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Quem foi Bobby Charlton, o ídolo inglês de Endrick

Admiração do jovem atacante brasileiro pela lenda dos anos 60 causou surpresa e gerou memes; saiba mais sobre a carreira de Charlton, ícone do Manchester United e da seleção inglesa

Trinta e três anos separam a data aposentadoria de Bobby Charlton, em 1973, do nascimento de Endrick, em 2006, o que não impediu que a lenda do futebol inglês se tornasse uma referência para o prodígio brasileiro. Em suas primeiras entrevistas como reforço do Real Madrid, o atacante repetiu frases de admiração por Charlton e também por Ferenc Puskás, ídolo húngaro do clube merengue nos anos 1950 e 1960.

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As inusitadas escolhas de Endrick vem causando repercussão nacional e internacional e uma série de memes nas redes sociais. Mas afinal, quem foi Bobby Charlton e por que Endrick o tem como ídolo?

Gol em Wembley e Piadas nas Redes

Sir Bobby Charlton foi ídolo do Manchester United e da seleção inglesa, e protagonista no único título de Copa do Mundo do país bretão em 1966, em Wembley. Morreu em 21 de outubro de 2023, aos 86 anos, como um dos maiores jogadores de todos os tempos. A primeira vez que Endrick citou o nome de Charlton foi em março de 2024, justamente ao marcar o gol da vitória por 1 a 0 em amistoso contra a Inglaterra, no mítico estádio em Londres.

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“Sou um fã do Bobby Charlton, ele é um cara que jogou bastante aqui nesse estádio. Poder jogar e marcar num estádio onde ele fez bastante gols é muito importante pra mim”, afirmou Endrick.  Na época, diante da surpresa geral, o estafe de Endrick explicou que o jovem conheceu a história do ídolo britânico ao jogar videogame, no modo Ultimate Team do EAFC (antigo Fifa), com algumas das lendas da bola.

A explicação não convenceu a todos e nos últimos dias as redes sociais foram inundadas de piadas sobre as respostas “vintage” de Endrick. Um dos vídeos foi uma montagem na qual o garoto brasileiro aparece “viajando no tempo” e assistindo a gols de Charlton, com transmissões em preto e branco.

Por Que Bobby Charlton Toi Tão Importante?

Bobby Charlton nasceu em Ashington e brilhou na cidade de Manchester. O meia e atacante vestiu a camisa do United em 758 jogos e marcou 249 gols durante 17 anos de clube. O lendário atleta inglês se tornou ídolo de gerações pelos Red Devils, conquistando três vezes o Campeonato Inglês, uma Copa dos Campeões (Champions League) e uma Copa da Inglaterra.

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O ex-jogador tem uma estátua próxima ao Old Trafford, estádio do Manchester United, que também leva seu nome em uma das arquibancadas.

A 'Santíssima Trindade' do Manchester United: George Best, Bobby Charlton e Denis Law, em Old Trafford
A ‘Santíssima Trindade’ do Manchester United: George Best, Bobby Charlton e Denis Law, em Old Trafford

Um fato que chama a atenção na carreira de Charlton está ligado a uma tragédia: ele foi um dos sobreviventes do desastre aéreo de Munique, em 1958. A queda doo avião da equipe matou oito jogadores do United: Geoff Bent, Roger Byrne, Eddie Colman, Mark Jones, David Pegg, Tommy Taylor, Liam Whelan e Duncan Edward. O último era considerado o melhor jogador da época.

A idolatria de Bobby Charlton cresceu de Manchester para toda a Inglaterra em 1966, quando foi protagonista da seleção inglesa ao conquistar o primeiro e, até aqui, único título de Copa do Mundo do país. Após a temporada de sucesso, o atacante também levou a Bola de Ouro como prêmio individual.

Bobby Charlton Nos Arquivos da PLACAR

Bobby ganhou espaço em PLACAR logo em uma das primeiras edições, nº 14, em junho de 1970. Em ‘A vida de Bobby, o gênio’, foi exposta uma análise de como o atacante brilhava nos gramados sob o comando do técnico Alf Ramsey. Mais tarde, na edição 832 de PLACAR, em maio de 1986, ‘o leão calvo de Wembley’ foi destaque com o aniversário de 20 anos do título mundial da Inglaterra.

Confira o texto, abaixo, na íntegra:

Os 20 anos do título mundial inglês foram lembrados na edição 832, com Bobby Charlton como destaque - Reprodução/PLACAR
Os 20 anos do título mundial inglês foram lembrados na edição 832, com Bobby Charlton como destaque – Reprodução/PLACAR

 

O LEÃO CALVO DE WEMBLEY

O serviço meteorológico da Rádio Baviera havia previsto péssimas condições de tempo para o final do inverno de 1958. De fato, o dia 6 de fevereiro amanheceu com o céu carregado. Nevava muito. O avião que levava a delegação do Manchester United de volta para a Inglaterra – o time havia cumprido, no continente, uma partida pela Copa dos Campeões Europeus – começou a rolar pela pista do Aeroporto de Munique. Aquele avião jamais chegaria a seu destino.

A maior tragédia da história do futebol inglês vitimou mais de meio time do Manchester. Os destroços do aparelho espalharam-se pela pista do aeroporto. Na contagem dos mortos, alguns potentados como Robert Byrne, capitão do English Team. Naquele dia, em meio ao horror, Bobby Charlton percebeu que estava vivo e teve a certeza de que o destino lhe reservara algo grandioso.

CARVÃO E CERVEJA – Oito anos depois, na Copa de 1966, na Inglaterra, o mundo aprenderia a respeitar-lhe a inteligência privilegiada e o veneno da perna esquerda. Era loiro, careca e possuía uma incrível cara de bebê chorão. Num Mundial marcado pelo futebol-força, mas que teve, também, os talentos de Eusébio e Beckenbauer, ele foi o gigante. Afinal, quem venceu? O atacante Bobby Charlton estava, então, no auge da carreira, aos 28 anos de idade.

O ano de 1966 marcou a Inglaterra com a consagração dos Beatles e de Bobby. Aí, uma curiosidade: são todos nortistas. Os quatro rapazes que viraram os costumes pelo avesso vinham de Liverpool. A família Charlton, mais conservadora, era de Ashington, no condado de Northumberland.

Naquele pedaço da velha ilha, as minas de carvão garantem o sustento de muita gente. São pessoas duras, com a pele e a alma escurecidas pelo pó negro das galerias subterrâneas, cuja única diversão é a cerveja de fim de tarde no pub mais próximo. Assim era o velho Robert, seu pai. Dependesse dele, Bobby e seu irmão Jackie teriam seguido a mesma trajetória. Os dois, porém, teriam dias de glória no Manchester e na Seleção.

City repudiou cânticos ironizando morte de Bobby Charlton - Divulgação / Manchester City
Bobby Charlton em uma de suas últimas aparições públicas- Divulgação / Manchester City

A influência do pai foi anulada dentro do próprio lar. Se há uma figura marcante na vida de Bobby, é Elisabeth, a mãe. Cissie, como a chamavam em família, era uma típica dona-de-casa inglesa. Bordava, botava o chá na mesa às 5 da tarde em ponto e fazia magníficos guisados de rim de carneiro. A diferença é que ela achava o máximo alguém ser jogador de futebol. Ela costumava contar aos filhos as proezas do primo Jackie Milburn, famoso jogador do Newcastle nos anos 30. Foi Cissie quem incutiu nos filhos a paixão pela bola.
Bobby Charlton sempre foi o cobra do time do colégio.

E, num jogo entre equipes escolares, havia alguém na platéia além da torcida juvenil. Joe Armstrong, olheiro do Manchester, fora assistir à partida atraído pela fama do garoto. Feito o convite, Bobby arrumou a mala e tomou o trem rumo a Manchester.
Os erros formidáveis cometidos por alguns treinadores costumam entrar para a história do futebol. No início dos anos 60, no Parque Antártica, em São Paulo, o então técnico dos juvenis do Palmeiras, Mário Travaglini, não deu a menor atenção para um rapaz de orelhas grandes e dribles curtos chamado Roberto Rivelino. Matt Busby, o todo poderoso treinador do Manchester, também achou que Bobby Charlton não levava jeito para a coisa. Com o tempo, Busby foi mudando de opinião. Mas Bobby só se firmou como titular do time após o desastre de Munique, já que era preciso completar a equipe, que ficara muito desfalcada.

VONTADE MATERNA – Coisas da história. Oito anos depois, em 1966, lá estava o genial Bobby guiando o English Team em direção a sua única Jules Rimet. Exibia habilidade, elegância e um passe de pontualidade britânica. Lançamentos assim deixavam o artilheiro Geoff Hurst na cara do gol adversário e enchiam de felicidade o coração do técnico Alf Ramsey. Sua atuação contra Portugal, na vitória de 2 x 1, pelas semifinais, é considerada notável.

Bobby marcou os dois gols e mereceu um elogio do célebre crítico esportivo inglês Brian Glanville no livro The History of de World Cup. “Perfeito, foi sua melhor partida pela Seleção” escreveu o jornalista. Depois disso, foi campeão do mundo, rei de uma Copa e cavaleiro do Império. Tudo como queria a velha Cissie Charlton, na escura Ashington.

 

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