O cometa Viking: Haaland é a estrela em ascensão do futebol mundial
Com números superiores aos de Messi e Cristiano Ronaldo aos 20 anos, o norueguês está em alta
Tal qual a passagem de cometas em torno da Terra, o surgimento de fenômenos esportivos não ocorre todo dia. Cristiano Ronaldo e Lionel Messi dominaram o futebol nas últimas duas décadas, com cinco e seis Bolas de Ouro conquistadas, respectivamente. Com a notória e até esperada queda de rendimento do português da Juventus (36 anos) e do argentino do Barcelona (33), surgem novos postulantes ao trono — incluindo Neymar, que, aos 29 anos, não tem tempo a perder. Na última semana, dois jovens mostraram suas credenciais na Liga dos Campeões: Kylian Mbappé, de 22 anos, campeão do mundo pela França em 2018, já sobejamente conhecido, marcou três gols pelo PSG em uma bela exibição diante do Barcelona, na vitória por 4 a 1, na Espanha, pela Liga dos Campeões. Um dia depois, também em terras espanholas, brilhou um artilheiro ainda mais jovem: o norueguês Erling Braut Haaland, do Borussia Dortmund, autor de dois tentos contra o Sevilla. O grandalhão de 1,94 metro e 88 quilos, forte e velocíssimo — daí seu apelido, Cometa Haaland —, chegou a incríveis dezoito gols em treze jogos na competição com a qual sempre sonhou. Não à toa, o hino da Champions é o toque de seu despertador. “Muitos jogadores me inspiraram, e Mbappé obviamente é um deles”, afirmou Haaland a VEJA. “Somos parecidos na vontade de marcar gols, e a minha fome nunca é saciada. Se marco uma vez, quero marcar outra.”
Os números impressionam, sobretudo pela precocidade. Com essa idade, CR7 ainda não havia balançado as redes no torneio do qual é o maior artilheiro, com 135 gols — precisou de 54 jogos, 41 a mais que Haaland, para alcançar dezoito. Para vislumbrar aonde Haaland pode chegar, é preciso destacar de onde ele vem. Nasceu em Leeds, na Inglaterra, em 21 de julho de 2000. A vocação esportiva está em seu DNA. O pai, Alf-Inge, jogou por clubes ingleses como Notthingham Forest, Manchester City e Leeds United. A mãe, Gry Marita, foi campeã norueguesa de heptatlo. Erling praticou atletismo, esqui e por pouco não seguiu carreira no handebol. Optou pela nacionalidade dos pais, pois se mudou para a Noruega com apenas 3 anos. Aos 15, estreou pelo modesto Bryne FK. Logo chamou atenção do Molde, um grande do país, pelo qual começou sua ascensão meteórica. “A gente não sabia que ele ia se tornar isso tudo, mas, pelo jeito de finalizar e pelo posicionamento, dava para ver que era especial”, diz o goleiro brasileiro Neydson da Silva, seu ex-colega. Em 2018, assinou com o Red Bull Salzburg, da Áustria. Um ano depois, ganhou as manchetes internacionais ao anotar nove gols pela Noruega contra Honduras no Mundial Sub-20.
Haaland já era uma estrela disputada por gigantes como Manchester United e Juventus, mas tomou uma decisão sábia: preferiu a menos badalada Dortmund, onde teria mais oportunidades. Estreou marcando três gols em vinte minutos, na virada por 5 a 3 sobre o Augsburg. Dono de uma imparável perna canhota, Haaland lembra o auge de Adriano, mas tem a seu favor algo que faltou ao Imperador: o foco na profissão. É viciado em treinos — até mesmo nos dias de folga —, dorme cedo e pratica meditação. Suas comemorações meditando, aliás, geraram rivalidade com Neymar. Em 2020, o brasileiro imitou o gesto na vitória do PSG sobre o Dortmund, o que deixou Haaland enfurecido.
Haaland é um operário da bola. Recorre ao YouTube para copiar movimentos feitos por gênios como Ronaldo Fenômeno e por seu ídolo máximo, o quase desconhecido ex-atacante espanhol Michu. De outro ícone nórdico, o sueco Ibrahimovic, parece se inspirar na marra. Haaland não é chegado em entrevistas e perguntas protocolares. “Feliz”, costuma responder, laconicamente, quando questionado sobre como se sente após um grande jogo. Propostas não param de chegar — seu empresário, o controverso italiano Mino Raiola, negocia com Barcelona, Real Madrid, Chelsea, entre outros, por não menos de 100 milhões de euros. Pelo visto, o Cometa brilhará por muitos anos.
Publicado em VEJA de 3 de março de 2021, edição nº 2727