O presidente da Fifa, Gianni Infantino, se manifestou nesta quarta-feira, 22, sobre o episódio de racismo investigado na partida entre Manthiqueira e Corinthians, pelo Campeonato Paulista sub-12. O caso ocorreu no domingo, 19, durante o segundo tempo do jogo, quando o jogador formado pelo Manthiqueira denunciou ter sido vítima de injúrias raciais ao ser chamado de “preto, sem família e filho da p…”.
O garoto se sentou aos prantos no campo do estádio Dario Rodrigues Leite, em Guarantinguetá, no interior de São Paulo. As ofensas foram registradas em súmula pelo árbitro Guilherme Drbochlaw, que imterrompeu o jogo acionando o protocolo antirracismo.
“Estou enojado por saber que um jogador de 12 anos da Academia Desportiva Manthiqueira sofreu ofensas racistas de uma torcedora durante uma partida do Campeonato Paulista Sub-12 contra o SC Corinthians Paulista em São Paulo, Brasil”, iniciou dizendo Infantino.
“Eu elogio o árbitro por sua ação rápida e decisiva – nós temos uma responsabilidade, especialmente e urgentemente para com as futuras gerações, de erradicar o racismo e a discriminação no nosso jogo”, seguiu dizendo.
“Eu continuarei sendo muito direto a esse respeito: o racismo e a discriminação não são apenas erros – são crimes. Todos os incidentes de racismo, seja nos estádios ou online, devem ser devidamente punidos tanto pelo futebol quanto por toda a sociedade”, completou em outro momento.
Presidente da Fifa se manifesta sobre caso de racismo – Reprodução/Instagram
Segundo a ESPN, a agressora foi identificada: Karen Cristina Liria da Silva, de 41 anos, que teve prisão decretada e foi encaminhada à Cadeia Pública de Lorena. Ela foi liberada no dia seguinte.
A mãe do adolescente, Thaís Matos, escreveu uma carta aberta divulgada pela ESPN em que se diz “movida por uma indignação” pelo episódio. Ela diz que ele já vinha sendo alvo de outros pais durante outras partidas.
“Eu, como mãe, fiquei com meu coração despedaçado, pois jamais teria coragem de xingar qualquer criança dentro ou fora de campo”, conta em um trecho. “Isso foi inaceitável. Não se trata de uma simples ofensa, mas de uma violência que fere a dignidade, destrói a inocência e deixa marcas que o tempo dificilmente apaga”.
A entidade que rege o futebol não anunciou possíveis punições, assim como a FPF.
Procurado por PLACAR, o fundador do clube e atual treinador, Dado de Oliveira, se pronunciou a respeito. O clube terá uma reunião também nesta quarta com o departamento jurídico da Federação Paulista de Futebol (FPF) para avaliar medidas legais.
Confira o relato de Dado de Oliveira à PLACAR:
“Lamentamos profundamente o ocorrido, porque isso não é bom para ninguém. Gostaríamos que não tivesse acontecido, mas, já que ocorreu aqui, todas as providências foram tomadas. Tive todos os cuidados necessários e orientei toda a equipe para que não haja nenhum tipo de julgamento de nossa parte. Precisamos fazer a nossa parte. O Manthiqueira é um time simples, muito humilde, que enfrenta todas as dificuldades de um clube pequeno. Temos nossos problemas, mas também coragem para levantar uma bandeira quando é preciso.
O árbitro tomou a atitude correta, assim como o nosso treinador. O atleta foi corajoso — já vinha sofrendo esse tipo de situação em outros jogos —, e a mãe dele também agiu com firmeza. As pessoas foram à delegacia, e, no dia seguinte, a mulher foi liberada, porque a audiência de custódia serve exatamente para avaliar se deve ou não haver prisão. A partir daí, não cabe a nós nenhum julgamento. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Depois, o caso ganhou grande repercussão, e agora até o presidente da Fifa se pronunciou.
É algo que lamentamos profundamente, mas, se existe um time que não tem medo e tem coragem para levantar uma bandeira, esse time é o Manthiqueira. Estamos dando total apoio ao menino — falei com ele ontem à noite. Graças a Deus, ele tem uma cabeça muito boa. É um garoto forte, talentoso, e sua mãe também é uma pessoa admirável. Ela preferiu não gravar entrevistas, pois quer preservar a própria imagem e a do filho.
Ela me disse: ‘Enviei a carta, mas não quero me pronunciar. Só quero justiça, porque houve ofensas’. O menino chorou muito no campo, e isso comoveu várias pessoas da comissão técnica. Mas acreditamos que as coisas estão caminhando e que o clube tem o papel de mostrar que é preciso dar um basta a esse tipo de situação. Sabemos que o mundo mudou — há algum tempo, casos assim passavam despercebidos —, mas ainda existem. A gente ouve, percebe, e é muito difícil, no meio de uma torcida com 100 ou 200 pessoas, identificar quem cometeu a ofensa. Neste caso, foi possível, até porque o gandula também ouviu. É assim que as coisas precisam ser conduzidas.
Essas atitudes têm que acabar. Eu mesmo sofri bullying quando criança e passei por momentos muito difíceis. Tive a felicidade de superar, mas a cicatriz fica — ela fecha, mas a marca permanece. Por isso, tudo isso é muito doloroso.
Está prevista uma reunião com a Federação Paulista de Futebol (FPF) e com o departamento jurídico deles para definirmos o que será feito a partir de agora.”