Cristiano Ronaldo: a máquina de fazer gols que desafia os gênios
Próximo de ultrapassar Pelé na quantidade de gols, português consegue competir com Messi graças à sua obsessão com o físico, foco e faro de gol
“Cristiano Ronaldo é um campeão extraordinário, tem valor semelhante ao de Messi, Maradona e Pelé”. A frase é do italiano Gianluigi Buffon, considerado um dos maiores goleiros da história, que levou incríveis nove gols em 11 finalizações do português (a última delas de bicicleta). As comparações entre Cristiano e os maiores de todos os tempos vêm se tornando inevitáveis: cinco vezes eleito o melhor jogador do mundo, o “Mister Champions League“ é uma máquina de fazer gols e seus números já o colocam entre as lendas. O atacante do Real Madrid pode não ter o talento inato dos gênios sul-americanos, mas conseguiu equilibrar a disputa com foco, preparação física…e muito, muito faro de gol.
Cristiano já marcou 649 gols na carreira, jogando por Sporting, Manchester United, Real Madrid e seleção portuguesa. Nos últimos dez anos atuando pelo maior campeão europeu, CR7 manteve média de 1,03 gol por jogo – e, de quebra, ganhou três Ligas dos Campeões. Está agora a 107 gols de alcançar a marca de 756 gols de Pelé em jogos oficiais. E, de acordo com as estimativas e dados de VEJA, deve ultrapassar o brasileiro em 2019, dois anos antes do que Messi, o atleta mais comparado a Rei do Futebol por sua genialidade em campo. Confira, abaixo, às projeções, e como Cristiano chegou a este nível:
Físico x Habilidade
Cristiano Ronaldo é o primeiro jogador a chegar e o último a sair dos treinos, segundo seus colegas, e mantém a rotina de exercícios ao voltar para casa. Também sabe a hora de descansar para evitar sobrecargas. Dorme cedo e tem uma alimentação balanceada que o permite ter apenas 3% de gordura corporal. Nos primeiros anos da carreira, foi um ponta arisco, que criava muitas jogadas (com direito a firulas desnecessárias) mas ainda fazia poucos gols. Viu que não seria o bastante para ser o número 1 e decidiu se especializar: além de cabecear e chutar com perfeição, adquiriu um senso de posicionamento na área inigualável. E não perde a fome nem a concentração em nenhum momento do jogo.
Com essa dedicação e estrutura física privilegiada (tem 16 centímetros de altura a mais que Messi e 13 a mais que Pelé) Cristiano Ronaldo já entrou para o time dos maiores da história e é um retrato da evolução no esporte. De acordo com o doutor Moisés Cohen, chefe do departamento de ortopedia da Unifesp e diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte, Pelé se destacava pelo físico em uma época em que não havia trabalhos específicos e também em tempos em que um jogador com 1,72 m podia se destacar – até mesmo se não tivesse técnica.
“O treinamento físico tem importância muito maior que antigamente. Hoje se utilizam técnicas baseadas em ciência, com dados de fisiologistas, que informam o momento correto de fazer os exercícios. Antes não havia essa ciência e a aplicação errada de treinamentos causava lesão nos atletas.” Cohen também explica que Messi, apesar da genialidade, ainda consegue melhores resultados por causa da força física. “O Messi é muito hábil e associou a isso um treinamento para fortalecimento muscular. Pelé, comparado a um atleta atual, como o Cristiano Ronaldo, fica muito atrás pela constituição física e musculatura, que eram muito diferentes.”
Apesar do bom trabalho físico, o médico não vê uma forma de manterem essa alta média de gols quando envelhecerem. “O esporte de alto rendimento é o oposto de ‘vida saudável’. Os atletas trabalham no limite e com o passar do tempo, após passar por essa sobrecarga, há um desgaste natural, em que os ossos vão perdendo água. Por isso, um jogador de 30 anos pode se lesionar mais facilmente. Cristiano Ronaldo é fora da curva, uma exceção, e por isso seu rendimento caiu pouco nos últimos anos, e pouco se machucou. Mas há uma tendência natural de diminuição de potência e aumento de lesões.”
“Todos vimos o gol que o Cristiano fez ontem (terça). Não só mostrou capacidade técnica, mas também capacidade física. Aos 33 anos, duvido que haja jogadores que tenham essa capacidade. Foi uma demonstração de forma, do grande profissional que é, em um nível muito alto. Vamos ver se, quando Messi tiver 33 anos, ele terá esse nível físico”, declarou o treinador português do Sporting, Jorge Jesus, em entrevista coletiva nesta quarta.
Épocas diferentes
É preciso, no entanto, fazer ressalvas importantes diante das comparações. Pelé jogou entre 1957 e 1977. Seu auge veio antes da existência do cartão amarelo e da possibilidade de substituição. As bolas tinham uma tecnologia menos avançada e os jogadores percorriam, em média, 4 quilômetros por jogo nos anos 1950. Ao final de sua carreira, na década de 1970, esse número subiu para 8,5 quilômetros por jogo, número ainda inferior ao atual: entre 10 a 13 quilômetros.
O brasileiro é de um período em que os jogos oficiais aconteciam em menor número, não existia ainda um campeonato nacional estabelecido e os grandes jogos eram justamente as partidas amistosas que o Santos disputou na Europa, nas quais marcou 446 gols pelo Santos (esses números não foram levados em conta em nosso levantamento).
Maturidade e velocidade do jogo
Cristiano Ronaldo é dois anos mais velho e supera Messi na quantidade de gols oficiais. Seu auge veio após os 26 anos, como é mais comum entre os jogadores. Desde então, manteve marcas superiores às do argentino. Pelé, por sua vez, foi avassalador até os 24 anos, quando começou a ter uma queda em seu rendimento, muitas vezes prejudicado por lesões. Era um período em que os treinamentos eram praticamente amadores, os gramados eram piores e a violência das jogadas em campo era quase uma banalidade.
Cristiano Ronaldo melhorou incrivelmente suas marcas depois que chegou ao Real Madrid, em 2009. No caso de Pelé, seus primeiros anos foram os melhores (campeão mundial aos 17 anos, em 1958, ainda ganhou duas Libertadores e dois Mundiais pelo Santos antes dos 25 anos). Ele usava mais sua explosão se comparado a atletas de seu tempo, mas caiu de rendimento ao se aproximar dos 30 anos – apesar de ter se destacado no tricampeonato mundial da seleção, em 1970. Messi teve seu melhor ano aos 24, mas nunca teve uma temporada ruim desde então.
Messi faz o oposto do que ocorre nos gramados atualmente. Enquanto o jogo fica mais rápido, o argentino ‘corre’, na média, muito menos que outros jogadores. No último clássico contra o Real Madrid, Messi percorreu 8 quilômetros e passou 83% do jogo caminhando. Nesta edição da Liga dos Campeões, o argentino percorre, em média, 6,9 quilômetros por jogo, segundo dados da Uefa. Cristiano Ronaldo, mesmo jogando no ataque e com 33 anos, percorre 9,2 quilômetros por jogo no mesmo torneio.
Projeções para as lendas do século XXI
Cristiano Ronaldo e Messi estão envelhecendo e dificilmente conseguirão manter os número de hoje, mas com ajuda da medicina esportiva não deverão ter quedas bruscas e podem ter carreiras mais duradouras que Pelé, e, assim, ultrapassar o seu número de gols.
Lionel Messi
Em sua carreira, tem média de 0,80 gol por jogo. Dividimos a carreira do jogador por três em três anos. Como a última queda na média foi 0,11 gol/jogo, acreditamos que isso acontecerá nas próximas temporadas, com 61 jogos por ano.
Média de gols e projeção de Messi
Idade | Média de gols |
17-19 | 0,25 por jogo |
20-22 | 0,56 por jogo |
23-25 | 1 por jogo |
26-28 | 0,89 por jogo |
29-31 | 0,89 por jogo* |
32-34 | 0,78 por jogo* |
35-37 | 0,67 por jogo* |
*projeção com estimativa de queda de 0,11 gol/jogo
Cristiano Ronaldo
Também dividimos a carreira de Cristiano Ronaldo por três em três anos, e com o desempenho nos últimos jogos, sua média voltou a subir. Neste ano, tem média de 1,56 gol por jogo e deve bater seu próprio recorde. Próximo dos 34 anos, deve ter uma queda de desempenho. Para os últimos anos de carreira, ela seria inversamente proporcional ao aumento que teve quando chegou ao Real Madrid, que foi de 0,33 gol por jogo (dos 23-25 para os 26-28), com 59 jogos por ano.
Idade | Média de gols |
17-19 | 0,17 por jogo |
20-22 | 0,40 por jogo |
23-25 | 0,68 por jogo |
26-28 | 1,01 por jogo |
29-31 | 0,99 por jogo |
32-34 | 1,03 por jogo* |
35-37 | 0,70 por jogo* |
*projeção com estimativa de queda de 0,33 gol/jogo no último triênio.
Gols e jogos por ano
Pelé
Ano | Jogos oficiais | Gols | Média |
1957 | 40 | 43 | 1,08 |
1958 | 53 | 75 | 1,42 |
1959 | 49 | 63 | 1,29 |
1960 | 42 | 38 | 0,90 |
1961 | 38 | 62 | 1,63 |
1962 | 40 | 54 | 1,35 |
1963 | 44 | 52 | 1,18 |
1964 | 38 | 54 | 1,42 |
1965 | 54 | 72 | 1,33 |
1966 | 28 | 19 | 0,68 |
1967 | 32 | 24 | 0,75 |
1968 | 46 | 34 | 0,74 |
1969 | 47 | 48 | 1,02 |
1970 | 44 | 19 | 0,43 |
1971 | 42 | 8 | 0,19 |
1972 | 37 | 13 | 0,35 |
1973 | 40 | 25 | 0,63 |
1974 | 36 | 16 | 0,44 |
1975 | 9 | 5 | 0,56 |
1976 | 24 | 15 | 0,63 |
1977 | 31 | 17 | 0,55 |
Total | 814 | 756 | 0,93 |
Cristiano Ronaldo
Ano | Jogos | Gols | Média |
2002 | 16 | 5 | 0,29 |
2003 | 36 | 1 | 0,03 |
2004 | 60 | 13 | 0,22 |
2005 | 64 | 15 | 0,23 |
2006 | 60 | 25 | 0,42 |
2007 | 60 | 34 | 0,57 |
2008 | 58 | 35 | 0,60 |
2009 | 49 | 30 | 0,61 |
2010 | 59 | 48 | 0,81 |
2011 | 60 | 60 | 1,00 |
2012 | 71 | 63 | 0,89 |
2013 | 59 | 69 | 1,17 |
2014 | 60 | 61 | 1,02 |
2015 | 57 | 57 | 1,00 |
2016 | 57 | 55 | 0,96 |
2017 | 60 | 53 | 0,88 |
2018 | 16 | 25 | 1,56 |
Total | 902 | 649 | 0,72 |
Messi
Ano | Jogos | Gols | Média |
2004 | 7 | 0 | 0,00 |
2005 | 21 | 3 | 0,14 |
2006 | 33 | 12 | 0,36 |
2007 | 55 | 31 | 0,56 |
2008 | 48 | 22 | 0,46 |
2009 | 64 | 41 | 0,64 |
2010 | 64 | 60 | 0,94 |
2011 | 70 | 59 | 0,84 |
2012 | 69 | 91 | 1,32 |
2013 | 47 | 45 | 0,96 |
2014 | 66 | 58 | 0,88 |
2015 | 61 | 52 | 0,85 |
2016 | 62 | 59 | 0,95 |
2017 | 64 | 54 | 0,84 |
2018 | 20 | 17 | 0,85 |
Total | 751 | 604 | 0,80 |