Rebelo mantém posição: ‘Arenas da Copa não são elefantes brancos’
Dez anos depois da escolha das sedes, ex-ministro do Esporte considera um acerto ter erguido estádios em cidades como Cuiabá e Manaus
Ministro do Esporte entre 2011 e 2015, Aldo Rebelo foi um dos principais entusiastas da organização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil e sempre defendeu que a escolha das 12 sedes, tomada em 2009, foi correta. Já naquela época, discutia-se a possibilidade das caríssimas arenas, especialmente as de Cuiabá, Manaus e Brasília, se tornarem “elefantes brancos”, devido à falta de clubes e investimento no futebol local. Uma década depois, apesar de os números evidenciarem o prejuízo causado pela construção ou reforma dos palcos, Rebelo, mantém suas convicções.
“Não me arrependo de nada, de jeito nenhum. Quisemos fazer uma Copa do Mundo em todo o território nacional, não uma Copa do Sudeste. Não participei destas escolhas, mas para mim elas têm lógica e critérios”, afirmou Rebelo, que deixou o PCdoB em 2017 e, atualmente no Solidariedade, não ocupa nenhum cargo público. O ex-ministro celebrou o fato de o Manaus FC ter levado 44.896 torcedores (recorde do estádio) à Arena da Amazônia na final da Série D de 2019, vencida pelo Brusque.
“Foi maior que o público de Vasco x Flamengo. É um pouco surpreendente, porque o Manaus é um time novo, não é um clube tradicional do Amazonas, como o Nacional ou o Fast Club, mas estes campeonatos nacionais instigam o público local”, afirmou Rebelo. O sucesso pontual da equipe criada em 2013, no entanto, foge à regra. Em 2018, apenas uma partida teve mais de 20.000 torcedores nas arquibancadas. Nos outros, não mais que 1.000 torcedores foram à Arena, cujo gasto mensal de manutenção é de 1 milhão de reais.
Por outro lado, na vizinha Belém, que apesar da tradição do estádio Mangueirão foi preterida pela organização da Copa, os rivais Remo e Paysandu tiveram médias de público mais razoáveis em 2018 – 11.276 e 7.376, respectivamente. “Veja, tínhamos de fazer um estádio na Amazônia, poderia ser em Belém ou Manaus. Era uma escolha difícil, pois são duas metrópoles, muito representativas, e não vejo que teria muita diferença”, insiste Rebelo.
O ex-ministro usa a mesma lógica para defender a escolha da Arena Pantanal, em Cuiabá, que durante o Campeonato Mato-Grossense de 2019 teve média de público de irrisórios 373 torcedores no estádio. “O Mato Grosso é o Estado mais representativo da região centro-oeste e queríamos desenvolver o turismo e o esporte na região do Pantanal”.
Rebelo minimiza o prejuízo financeiro causado pelas escolhas do Comitê Organizador Local de 2014. “Não sei quanto custa um Teatro Amazonas, um Teatro Municipal. Tudo tem um custo, a maioria dos teatros do Brasil foi construída e é mantida com dinheiro público. O estádio, que é uma casa de espetáculo do futebol, tem essa mesma natureza. O Pacaembu ou o Maracanã, quando foram construídos há mais de meio século, seguiram esta mesma ideia”, completou.
Por fim, Rebelo rejeitou o termo popular que caracteriza os estádios vazios pelo país. “Se for assim, o Pacaembu, em São Paulo, também virou um elefante branco, assim como Wembley, em Londres, e diversos espaços públicos no país. É uma discussão altamente subjetiva. E é preciso lembrar que estas arenas são multiuso, podem receber diversos eventos”.
Em 2009, o Brasil anunciou Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Manaus e Cuiabá como as 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. As outras concorrentes eram Florianópolis, Goiânia, Campo Grande, Belém e Rio Branco.