, e deixou a disputa em aberto. Maior ídolo do MMA no país, Anderson Silva compareceu ao Maracanãzinho nesta noite e foi ovacionado pelo público, que dedicou ao astro o já famoso coro de “o campeão voltou”. Em 31 de dezembro, o ex-campeão dos meio-pesados enfrentará o americano Nick Diaz, em Las Vegas, na luta que marcará seu retorno ao UFC depois da grave lesão na perna que sofreu na revanche contra Chris Weidman, em dezembro de 2013.
Outras lutas – O paulista Fábio Maldonado queria se recuperar da derrota arrasadora que sofreu para o americano de origem croata Stipe Miocic, em São Paulo, na final do TUF 6, em junho, e o fez em grande estilo. De volta à sua categoria original, a dos meio-pesados, Maldonado castigou o holandês Hans Stringer com uma sequência de socos e venceu por nocaute técnico. Ao final da luta, ele recebeu um abraço de Anderson Silva no topo da grade e se emocionou com os aplausos. “Eu achava que lutava mal no Brasil, porque me emociono muito. Mas desta vez quero tomar cerveja e abraçar todos vocês”, disse, sorridente. Nas outras lutas do card principal, os brasileiros não foram bem. Em um duelo que irritou a torcida pela falta de combatividade dos atletas, o americano Darren Elkins venceu Lucas Mineiro por decisão dividida dos jurados. Na luta que abriu o card principal, o amazonense Diego Ferreira iniciou bem o confronto de leves diante do iraniano Beneil Dariush, mas ficou em desvantagem com a luta no chão e foi derrotado por decisão unânime.
Nas seis lutas preliminares, três brasileiros levantaram o público, enquanto outros três foram superados por estrangeiros. Na luta da categoria leve que abriu o evento, o americano Tony Martin conseguiu sua primeira vitória no UFC ao finalizar o carioca Fabrício Morango ainda no primeiro round com uma kimura. O primeiro brasileiro a vencer foi o peso-leve Gilbert “Durinho” Burns. Com seu estilo agressivo, o lutador de 28 anos, natural de Niterói, dominou o americano de origem grega Christos Giagos e venceu com uma chave de braço a três segundos do fim do primeiro round. Aos 28 anos, Durinho está invicto no UFC, com nove vitórias. O carioca peso-leve Yan Cabral também não decepcionou a torcida e venceu o japonês Naoyuki Kotani, por finalização, com um mata-leão no segundo round. Entre os moscas, o mineiro Wilson Reis conseguiu se recuperar de um começo desfavorável e finalizou o americano Scott Jorgensen com um kata-gatame no fim do primeiro round. Em uma luta franca da categoria pena, o americano Andre Fili bateu o paulista Felipe Sertanejo por decisão unânime dos árbitros, com triplo 29-28. Por fim, o carioca William Patolino não conseguiu conter o ímpeto de Neil Magny. O meio-pesado americano acertou uma sequência devastadora de socos em Patolino e venceu por nocaute técnico. Entre uma e outra luta preliminar, houve tempo para manifestações políticas bastante efusivas a poucas horas do segundo turno das eleições presidenciais. A maioria do público no Maracanãzinho gritou o nome do candidato Aécio Neves, do PSDB, e ainda ofendeu, em coro, a presidente Dilma Rousseff, do PT, repetindo o mesmo xingamento ouvido na abertura e na final da Copa do Mundo.